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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

RETRATO - CECÍLIA MEIRELES

Eu não tinha este rosto de hoje, Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem  força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil: _ Em que espelho ficou perdida a minha face?

terça-feira, 20 de setembro de 2016

"Quando vier a primavera" Alberto Caeiro

Quando vier a Primavera, 
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa 



quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Mensagem de Natal




Meu amigo, não te esqueças,
Pelo Natal de Jesus,
De cultivar na lembrança
A paz, a verdade e a luz.
Não esqueça a oração
Cheia de fé e de amor,
Por quem passa, sobre a Terra,
Encarcerado na dor.
Vai buscar o pobrezinho
E o triste que nada tem...
O infeliz que passa ao longe
Sem o afeto de ninguém.
Consola as mães sofredoras
E alegra o órfão que vai
Pelas estradas do mundo
Sem os carinhos de um pai.
Mas escuta: Não te esqueças,
Na doce revelação,
Que Jesus deve nascer
No altar do teu coração.


Casimiro Cunha

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

4º ANIVERSARIO DO CLUBE DA LEITURA!



Poema de Aniversário
 Carlos Drummond de Andrade
Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
 a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
 com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.

A idade de ser feliz -  Geraldo Eustáquio de Souza
Existe somente uma idade para a gente ser feliz.
Somente uma época na vida de cada pessoa
em que se pode sonhar e fazer planos,
e ter energia bastante para realizá-los,
a despeito de todas as  dificuldade e obstáculos.
Uma só idade para a gente se encontrar com a vida
e viver apaixonadamente,
com o entusiasmo dos amantes
e a coragem dos aventureiros.
Fase dourada em que se pode criar e recriar a vida
à imagem e semelhança
dos nossos desejos;
e sorrir e cantar, e brincar e dançar,
e vestir-se com todas as cores
e experimentar todos os sabores
e desfrutar de tudo com toda a intensidade,
sem preconceito nem pudor.
Tempo em que cada limitação humana
é só mais um convite ao crescimento;
um desafio a lutar com toda energia
e a tentar algo novo, de novo e de novo
e quantas vezes for preciso.
Essa idade tão especial e tão única
chama-se presente...
E tem apenas a duração do instante que passa... 

Mais um ano- Rubem Alves
A celebração de mais um ano de vida é a celebração de um desfazer,
 um tempo que deixou de ser, não mais existe.
 Fósforo que foi riscado. Nunca mais acenderá.
Daí a profunda sabedoria do ritual de soprar as velas em festa de aniversário.
 Se uma vela acesa é símbolo de vida, uma vez apagada ela se torna símbolo de morte.


sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Canaã - O lugar onde vivemos - (Projeto: “Tudo é memória” )



Pra se livrar do aluguel
A coragem recomendou
Um loteamento improvisado
Sem planejamento condizente
Nem autorização dos órgãos competentes

Canaã salvou muita gente
Do perigo eminente
De residir debaixo do viaduto
Ou terminar coberto de luto

Mesmo tendo poucos recursos
Mergulhados num imenso escuro
Cada um comprou um lote
Com sorteio planejado
Nosso bairro foi loteado

Cada dono ao receber
Seu lote demarcado
Iniciou seu trabalho
Pra deixar os terrenos com aparência de quadrado

E com uma pressa muito grande
Trabalhando sem parar
Cada um procurava construir
Cheio de alegria e energia
Sonhava possuir seu lar

E cada dia que passava
Mais construções se espalhavam
As paredes foram se erguendo
Colunas e alicerces
O espaço foi ocupando
E fileiras de casas foram se formando

As ruas foram abertas
Tratores, caminhões e caçambas
Subiam e desciam num trafegar incessante
Pedra cimento, cal e areia
Eram descarregados nas construções

Pedreiros e mais pedreiros
Entravem e saiam do loteamento
Num movimento eletrizante
Com colher de pedreiro e barbante
Que ajudavam os prumos deixar as paredes elegantes

Dificuldades, mais dificuldades
Foram surgindo
Emoções e contradições
Mesmo assim paredes continuaram ser erguidas
E por coberturas embutidas.

A água foi canalizada
A luz foi instalada
Canaã foi iluminada
Moradores foram chegando
E seu bairro habitando
Habitantes bem modestos
Cheios de coragem e honestos

Faltava muito para esta gente
Corajosa e descente
Foram muitos os esforços
Para conscientizar os órgãos competentes
A trazer para região
Serviços de Saúde e condução

Mas este povo valente não desistiu não
Lutou e melhorou a vida e condição
O progresso foi chegando e com ele
Aumentou ainda mais a população
Fazendo necessário mais escolas pra educação

A comunidade lutou, reivindicou e conseguiu
Uma pequena escola para seu bairro
Escola pequena, porém
Bem construída e limpinha
Escola Estadual Jardim Canaã, nossa escola do coração.

Autores:
Professora Moema de Almeida Castro
Alunos – 4ª serie B – Turma  2004
E. E. Jd.Canaã-Diretoria de Ensino Norte1
Rua Cel. José Gladiador, 79 – Morro Doce
São Paulo- SP

segunda-feira, 9 de junho de 2014

O ENTERRADO VIVO - Carlos Drummond de Andrade








É sempre no passado aquele orgasmo,

é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.



É sempre no meu peito aquela garra.

É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.



É sempre no meu trato o amplo distrato.

Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.



É sempre nos meus pulos o limite.

É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.



Sempre no meu amor a noite rompe.

Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.