sábado, 1 de setembro de 2012

A PRIMAVERA - Cecília Meireles

Primavera
Cecília Meireles
A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.      
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.

Texto extraído do livro "Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1998, pág. 366



domingo, 26 de agosto de 2012

De tudo ficaram três coisas...

Do livro " "Encontro Marcado"-Fernando Sabino
"De tudo ficaram três coisas...
A certeza de que estamos começando...
A certeza de que é preciso continuar...
A certeza de que podemos ser interrompidos
antes de terminar...
Façamos da interrupção um caminho novo...
Da queda, um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro!"

 
RESENHA
Um dos principais livros do escritor mineiro Fernando Sabino, "O Encontro Marcado" é um romance que retrata a juventude de Eduardo Marciano e de seus amigos na cidade de Belo Horizonte nos anos 40. Muito da história do protagonista são fatos reais da vida do escritor. Este romance é narrado na terceira pessoa e conta a história de Eduardo Marciano, filho único, mimado, que fazia de tudo para chamar a atenção e testar os limites. Eduardo era um garoto precoce que se destacou cedo por seu talento na escrita. Na escola era péssimo aluno, questionador e rebelde que acabou se formando aos trancos e barrancos. Quando Eduardo decide se tornar um escritor, seu pai o apresenta a Toledo, um amigo seu que era escritor e acaba virando o seu ídolo. Toledo ajuda-o fornecendo-lhe livros dos grandes escritores. Eduardo inscreveu-se em uma maratona intelectual e venceu em segundo lugar, foi para o Rio de Janeiro e lá ficou até gastar todo o dinheiro, não tendo mais recursos inscreveu-se em um concurso de contos, ganhando um dinheiro. Ele levava a vida assim, sempre achando que na última hora alguma solução se apresentaria para seus problemas, mas é lógico que a vida mostrou-lhe o contrário. O suicídio de um amigo seu, Jadir abalou-o muito.
Quando termina o colégio despede-se de seus amigos, Mauro e Eugênio marcando um encontro para dali a quinze anos. Apesar de todas as tentativas, Eduardo não consegue escrever o tão sonhado romance e vai levando uma vida de boemia, regrada a bebida e mulheres. Começa a trabalhar para um jornal, ganhando assim algum dinheiro. Quando conhece Antonieta, uma pessoa totalmente diferente dele se apaixona e acaba casando-se, mas na sua cabeça sua vida não havia mudado e continua vivendo na farra, deixando Antonieta sempre sozinha. Antonieta é uma mulher centrada que procura o equilíbrio no casamento, tentando ajudar Eduardo, que apesar de tudo tem um temperamento depressivo. Até que um dia, Antonieta desiste e resolve cuidar da própria vida, deixando-o. Somente quando foi ao encontro marcado com seus amigos e estes não apareceram, é que Eduardo percebe o vazio de sua vida e começa a procurar sua identidade. Este romance relata toda a angústia, insatisfação e inquietação do ser humano.








quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Tecnologia e Exclusão Social














É impressionante como a tecnologia e o navegar na internet conseguem despertar a atenção e o interesse das crianças não importando sua condição social, seu conhecimento prévio ou seu estímulo. A prova disso está nesta experiencia realizada na Índia o qual um computador foi encaixado num muro que divide uma favela e a companhia a NIIT. (http://educaja.com.br/2010/11/buraco-no-muro.html/)


Tecnologia e Exclusão Social 
Por:  Professora Daniela Gissoni

Hoje, a Internet é utilizada com a finalidade também, de pesquisa e produção, e é neste sentido que essa ferramenta deve ser vista e utilizada como um instrumento de autoria com possibilidades de criação dessas produções pelos seus autores. “Entre várias transformações tecnológicas, o computador foi o mais comprado nas últimas décadas. Ele evolui a cada dia trazendo facilidades para adquirir informações em locais diferentes” (Paloma e Caíque da 7E)
Mas quem são os “autores”? Quem tem acesso a essa tecnologia?
Os alunos da EMEF Prof. Marili Dias sabem muito bem responder a essas perguntas. Em discussões durante as aulas refletiram sobre a questão da tecnologia e o problema da exclusão social. Durante as reflexões surgiram questionamentos bem interessantes como: “Agora o mundo tem muita tecnologia, mas não é acessível a todos” (Kennedy da 7E). “Entendemos que a tecnologia é para todos, mas poucos têm acesso a ela” (Fabrício, José e Igor da 6D). “A tecnologia está ficando muito avançada e nem todas as pessoas podem acompanhar por falta de dinheiro” (Emilly, Larissa e Iasmim da 6D)
Com o mesmo pensar sobre a inserção da tecnologia no mundo, na vida das pessoas, os alunos discutem relações, que essa mesma ferramenta se dispõe ao auxílio de tarefas, até mesmo simples, em seu cotidiano. É o que dizem os alunos da 8B (José Victor, Sabrina e Gabriela): “A tecnologia é boa, de uma certa forma, mas se for usada de uma maneira correta. Em nosso país as tecnologias não estão sendo “distribuídas” com igualdade, pois muitas pessoas não têm acesso, são excluídas por não terem como fazer uso delas”
Os problemas sociais que hoje afetam a maioria das sociedades globais poderiam ser minimizados com políticas públicas que, entre outros investimentos, viabilizam a socialização das informações, o investimento maciço no setor educacional público como forma de ascensão as possibilidades de articulações que são oferecidos pelos meios tecnológicos de informação e comunicação. Pois como afirmam as alunas Larissa, Ana Beatriz e Débora da 8C, “as faltas de acesso na sociedade incluem a baixa taxa de escolaridade, falta de telecomunicações em diversos locais, falta de “conteúdo”
adequado – o Inglês – já que é o idioma oficial da Web. Essa exclusão gera um desequilíbrio na sociedade.”
É o que relatam, também, os alunos da 8C (Bárbara, Emanoela e Ana Caroline) quando afirmam que “saber mexer em um computador hoje é mais do que importante. Como o mundo todo está interligado, o computador é a ferramenta mais usada”.
E você? O que pensa?

domingo, 12 de agosto de 2012

HISTÓRIAS QUE SÓ ACONTECEM EM NOITES DE LUA CHEIA...

Mês de agosto é o mês da supertição. Mais histórias dos alunos da 2ª série B-turma 2010-Professora Suse Mendes, para gente curtir!


TESTE SEU GRAU DE SUPERTIÇÃO: http://sitededicas.ne10.uol.com.br/quiz_cri_lendas_facil.htm

sábado, 4 de agosto de 2012

TEM SACI NA VILA PALMARES

Para comemorar o mês de folclore, vamos relembrar as histórias dos alunos da 2ª série B - 2010-EMEF professora Marili Dias, meus queridos e inesquecíveis alunos.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

A vida intima de Laura - Clarice Lispector

Vou logo explicando o que quer dizer “Vida íntima”. É assim vida íntima quer dizer que a gente não deve contar a todos o que se passa na casa da gente. São coisas que não se diz a qualquer pessoa.
         Pois vou contar a vida íntima de Laura.
         Agora adivinhe quem é Laura.
         Dou-lhe um beijo na testa se você adivinhar. E duvido que você acerte! Dê três palpites.
 ...

terça-feira, 24 de julho de 2012

A estranha passageira - STANISLAW PONTE PRETA


– O senhor sabe? É a primeira vez que eu viajo de avião. Estou com zero hora de vôo – e riu nervosinha, coitada.
 Depois pediu que eu me sentasse ao seu lado, pois me achava muito calmo e isto iria fazer-lhe bem. Lá se ia a oportunidade de ler o romance policial que eu comprara no aeroporto, para me distrair na viagem.
Suspirei e fiz o bacana respondendo que estava às suas ordens.
 Madama entrou no avião sobraçando um monte de embrulhos, que segurava desajeitadamente. Gorda como era, custou a se encaixar na poltrona e a arrumar todos aqueles pacotes. Depois não sabia como amarrar o cinto e eu tive que realizar essa operação em sua farta cintura.
 Afinal estava ali pronta para viajar. Os outros passageiros estavam já se divertindo às minhas custas, a zombar do meu embaraço ante as perguntas que aquela senhora nem fazia aos berros, como se estivesse em sua casa, entre pessoas íntimas. A coisa foi ficando ridícula.
– Para que esse saquinho aqui? – foi a pergunta que fez, num tom de voz que parecia que ela estava no Rio e eu em São Paulo.
 – É para a senhora usar em caso de necessidade – respondi baixinho.
 Tenho certeza de que ninguém ouviu minha resposta, mas todos adivinharam
qual foi, porque ela arregalou os olhos e exclamou:
– Uai... as necessidades neste saquinho? No avião não tem banheiro?
 Alguns passageiros riram, outros – por fineza – fingiram ignorar o lamentável
equívoco da incômoda passageira de primeira viagem. Mas ela era um azougue (embora com tantas carnes parecesse um açougue) e não parava de badalar. Olhava para trás,olhava para cima, mexia na poltrona e quase levou um tombo, quando puxou a alavanca e empurrou o encosto com força, caindo para trás e esparramando embrulhos para todos os lados.
 O comandante já esquentara os motores e a aeronave estava parada, esperando
ordens para ganhar a pista de decolagem. Percebi que minha vizinha de banco apertava os olhos e lia qualquer coisa. Logo veio a pergunta:
– Quem é essa tal de emergência que tem uma porta só para ela?
Expliquei que emergência não era ninguém, a porta é que era de emergência, isto
é, em caso de necessidade, saía-se por ela.

 Madama sossegou e os outros passageiros já estavam conformados com o término
do “show”. Mesmo os que mais se divertiam com ele resolveram abrir os jornais, revistas ou se acomodarem para tirar uma pestana durante a viagem.
 Foi quando madama deu o último vexame. Olhou pela janela (ela pedira para
ficar do lado da janela para ver a paisagem) e gritou:
 Puxa vida!!!
Todos olharam para ela, inclusive eu. Madama apontou para a janela e disse:
 Olha lá embaixo.
Eu olhei. E ela acrescentou: – Como nós estamos voando alto, moço. Olha só... o
pessoal lá embaixo até parece formiga.
Suspirei e lasquei:
 – Minha senhora, aquilo são formigas mesmo. O avião ainda não levantou vôo.

Preta, Stanislaw Ponte. Garoto linha dura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.

Postagem sugerida pela nossa seguidora Gleice Kelly Lisboa de Santana


domingo, 22 de julho de 2012

Ciranda de Pedra, Lygia Fagundes Telles

Postagem sugerida pela nossa seguidora Analini Alencar Dos Santos
Sinopse:
Ciranda de Pedra – o título se deve a uma ciranda de anões de pedra, de mãos dadas, no jardim de um palacete suntuoso “guardado” por dois ciprestes à entrada; esses elementos já vão definindo um dos ambientes em que se passa a história, narrada com perícia em terceira pessoa, mas com onisciência apenas em Virgínia, personagem principal; todos os ingredientes da ficção narrativa, enredo, ambiente, tempo e personagens se intricam inseparavelmente.

A narrativa está centrada num acontecimento familiar: o desmembramento da família de Virgínia, a protagonista. Devido à doença da mãe e a situação econômica precária da família, Virgínia é levada a deixar a casa onde mora passando então a viver com suas irmãs e com aquele que sempre lhe fora apresentado como pai. A partir desse momento, seus conflitos, medos e ansiedades são intensificados, pois é na nova casa que Virgínia se depara com a solidão e sofre suas piores angústias. Além disso, acontecimentos dramáticos como a morte de sua mãe e o suicídio de seu suposto padrasto - na verdade seu pai - faz surgir em Virgínia um sentimento de culpa, o que aumenta ainda mais seu drama.



TELLES,Lygia F. Ciranda de Pedra. 28ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. 204 páginas.

LEIAM E POSTEM SUA RESENHA!!!

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Quem cortou o nó górdio? - Jô Soares

Um professor de História suíço veio ao Brasil para avaliar o nível do nosso ensino. Assim que chegou, pediu para ser levado a uma das melhores escolas públicas de nossa cidade.
Entrou na sala de aula que abrigava a turma mais preparada e dirigiu-se ao melhor aluno da classe:
- Quem cortou o nó górdio?
- Juro que não fui eu, moço. Nem ninguém aqui da sala. Pode ser alguém do colégio, mas colega meu não foi. Ponho a mão no fogo por eles.
Horrorizado, o suíço contou o ocorrido para a professora:
- Imagine a senhora que eu perguntei àquele jovem quem foi que cortou o nó górdio e ele me respondeu que não foi ele. Garantiu também que não foi nenhum menino que conheça.
A professora retrucou:
- Bom, se ele disse que não foi ele, o senhor pode acreditar. Esse rapaz, além de muito estudioso, é incapaz de uma mentira.
Assombrado, o professor suíço entrou no gabinete da diretora do colégio:
- Francamente, não sei o que se está passando. Perguntei ao melhor aluno da turma mais preparada quem tinha cortado o nó górdio; ele me assegurou que não foi ele nem nenhum dos seus amigos. Contei o episódio para a professora e ela corroborou a versão do aluno!
A diretora, indignada com o fato, adiantou:
- Meu caro senhor, se a professora confirmou, é porque é verdade. Ela conhece muito bem os seus alunos e é uma pessoa da maior idoneidade. Há anos que trabalha no nosso estabelecimento. O jovem em questão tem muito caráter. Se tivesse sido ele, confessaria na hora. Se fosse o Juquinha, um ruivinho sardento, eu nem diria nada, porque ele é muito mentiroso.
Pasmo, o professor de História suíço deixou o educandário e foi procurar o político que o havia convidado para vir ao Brasil. Depois de ouvir atentamente o relato do estrangeiro, ele explicou:
- Meu querido professor, o senhor não está na Suíça. Aqui, o nível de ignorância e despreparo ainda é muito grande. Nós temos de começar tudo praticamente do zero. Está vendo as dificuldades que enfrentamos? Mas não quero que o senhor volte ao seu país levando uma má impressão. Se alguém cortou mesmo esse tal de nó górdio, e dá para consertar, diga logo de quanto foi o prejuízo eu pago do meu próprio bolso.
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GlossárioGÓRDIO - Rei da Frígia, antiga Ásia Menor.

NÓ GÓRDIO - Nó que é impossível de ser desatado.

CORTAR O NÓ GÓRDIO - Resolver uma grande dificuldade com rapidez e ou violência.

(Segundo a lenda, o nó górdio prendia o timão ao jugo da carreta do rei Górdio, da Frígia e quem o desatasse seria o senhor da Ásia. Alexandre Magno, diante do nó, por volta de 330 A.C., cortou-o com sua espada e invadiu a Ásia.)
(Jô Soares, Revista Veja)

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Pedro Paulo Pereira Pinto, pequeno pintor Português

Pedro Paulo Pereira Pinto, pequeno pintor Português, pintava portas, paredes, portais. Porém, pediu para parar porque preferiu pintar Panfletos.
Partindo para Piracicaba, pintou prateleiras para poder progredir.
Posteriormente, partiu para Pirapora.
Pernoitando, prosseguiu para
Paranavaí, pois pretendia praticar pinturas para pessoas pobres.
Porém, pouco praticou, porque Padre Paulo pediu para pintar panelas,porém posteriormente pintou pratos para poder pagar
promessas. Pálido, porém personalizado, preferiu partir para Portugal para pedir permissão para papai para permanecer praticando pinturas, preferindo, portanto, Paris. Partindo para Paris,
passou pelos Pirineus, pois pretendia pintá-los.
Pareciam plácidos, porém, pesaroso, percebeu penhascos pedregosos, preferindo pintá-los parcialmente, pois perigosas pedras pareciam precipitar-se, principalmente pelo Pico, porque pastores passavam pelas picadas para pedirem pousada, provocando provavelmente pequenas perfurações, pois, pelo passo percorriam, permanentemente, possantes potrancas. Pisando Paris, pediu permissão para pintar palácios pomposos, procurando pontos pitorescos, pois, para pintar pobreza, precisaria percorrer pontos perigosos, pestilentos, perniciosos, preferindo Pedro Paulo precaver-se. Profunda privação passou Pedro Paulo.
Pensava poder prosseguir pintando, porém, pretas previsões passavam pelo pensamento, provocando profundos pesares, principalmente por pretender partir
prontamente para Portugal. Povo previdente! Pensava Pedro Paulo ...
- Preciso partir para Portugal por que pedem para prestigiar patrícios, pintando principais portos portugueses.
Paris! Paris! Proferiu Pedro Paulo.
- Parto, porém penso pintá-la permanentemente,  pois pretendo progredir. Pisando Portugal, Pedro Paulo procurou  pelos pais, porém Papai Procópio partira para Província.
Pedindo provisões, partiu prontamente, pois precisava pedir permissão para Papai Procópio para prosseguir praticando pinturas.
Profundamente pálido, perfez percurso percorrido pelo pai. Pedindo permissão, penetrou pelo portão principal. Porém, Papai Procópio puxando-o pelo pescoço proferiu:
- Pediste permissão para praticar pintura, porém, praticando, pintas pior. Primo Pinduca pintou perfeitamente prima Petúnia.
Porque pintas porcarias? - Papai, - proferiu Pedro Paulo - pinto porque permitistes, porém, preferindo, poderei procurar profissão própria para poder provar perseverança, pois pretendo permanecer por Portugal.
Pegando Pedro Paulo pelo pulso, penetrou pelo patamar, procurando pelos pertences, partiu prontamente, pois pretendia pôr Pedro Paulo para praticar profissão perfeito: pedreiro!
Passando pela ponte precisaram pescar para poderem prosseguir peregrinando. Primeiro, pegaram peixes pequenos, porém, passando pouco prazo, pegaram pacus, piaus, piabas, piaparas, pirarucus.
Partiram pela picada próxima, pois pretendiam pernoitar pertinho, para procurar primo Péricles primeiro. Pisando por pedras pontudas, Papai Procópio procurou Péricles, primo próximo, pedreiro profissional perfeito. Poucas palavras proferiram, porém prometeu pagar pequena parcela para Péricles profissionalizar Pedro Paulo.
Primeiramente Pedro Paulo pegava pedras, porém, Péricles pediu-lhe para pintar prédios, pois precisava pagar pintores práticos.
Particularmente Pedro Paulo preferia pintar prédios. Pereceu pintando prédios para Péricles, pois precipitou-se pelas paredes pintadas.
Pobre Pedro Paulo pereceu pintando... Permita-me, pois, pedir perdão pela paciência, pois pretendo parar para pensar... Para parar preciso pensar.  Pensei. Portanto, pronto: Pararei!
(autoria desconhecida)

terça-feira, 10 de julho de 2012

Natal na barca- Lygia Fagundes Telles

Natal na barca (1958)

Fantasia e realidade se encontraram no conto, tem como tema a força da fé, a existência de milagres, a vida e a morte.
A história narra a história de uma mulher e começa em primeira pessoa. Os fatos narrados aconteceram no Natal, durante uma viagem de barca. O cenário é lúgubre como o espírito da narradora-personagem: “em redor tudo era silêncio e treva” a embarcação era “desconfortável, tosca”, “despojada” e “sem artifícios”; a grade da barca era de “madeira carcomida”; o chão era feito de “tábuas gastas”
A barca tem quatro passageiros: a narradora, um velho bêbado e uma mulher com o filho doente, uma criança de quase um ano de idade.
Nota-se uma certa melancolia, talvez uma falta de esperança.
Chamou-me a atenção as oposições, os contrastes que estão presentes ao longo do texto: A água do rio, “tão gelada”, mas “de manhã é quente”; as roupas da mulher, “pobres roupas puídas”, entretanto, “tinham muito caráter, eram dignas".
A narradora começou a falar com a mulher e surgiu a história. O motivo que leva a mulher a estar na barca é a urgência de levar o filho doente ao médico, conforme aconselhou o farmacêutico para que ela procurasse o especialista “hoje”. O filho doente está no colo da mãe quem contou as desgraças de sua vida. A fala continua até chegar ao destino, onde se apresenta a força da fé.

Apresentaram -se as tragédias pelas quais a mulher passou: a morte do primeiro filho, o abandono pelo marido. Mas, também se conhece a fé que a mulher tem.
A mulher  sonha com Deus, ela sente a mão de Deus conduzindo-a. Deus deu à mulher o conforto que ela precisava. O componente emocional, da história é muito forte.

domingo, 8 de julho de 2012

Uma Vela para Dario - Dalton Trevisan

Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e descansou na pedra o cachimbo. Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque. Ele reclinou-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode pediu aos outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no canto da boca. Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta à outra, as crianças foram despertadas e de pijama acudiram à janela. O senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado. A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava morrendo. Um grupo o arrastou para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protestou o motorista: quem pagaria a corrida? Concordaram chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado á parede - não tinha os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata. Alguém informou da farmácia na outra rua. Não carregaram Dario além da esquina; a farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito pesado. Foi largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobriu o rosto, sem que fizesse um gesto para espantá-las. Ocupado o café próximo pelas pessoas que vieram apreciar o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozavam as delicias da noite. Dario ficou torto como o deixaram, no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso. Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os papéis, retirados - com vários objetos - de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficaram sabendo do nome, idade; sinal de nascença. O endereço na carteira era de outra cidade. Registrou-se correria de mais de duzentos curiosos que, a essa hora, ocupavam toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro negro investiu a multidão. Várias pessoas tropeçaram no corpo de Dario, que foi pisoteado dezessete vezes. O guarda aproximou-se do cadáver e não pôde identificá-lo — os bolsos vazios. Restava a aliança de ouro na mão esquerda, que ele próprio quando vivo - só podia destacar umedecida com sabonete. Ficou decidido que o caso era com o rabecão. A última boca repetiu — Ele morreu, ele morreu. A gente começou a se dispersar. Dario levara duas horas para morrer, ninguém acreditou que estivesse no fim. Agora, aos que podiam vê-lo, tinha todo o ar de um defunto. Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça. Cruzou as suas mãos no peito. Não pôde fechar os olhos nem a boca, onde a espuma tinha desaparecido. Apenas um homem morto e a multidão se espalhou, as mesas do café ficaram vazias. Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos. Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu ao lado do cadáver. Parecia morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva. Fecharam-se uma a uma as janelas e, três horas depois, lá estava Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó, e o dedo sem a aliança. A vela tinha queimado até a metade e apagou-se às primeiras gotas da chuva, que voltava a cair.
Texto extraído do livro "Vinte Contos Menores", Editora Record – Rio de Janeiro, 1979, pág. 20. Este texto faz parte dos 100 melhores contos brasileiros do século, seleção de Ítalo Moriconi para a Editora Objetiva.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

TELEJORNAL - EMEF MARILI DIAS

Produzir um jornal escolar, mural ou impresso, é mais do que transmitir informações. É, na verdade, uma excelente atividade em grupo, que pede poder de síntese, liderança, conhecimento prévio da realidade, isto é, a verificação dos problemas, dos acontecimentos, da cultura, das preferências e das necessidades da escola.
Para o educador é uma das maneiras de trabalhar produção textual e leitura. Para o aluno, eis um exercício diferente e atrativo de cidadania.
A Professora Silvia Piza - Orientadora da Sala de Leitura na EMEF Professora Marili Dias, iniciou este projeto com alunos do 5º ano EF .
Além do mural, o jornal foi filmado  e assim nasceu o Telejornal da EMEF Marili Dias.
Esta estratégia  deixou os alunos mais entusiasmados e comprometidos com o projeto e mal terminaram a 1ª edição , já estão preparando a 2ª.
 "ACONTECEU NO MEU BAIRRO" , foi o nome escolhido para o Telejornal, que irá informar acontecimentos ocorridos no entorno da escola e na própria escola.
Veja a 1ª edição do Jornal, realizada pelos nossos aluninhos:

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Flor, telefone, moça – Carlos Drummond de Andrade

Não, não é conto. Sou apenas um sujeito que escuta algumas vezes, que outras não escuta, e vai passando. Naquele dia escutei, certamente porque era a amiga quem falava. É doce ouvir os amigos, ainda quando não falem, porque amigo tem o dom de se fazer compreender até sem sinais. Até sem olhos.

E sorrindo:
– Mas você não vai acreditar, juro.
Quem sabe? Tudo depende da pessoa que conta, como do jeito de contar. Há dias em que não depende nem disso: estamos possuídos de universal credulidade. E daí, argumento máximo, a amiga asseverou que a história era verdadeira.
– Era uma moça que morava na Rua Gerenal Polidoro, começou ela. Perto do Cemitério São João Batista. Você sabe, quem mora por ali, queira ou não queira, tem de tomar conhecimento da morte. Toda hora está passando enterro, e a gente acaba por se interessar. Não é tão empolgante como navios ou casamentos, ou carruagem de rei, mas sempre merece ser olhado. A moça, naturalmente, gostava mais de ver passar enterro do que não ver nada. E se fosse ficar triste diante de tanto corpo desfilando, havia de estar bem arranjada.
Se o enterro era mesmo muito importante, desses de bispo ou de general, a moça costumava ficar no portão do cemitério, para dar uma espiada. Você já notou como coroa impressiona a gente? Demais. E há a curiosidade de ler o que está escrito nelas. Morto que dá pena é aquele que chega desacompanhado de flores – por disposição de família ou falta de recursos, tanto faz. As coroas não prestigiam apenas o defundo, mas até o embalam. Às vezes ela chegava a entrar no cemitério e a acompanhar o préstimo até o lugar do sepultamento. Deve ter sido assim que adquiriu o costume de passear lá por dentro. Meu Deus, com tanto lugar pra passear no Rio! E no caso da moça, quando estivesse mais amolada, bastava tomar um bonde em direção à praia, descer no Mourisco, debruçar-se na amurada. Tinha o mar à sua disposição, a cinco minutos de casa. O mar, as viagens, as ilhas de coral, tudo grátis. Mas por preguiça pela curiosidade dos enterros, sei lá por quê, deu para andar em São João Batista, contemplando túmulo. Coitada!
– No interior isso não é raro…
– Mas a moça era de Botafogo.
– Ela trabalhava?
– Em casa. Não me interrompa. Você não vai me pedir certidão de idade da moça, nem sua descrição física. Para o caso que estou contando, isso não interessa. O certo é que de tarde costumava passear – ou melhor, “deslizar” pelas ruinhas brancas do cemitério, mergulhada em cisma… Olhava uma inscrição, ou não olhava, descobria uma figura de anjinho, uma coluna partida, uma águia, comparava as covas ricas às covas pobres, fazia cálculos de idade dos defuntos, considerava retratos em medalhões – sim, há de ser isso que ela fazia por lá, pois que mais poderia fazer? Talvez mesmo subisse ao morro, onde está a parte nova do cemitério, e as covas mais modestas. E deve ter sido lá que, uma tarde, ela apanhou a flor.
– Que flor?
– Uma flor qualquer. Margarida, por exemplo. Ou cravo. Para mim foi margarida, mas é puro palpite, nunca apurei. Apanhou com esse gesto vago e maquinal que a gente tem diante de um pé de flor. Apanha, leva ao nariz – não tem cheiro, como inconscientemente já esperava –, depois amassa a flor, joga para um canto. Não se pensa mais nisso.
Se a moça jogou a margarida no chão do cemitério ou no chão da rua, quando voltou para casa, também ignoro. Ela mesma se esforçou mais tarde por esclarecer esse ponto, mas foi incapaz. O certo é que já tinha voltado, estava em casa bem quietinha havia poucos minutos, quando o telefone tocou, ela atendeu.
– Aloooô…
– Quede a flor que você tirou de minha sepultura?
A voz era longínqua, pausada, surda. Mas a moça riu. E, meio sem compreender:
– O quê?
Desligou. Voltou para o quarto, para as suas obrigações. Cinco minutos depois, o telefone chamava de novo.
– Alô.
– Quede a flor que você tirou de minha sepultura?
Cinco minutos dão para a pessoa mais sem imaginação sustentar um trote. A moça riu de novo, mas preparada.
– Está aqui comigo, vem buscar.
No mesmo tom lento, severo, triste, a voz respondeu:
– Quero a flor que você me furtou. Me dá minha florzinha.
Era homem, era mulher? Tão distante, a voz fazia-se entender, mas não se identificava. A moça topou a conversa:
– Vem buscar, estou te dizendo.
– Você bem sabe que eu não posso buscar coisa nenhuma, minha filha. Quero minha flor, você tem obrigação de devolver.
– Mas quem está falando aí?
– Me dá minha flor, eu estou te suplicando.
– Diga o nome, senão eu não dou.
– Me dá minha flor, você não precisa dela e eu preciso. Quero minha flor, que nasceu na minha sepultura.
O trote era estúpido, não variava, e moça, enjoando logo, desligou. Naquele dia não houve mais nada.
Mas no outro dia houve. À mesma hora o telefone tocou. A moça, inocente, foi atender.
– Alô!
– Quede a flor…
Não ouviu mais. Jogou o fone no gancho, irritada. Mas que brincadeira é essa! Irritada voltou à costura. Não demorou muito, a campainha tinia outra vez. E antes que a voz lamentosa recomeçasse:
– Olhe, vire a chapa, já está pau.
– Você tem que dar conta de minha flor, retrucou a voz de queixa. Pra que foi mexer logo na minha cova? Você tem tudo no mundo, eu, pobre de mim, já acabei. Me faz muita falta aquela flor.
– Essa é fraquinha. Não sabe de outra?
E desligou. Mas, voltando ao quarto, já não ia só. Levava consigo a idéia daquela flor, ou antes, a idéia daquela pessoa idiota que a vira arrancar uma flor no cemitério, e agora a aborrecia pelo telefone. Quem poderia ser? Não se lembrava de ter visto nenhum conhecido, era distraída por natureza. Pela voz não seria fácil acertar. Certamente se tratava de voz disfarçada, mas tão bem que não se podia saber ao certo se de homem ou de mulher. Esquisito, uma voz fria. E vinha de longe, como de interurbano. Parecia vir de mais longe ainda… Você está vendo que a moça começou a ter medo.
– E eu também.
– Não seja bobo. O fato é que aquela noite ela custou a dormir. E daí por diante é que não dormiu mesmo nada. A perseguição telefônica não parava. Sempre à mesma hora, no mesmo tom. A voz não ameaçava, não crescia de volume: implorava. Parecia que o diabo da flor constituía para ela a coisa mais preciosa do mundo, e que seu sossego eterno – admitindo que se tratasse de pessoa morta – ficara dependendo da restituição de uma simples flor. Mas seria absurdo admitir tal coisa, e a moça, além do mais, não queria se amofinar. No quinto ou sexto dia, ouviu firme a cantilena da voz e depois passou-lhe uma bruta descompostura. Fosse amolar o boi. Deixasse de ser imbecil (palavra boa, porque convinha a ambos os sexos). E se a voz não se calasse, ela tomaria providências.
A providência consistiu em avisar o irmão e depois o pai. (A intervenção da mãe não abalara a voz.) Pelo telefone, pai e irmão disseram as últimas à voz suplicante. Estavam convencidos de que se tratava de algum engraçado absolutamente sem graça, mas o curioso é que, quando se referiam a ele, diziam “a voz”.
– A voz chamou hoje? Indagava o pai, chegando da cidade.
– Ora. É infalível, suspirava a mãe, desalentada.
Descomposturas não adiantavam, pois, ao caso. Era preciso usar o cérebro. Indagar, apurar na vizinhança, vigiar os telefones públicos. Pai e filho dividiram entre si as tarefas. Passaram a freqüentar as casas de comércio, os cafés mais próximos, as lojas de flores, os marmoristas. Se alguém entrava e pedia licença para usar o telefone, o ouvido do espião se afiava. Mas qual. Ninguém reclamava flor de jazigo. E restava a rede dos telefones particulares. Um em cada apartamento, dez, doze no mesmo edifício. Como descobrir?
O rapaz começou a tocar para todos os telefones da Rua General Polidoro, depois para todos os telefones das ruas transversais, depois para todos os telefones da linha dois-meia… Discava, ouvia o alô, conferia a voz – não era –, desligava. Trabalho inútil, pois a pessoa da voz devia estar ali por perto – o tempo de sair do cemitério e tocar para a moça – e bem escondida estava ela, que só se fazia ouvir quando queria, isto é, a uma certa hora da tarde. Essa questão de hora também inspirou à família algumas diligências. Mas infrutíferas.
Claro que a moça deixou de atender telefone. Não falava mais nem com as amigas. Então a “voz”, que não deixava de pedir, se outra pessoa estava no aparelho, não dizia mais “você me dá minha flor”, mas “quero minha flor”, “quem furtou minha flor tem que restituir”, etc. Diálogo com essas pessoas a “voz” não mantinha. Sua conversa era com a moça. E a “voz” não dava explicações.
Isso durante quinze dias, um mês, acaba por desesperar um santo. A família não queria escândalos, mas teve de queixar-se à polícia. Ou a polícia estava muito ocupada em prender comunista, ou investigações telefônicas não eram sua especialidade – o fato é que não se apurou nada. Então o pai correu à Companhia Telefônica. Foi recebido por um cavalheiro amabilíssimo, que coçou o queixo, aludiu a fatores de ordem técnica…
– Mas é a tranqüilidade de um lar que eu venho pedir ao senhor! É o sossego de minha filha, de minha casa. Serei obrigado a me privar de telefone?
– Não faça isso, meu caro senhor. Seria uma loucura. Aí é que não se apurava mesmo nada. Hoje em dia é impossível viver sem telefone, rádio e refrigerador. Dou-lhe um conselho de amigo. Volte para sua casa, tranqüilize a família e aguarde os acontecimentos. Vamos fazer o possível.
Bem, você já está percebendo que não adiantou. A voz sempre mendigando a flor. A moça perdendo o apetite e a coragem. Andava pálida, sem ânimo para sair à rua ou para trabalhar. Quem disse que ela queria mais ver enterro passando? Sentia-se miserável, escravizada a uma voz, a uma flor, a um vago defunto que nem sequer conhecia. Porque – já disse que era distraída – nem mesmo se lembrava da cova de onde arrancara aquela maldita flor. Se ao menos soubesse…
O irmão voltou do São João Batista dizendo que, do lado por onde a moça passeara aquela tarde, havia cinco sepulturas plantadas. A mãe não disse coisa alguma, desceu, entrou numa casa de flores da vizinhança, comprou cinco ramalhetes colossais, atravessou a rua como um jardim vivo e foi derramá-los votivamente sobre os cinco carneiros. Voltou para casa e ficou à espera da hora insuportável. Seu coração lhe dizia que aquele gesto propiciatório havia de aplacar a mágoa do enterrado – se é que os mortos sofrem, e aos vivos é dado consolá-los, depois de os haver afligido.
Mas a “voz” não se deixou consolar ou subornar. Nenhuma outra flor lhe convinha senão aquela, miúda, amarrotada, esquecida, que ficara rolando no pó e já não existia mais. As outras vinham de outra terra, não brotavam de seu estrume – isso não dizia a voz, era como se dissesse. E a mãe desistiu de novas oferendas, que já estavam no seu propósito. Flores, missas, que adiantava?
O pai jogou a última cartada: espiritismo. Descobriu um médium fortíssimo, a quem expôs longamente o caso, e pediu-lhe que estabelecesse contato com a alma despojada de sua flor. Compareceu a inúmeras sessões, e grande era sua fé de emergência, mas os poderes sobrenaturais se recusaram a cooperar, ou eles mesmos são impotentes, quando alguém quer alguma coisa até sua última fibra, e a voz continuou, surda, infeliz, metódica. Se era mesmo de vivo (como às vezes a família ainda conjeturava, embora se apegasse cada dia mais a uma explicação desanimadora, que era a falta de qualquer explicação lógica para aquilo), seria de alguém que houvesse perdido toda noção de misericórdia; e se era de morto, como julgar, como vencer os mortos? De qualquer modo, havia no apelo uma tristeza úmida, uma infelicidade tamanha que fazia esquecer o seu sentido cruel, e refletir: até a maldade pode ser triste. Não era possível compreender mais do que isso. Alguém pede continuamente uma certa flor, e esta flor não existe mais para lhe ser dada. Você não acha inteiramente sem esperança?
– Mas, e a moça?
– Carlos, eu preveni que meu caso de flor era muito triste. A moça morreu no fim de alguns meses, exausta. Mas sossegue, para tudo há esperança: a voz nunca mais pediu.
Falava-se de cemitérios? De telefones? Não me lembro. De qualquer modo, a amiga – bom, agora me recordo que a conversa era sobre flores – ficou subitamente grave, sua voz murchou um pouquinho.
– Sei de um caso de flor que é tão triste!

sábado, 2 de junho de 2012

CONHEÇA A HISTÓRIA DO DIA DAS MÃES

COMEMORAÇÃO DO DIA DAS MÃES - EF I-EMEF PROFESSORA MARILI DIAS O dia das mães é comemorado, aqui no Brasil, no segundo domingo de maio. A data surgiu em virtude do sofrimento de uma americana que, após perder a mãe, passou por um processo depressivo. As amigas mais próximas de Anna M. Jarvis, para livrá-la de tal sofrimento, fizeram uma homenagem para sua mãe, que havia trabalhado na guerra civil do país. A festa fez tanto sucesso que em 1914, o presidente Thomas Woodrow Wilson oficializou a data, e a comemoração se difundiu pelo mundo afora. As mães são homenageadas desde os tempos mais antigos. Os povos gregos faziam uma comemoração à mãe dos deuses, Reia. Na Idade Média os trabalhadores que moravam longe de suas famílias ganhavam um dia para visitar suas mães, que os ingleses chamavam de “mothering day”. Mãe é a mulher que gera e dá à luz um filho, mas também pode ser aquela que cria um ente querido como se fosse sua geradora, dando-lhe carinho e proteção. As mães merecem respeito e muito amor de seus filhos, pois fazem tudo para agradá-los, sofrem com seus sofrimentos e querem que estes estejam sempre bem. Com o passar dos anos, o dia das mães aqueceu o comércio de todo o mundo, pois os filhos sempre compram presentes para agradá-las e para agradecer toda forma de carinho e dedicação que recebem ao longo da vida. Nas diferentes localidades do mundo, a comemoração é feita em dias diferentes. Na Noruega é comemorada no segundo domingo de fevereiro; na África do Sul e Portugal, no primeiro domingo de maio; na Suécia, no quarto domingo de maio; no México é uma data fixa, dia 10 de maio. Na Tailândia, no dia 12 de agosto, em comemoração ao aniversário da rainha Mom Rajawongse Sirikit. Em Israel não existe um dia próprio para as mães, mas sim um dia para a família. No Brasil, assim como nos Estados Unidos, Japão, Turquia e Itália, a data é comemorada no segundo domingo de maio. Aqui, a data foi instituída pela associação cristã de moços, em maio de 1918, sendo oficializada pelo presidente Getúlio Vargas, no ano de 1932. Por Jussara de Barros Graduada em Pedagogia

SARAU NO PARQUE


ALUNOS DA EMEF PROFª MARILI DIAS PARTCIPARAM DO SARAU NO PARQUE,  NO DIA 29 DE MAIO DE 2012
Um evento cultural  realizado mensalmente na Biblioteca do CEU PQ Anhanguera onde as pessoas se encontram para se expressarem ou se manifestarem artisticamente,envolve poesia, leitura de livros, música e também outras formas de arte como pintura.Uma reunião festiva que ocorre  no início da noite, com  interpretações ou performances artísticas e literárias.


 Evento bastante comum no século XIX que vem sendo redescoberto por seu caráter de inovação, descontração e satisfação. Vem ganhando vulto por meio das promoções dos grêmios estudantis e escolas.

1ª SORFESTA NA ESCOLA MARILI DIAS - ABRIL/2012


A festa do sorvete na EMEF Marili Dias, foi uma verdadeira mostra de como acontece o protagonismo juvenil.

 1ª SORFESTA MARILI DIAS 

Alunos representantes das 8ªs séries EFII da EMEF (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Marili Dias – que fica no bairro Morro Doce, na zona norte de São Paulo –, para atender a vontade de aproximadamente 140 alunos ,que desejam realizar a conhecida colação de grau, levou à direção escolar a seguinte idéia: fazer uma festa do sorvete, na qual seria oferecido além do sorvete, brincadeiras , como: piscina de bolinha, pula-pula, campeonato de futebol na quadra, jogos de dominó, xadrez, dama, trilha durante o sábado das 9h as 17h , na qual professores, alunos e funcionários em cooperação se responsabilizassem pelo evento desde a organização até a realização e acompanhamento do mesmo.

O pedido dos adolescentes foi à pauta da reunião de Conselho de Escola, na qual não houve nenhuma oposição dos membros ao que seria realizado. Posteriormente, como informou o grupo gestor da escola, aprovado pelo conselho escolar, o projeto foi posto em prática. Assim sendo, a EMEF Profª Marili Dias, promoveu no sábado(31/03/2012) , a 1ª SORFESTA – Festa do Sorvete na escola. O objetivo foi arrecadar fundos para a formatura que será realizada no final do ano letivo, permitindo assim que os alunos possam comemorar a promoção ao ensino médio. A comunidade compareceu e a festa foi um sucesso! Muitas brincadeiras acompanhadas pelos alunos monitores, música, com apresentação do MC Douglinhas ( aluno da 7ª série C) e jogo de futebol na quadra da escola, apitado pela Assistente de Direção professora Miriam. O aluno Matheus Augusto da 7ª série , fez a cobertura da festa, fazendo entrevistas com professores e diversos registros fotográficos.
Lillian Padilha,Matheus Augusto,Sara Regina,Danilo e Alex Douglas

Reportagem feita pelos alunos participantes dos projetos: Nas Ondas do Marili  e Escola em Movimento