terça-feira, 20 de setembro de 2016

"Quando vier a primavera" Alberto Caeiro

Quando vier a Primavera, 
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa 



domingo, 18 de setembro de 2016

"Miss Dollar", Machado de Assis




RESUMO: Mendonça, um jovem médico, encontra a cadelinha e ao ver o anúncio resolve devolvê-la à dona. Margarida, viúva ainda moça, é desacreditava do amor, pois seu falecido marido só era interessado em seu dinheiro. Mendonça, que faz amizade com Margarida e com todos da casa, começa a frequentar a residência. Porém, o inevitável acontece: Mendonça se apaixona por Margarida! Uma história muito interessante, uma das mais conhecidas de Machado de Assis. Faz parte do livro Contos Fluminenses.

Adoro este conto de Machado de Assis, para dizer a verdade, sempre fui fã de Machado de Assis. Neste conto em particular Machado de Assis é irônico e logo no início do texto, como, publicado abaixo, o narrador fala acerca da construção da obra, informando ao leitor que seria conveniente a apresentação da personagem Miss Dollar, mas que não o faria, pois encheria a obra de subterfúgios, desviando o leitor do principal da história. Contudo, é justamente isso que o narrador faz, mesmo não apresentando a personagem Miss Dollar, ele escreve de tal forma que o leitor divaga sobre diversas possibilidades de personalidades para Miss Dollar.
Pra quem ainda não conhece, vale a pena conhecer e pra quem já conhece vale a pena reler...enfim, é obra “Machadiana”...sempre valerá a pena ler.

ASSIM COMEÇA O CONTO .....
MISS DOLLAR
Era conveniente ao romance que o leitor ficasse muito tempo sem saber quem era Miss Dollar. Mas por outro lado, sem a apresentação de Miss Dollar, seria o autor obrigado a longas digressões, que encheriam o papel sem adiantar a ação. Não há hesitação possível: vou apresentar-lhes Miss Dollar.
Se o leitor é rapaz e dado ao gênio melancólico, imagina que Miss Dollar é uma inglesa pálida e delgada, escassa de carnes e de sangue, abrindo à flor do rosto dois grandes olhos azuis e sacudindo ao vento umas longas tranças louras. A moça em questão deve ser vaporosa e ideal como uma criação de Shakespeare; deve ser o contraste do roast-beef britânico, com que se alimenta a liberdade do Reino Unido. Uma tal Miss Dollar deve ter o poeta Tennyson de cor e ler Lamartine no original; se souber o português deve deliciar-se com a leitura dos sonetos de Camões ou os Cantos de Gonçalves Dias. O chá e o leite devem ser a alimentação de semelhante criatura, adicionando-se-lhe alguns confeitos e biscoitos para acudir às urgências do estômago. A sua fala deve ser um murmúrio de harpa eólia; o seu amor um desmaio, a sua vida uma contemplação, a sua morte um suspiro.
A figura é poética, mas não é a da heroína do romance.
Suponhamos que o leitor não é dado a estes devaneios e melancolias; nesse caso imagina uma Miss Dollar totalmente diferente da outra. Desta vez será uma robusta americana, vertendo sangue pelas faces, formas arredondadas, olhos vivos e ardentes, mulher feita, refeita e perfeita. Amiga da boa mesa e do bom copo, esta Miss Dollar preferirá um quarto de carneiro a uma página de Longfellow, coisa naturalíssima quando o estômago reclama, e nunca chegará a compreender a poesia do pôr-do-sol. Será uma boa mãe de família segundo a doutrina de alguns padres-mestres da civilização, isto é, fecunda e ignorante.

Já não será do mesmo sentir o leitor que tiver passado a segunda mocidade e vir diante de si uma velhice sem recurso. Para esse, a Miss Dollar verdadeiramente digna de ser contada em algumas páginas, seria uma boa inglesa de cinquenta anos, dotada com algumas mil libras esterlinas, e que, aportando ao Brasil em procura de assunto para escrever um romance, realizasse um romance verdadeiro, casando com o leitor aludido. Uma tal Miss Dollar seria incompleta se não tivesse óculos verdes e um grande cacho de cabelo grisalho em cada fonte. Luvas de renda branca e chapéu de linho em forma de cuia, seriam a última demão deste magnífico tipo de ultramar.
Mais esperto que os outros, acode um leitor dizendo que a heroína do romance não é nem foi inglesa, mas brasileira dos quatro costados, e que o nome de Miss Dollar quer dizer simplesmente que a rapariga é rica.
A descoberta seria excelente, se fosse exata; infelizmente nem esta nem as outras são exatas. A Miss Dollar do romance não é a menina romântica, nem a mulher robusta, nem a velha literata, nem a brasileira rica. Falha desta vez a proverbial perspicácia dos leitores; Miss Dollar é ....

sábado, 3 de setembro de 2016

FILME Good Bye, Lenin Adeus Lenin



O leitor seja ele literário e/ou fílmico, percebe de forma diferente uma mesma história, já que cada veículo comunicador da história trabalha com signos diferentes. É interessante retratar que a pessoa que lê e assiste um filme passa por dois processos distintos de leitura, onde a ordem altera a sua concepção. A toda a técnica utilizada por cada um dos processos de construção de linguagem e as diferentes formas em que esses signos podem ser percebidos foi que se destinou a inserção de resenhas de filmes neste espaço de leitura. Nossa colaboradora Laiane Barros , estudante do 3º ano do  Ensino Médio, ex aluna da EMEF Profª Marili Dias, nos enviou esta resenha para publicação no Clube da Leitura. (Suse Mendes) Espero que vocês gostem.


F ICHA TÉCNICA
Diretor: Wolf Becker
Ano de lançamento: 25 de Dezembro de 2003
País: Alemanha

Título original: Good Bye, Lenin Adeus Lenin




                    A produção tem uma identidade familiar e divertida, não deixando de lado sua crítica a ambos os sistemas, no socialismo quando não se há liberdade de expressão e, no capitalismo a falsa ideia de liberdade – esta que exige poder aquisitivo-. O longa ainda revela que apesar do entusiasmo com um novo sistema aparentemente melhor, também a desemprego, desumanização e uma serie de negativos associados ao capitalismo.         
         A história em que o filme se desenvolve é sem dúvidas muito bem construída, onde uma mãe ao ver o filho -Lenin- contra o sistema socialista, acaba desenvolvendo problemas de saúde, ficando em coma durante a queda do socialismo. Lenin recebe ordens médicas de que sua mãe não poderia sofrer grandes emoções, o filho então conclui que revelar a verdade sobre o fim de seu amado partido não seria adequado.
          O que o torna o interessante além de toda a história, são os feitos e as artimanhas utilizadas para privar a mãe do atual formato político da Alemanha Oriental, Lenin fica tão envolvido e motivado em sustentar este mundo fictício que cria um jornal com assuntos da antiga Alemanha, tal tarefa se torna mais fácil pelo fato de um amigo de trabalho muito habilidoso com técnicas de vídeo e filmagens, o ajuda na criação das fitas. Logo, Lenin e sua família vivem bilateralmente o “sócio capitalismo”.
          Logo, Adeus, Lenin! É uma produção repleta de momentos importantes na construção do novo formato de regime político, oferecendo uma história totalmente envolvente e com um roteiro riquíssimo. Vale a pena selecionar um dia para embarcar nessa envolvente história. 


 
Laiane Barros, nascida em São Paulo, fevereiro de 1999. Estudou na EMEF Professora Marili Dias , atualmente está cursando o 3º ano do ensino médio na EE José Monteiro Boa Nova.
Quando era aluna na EMEF Professora Marili Dias, participou do Projeto Escola em Movimento, nas oficinas do Clube da Leitura e foi a narradora do Curta Metragem (roteiro adaptado da obra “Venha ver o pôr do sol” de Lygia Fagundes Teles) produzido por alunos e professores. Quando começou no Clube da Leitura, com  apenas 12 anos de idade, depois de ler um dos livros da série Harry Potter, de Joanne Kathleen Rowling comentou o seguinte:
Professora, como esta escritora é encantadora, quando li esta história do Harry Potter, consegui ouvir o “barulhinho do trem andando nos trilhos”.
Deste dia em diante eu já sabia que ela seria uma grande leitora.