domingo, 21 de abril de 2013

Uma noite no paraíso - Sylvia Manzano


Certa vez, dois amigos inseparáveis fizeram o seguinte juramento: aquele que casasse primeiro chamaria o outro para padrinho, mesmo que esse outro estivesse no fim do mundo.
Pois bem: um dos amigos morre e o outro, que estava noivo, não sabendo o que fazer, vai pedir conselhos a seu confessor. O pároco assegura que a palavra deve ser mantida. Então o noivo vai até o túmulo do amigo convidá-lo para o casamento.



O morto aceita o convite de muito bom grado. No dia da cerimônia, não diz uma palavra sobre o que vira no outro mundo. No final do banquete ele fala:


- Amigo, como lhe fiz este favor, você agora deve me acompanhar um pouquinho até minha morada.
O recém-casado, não resistindo à curiosidade, pergunta como era a vida do outro lado.
O morto, fazendo um pouco de suspense, responde dessa forma:


- Se quiser saber, venha também ao paraíso.


O outro concorda. O túmulo se abre e o vivo segue o morto.


A primeira coisa que vê é um lindo palácio de cristal, onde os anjos tocavam para os beatos dançarem e São Pedro, muito feliz, dedilhava seu contrabaixo. Mais adiante, o amigo lhe apresenta nova maravilha: um jardim onde as árvores, em vez de folhas, tinham pássaros de todas as cores, que cantavam.


- Vamos em frente - diz o morto ao amigo, que fica cada vez mais deslumbrado. - Agora vou levá-lo para ver uma estrela.


O recém-casado percebe que não se cansaria nunca de admirar as estrelas, os rios, que em vez de água eram de vinho, e a terra, que era de queijo.


De repente o noivo cai em si, lembra-se da noiva que ficara a esperá-lo e pede:
- Compadre, preciso voltar para casa, minha esposa deve estar preocupada.


- Como preferir.


Assim dizendo, o morto o acompanha até o túmulo, sumindo logo a seguir.
Ao sair do túmulo, o vivo fica assombrado com o que vê ao seu redor: no lugar daquelas casinhas de pedra meio improvisadas há palácios, bondes, automóveis; as pessoas todas vestidas de modo diferente. Para se certificar, pergunta o nome da cidade a um velhinho que por ali passava.
- Sim, é esse o nome desta cidade.


No entanto, ao chegar à igreja, é atendido por um bispo muito importante que, consultando os arquivos existentes ali, descobre que trezentos anos atrás um noivo havia acompanhado o padrinho ao túmulo e não tinha voltado nunca mais.



(Transcrito de A dama pé de cabra e outras histórias. São Paulo: Paulinas, 1994.)

 

sábado, 13 de abril de 2013

Bertold Brecht (1898-1956)

 
INTERTEXTO
 

 
 
 
 
 
 

 Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

NADA É IMPOSSÍVEL MUDAR
 
Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa
natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
 nada deve parecer impossível de mudar.
 

domingo, 7 de abril de 2013

A MOÇA QUE BATEU NA MÃE E VIROU CACHORRA Rodolfo Coelho Cavalcanti



Vou contar mais um exemplo
Dentro da realidade,
Pois toda alma descrente
Vive na obscuridade,
Tem um vácuo coração
Condena a religião
Com toda incredulidade.

Helena Matias era
Filha de uma religiosa,
Dona Matilde – mãe dela
Alma santa e virtuosa
Porem ela ao contrário
Era um falso relicário
Tipo mesmo vaidosa.


Em Canindé, Ceará
Deu-se esta narração
Helena Matias Borges
Foi transformada num cão
Por sua língua ferina
Transformou sua sina
Num mais horrível dragão.

Helena de vez em quando
Dava uma surra na mãe dela
Quando a velha reclamava
Um qualquer malfeito, ela
Com isso se aborrecia
Na pobre velha batia
Até que virou cadela.

Era uma sexta-feira santa,
Conhecida da paixão,
Helena disse à mãe dela:
- Quero me virar num cão
Se esta tal sexta-feira
Da paixão não é besteira
Da nossa religião.;

- Não diga isso, minha filha,
Que é arte do anticristo
Sexta-feira da paixão
Relembra o sangue de Cristo
Que por nós foi derramado!...
Disse Helena: - Isto é gozado....
Tudo é bobagem, está visto.

- Helena por Deus te peço
Não zombes do salvador
- Minha mãe, barriga cheia,
É algo superior...
Tudo isso são bobagens,
Cristo, padre, Deus, imagem,
Para mim não tem valor.

Na hora que gente nasce
Chora logo pra comer...
Eu quero comer jabá
Só se eu ouvisse Deus dizer:
“Helena não coma isto!”
Eu que não conheço Cristo
Nunca ouvi nem posso crer.

Quando Matilde, a mãe dela
Foi aconselhar Helena,
Esta deu-lhe uma bofetada
Sem piedade, nem pena
Que a velha caiu chorando
E a deus foi suplicando
Numa praga pequena.

- Tenho fé, filha maldita
Na santa virgem Maria,
Em todos santos do céu,
Que hás de virar um dia
Numa cachorra indolente
Para saberes, serpente
Que uma mãe tem valia.

Uma rajada de vento
Passou feito um furacão
Um raio caiu bem perto
Com o ribombar do trovão
A terra toda tremeu
Logo o sol apareceu
Dois segundos na amplidão.

Helena sempre a zombar
Se pôs a carne a comer
Vendo a mãe dela chorando
Queria mais lhe bater
Mas a justiça divina
Mostrou á filha assassina
O seu supremo poder.

Dona Matilde se pôs
Naquele instante a rezar
Uma tempestade horrorosa
Caiu ali sem esperar,
Chuvas, faíscas e ventos
Com elevado pensamento,
Foi à filha aconselhar.

Helena continuava
Fazendo profanação
Comia mais por despeito
A tal carne do sertão
E disse para a mãe dela:
- Deus me vire uma cadela
Se é que ele existe ou não?

Quando Helena disse isso
O rosto todo mudou
E cauda como cadela
A moça se transformou...
Uma cachorra horrorosa
Espumando e furiosa
Naquela hora ficou.

Tinha cabeça de gente
Com a mesma feição dela
Mas o corpo até a cauda
Era uma terrível cadela...
Foi Helena castigada
Uma filha amaldiçoada
O castigo pegou nela.

Ali dentro do Canindé
A noticia se espalhou
A cachorra nesta hora
Muita gente estraçalhou
Ninguém pode matar
Cercaram para pegar
Porem ninguém a pegou.

O animal furioso
Horrível, endemoninhado,
Passou pra Pernambuco
Feito um lobo esfomeado...
Foi visto em Juazeiro
Quase matando um romeiro
De padre Cicero sagrado!

Há uns três anos passados
A tal cachorra assassina
Quase mata uma criança
Na cidade de Petrolina,
Voltou de novo a Cocal
E na estrada de Sobral
Mordeu uma pobre menina.

Em janeiro deste ano
Ela esteve na Bahia
Passou perto de Tucano
Desceu a Santa Luzia,
Passou pelo Jacuipe,
Depois chegou a Sergipe
Fazendo a mesma agonia.

Dizem que ela sempre ataca
Quando a noitinha aparece
Tem a cabeça de moça
Assim no mundo padece
Tendo o corpo de cachorra
Vive ela numa masmorra
Da mãe dela não esquece.

Duas vezes que ela foi
A zona do seu sertão
Para pedir à mãe dela
Seu sacrossanto perdão,
Com o padre se avista
E diz que ela resista
Se quer ter a salvação.

A penitencia da moça
É vinte anos sofrendo
Por isso que ela padece,
Uivando, se maldizendo
Pegando de noite gente
É uma cachorra valente
Que a anos vem aparecendo.

Afirmam que ela já foi
Há pouco desencantada
Mas é boato, pois, já
Neste mês foi avistada
No sertão de Água-Bela
E é a mesma cadela
Do Ceará encantada.

A toda moça aconselho:
- Tenha juízo bastante,
Uma mãe é pra cem filhos,
Diz o adágio importante,
Zombar de mãe é espeto
Quem escreveu o folheto
Foi Rodolfo Cavalcante.

sábado, 30 de março de 2013

MATUTO NO CINEMA

UMA HISTÓRIA MUITO BOA PRA CONTAR...
 
E o matuto, rapaz...
Anafalbeto de pai e mãe... e parteira
E sai do sertão pra capital pra assistir um filme estrangeiro legendado quando ele volta pro sertão,
mas ele num conta o filme todinho?"má rapaieu fui lá na capitá rapai eu assisti um filme altamente internacioná pense num filme internacioná!e tem uma coisa: um filme mafioso...um fime mafioso...
Ói tinha dois atista: tinha o atista que sofria e o atista que salvava.
Meu cumpadi o atista que sufria: pense num cabra corajoso!
Rapai, o caba num tinha medo de nada não rapai! Rapaz, os bandido!
os bandido pirigoso que só buchada azeda! invocado que só um fiscal de gafiera
sério que nem um porco mijano! tinha o dedo da grussura de um cabo de foimão!
amarraro o atista com imbira! e tem uma coisa: imbira dos Estado Zunido,
num tem quem se solte não rapaiz! Amarraro o atista com imbira,
butaro o caba sentado a força numa cadera ai chego o bandido, buto o dedo na cara do atista e
disse: num sei que lá, num sei que lá, num sei que lá, num sei que lá, num sei que lá.
Tá pensano que atista teve medo rapaiz? O atista amarrado com imbira rapai, teve que ouvi
tudinho, mas muito do tranquili, olhô pa cara do bandido assim e disse:
num sei que lá, num sei que lá, num sei que lá o quê mermão??? mas rapaiz...esse bandido inchô feito um cururu no sal, num sabe? isfregô o dedo na cara dele assim e disse:
num sei que lá, num sei que lá, num sei que lá, num sei que lá, seu fila da p..!!!
Tu tá pensano que o atista teve medo? oxe, amarrado com imbira, do jeito que tava,
ficô muito do tranquili, olhô assim pro vbandido e disse:
num sei que lá, num sei que lá, num sei que lá o carai!!!
Mas meu cumpadi, esse bandido pegô um ar, pense numa pegada de ar!
MAs raái, foi uma pegada de ar tão mudida do poico! ai puxô uma chibata feita de virola de pneu de
caminhão, num sabe, mais cumprida de que uma língua de manicure, deu-lhe uma chibatada tão aparetada a um coice de besta parida, que ficô iscrito assim da taba dos quexo pa porta da orelha do individuo:FIRESTONE eu sei que nessa hora, no mei dos bandido, tinha um que era do time do atista, rapai do time da gente, num sabe? e ele tava camuflado feito rapariga de pastô: num tinha quem desconfiasse, rapaiz! camuflado la por dento, e ele tinha um relógio, puxado pa telefone, ai ele foi prum pé de parede cum relógio dele aí passô o bizu pa puliça que tava lá em baixo ele pégô o relógio e disse: num sei que lá, num sei que lá, num sei que lá, num sei que lá, num sei que lá, contô tudinho à puliça a puliça lá em baxo nos carro uvindo tudo pelos radio e a puliça dos estado zunido, num se veste de puliça não! se veste de adevogado! Aí a puliça dento dos carro só fez pegá o rádio e chamá os carro tudim dos estado zunido rapaiz: acunhe, acunhe, acunhe, acunhe, todos os carro acunhe, que o negocio é serio, acunhe, acunhe, acunhe, acunhe,aí os carro acunharo,os carro acunharo, acunharo aí era mais carro em cima do prédio, de quê romero em cima de Pade Ciço o prédio, rapai era um prédio grande, tinha uns 2 ou 3 andá, ou era um colégio de frera, ou era uma prefeitura eu sei que num tinha quem entrasse:
um prédio todo de vrido, infeitado feito pintiadera de rapariga, num sabe? aí a puliça tome corda, tome corda, tome corda, tome corda, quando a gente pensava que era a puliça que ia subi por fora do prédio pra salvá o atista, aí veio o momento mais arrepiadô do filme, rapaiz! foi quando chegô o atista principal, o atista salvadô! e ele vêi num avião daquele, daquele avião que tem uma penera em cima, num sabe? aí o avião vei e o avião num vuava não: era parado, viu! o avião ficô parado em cima da prefeitura, pela capota de vrido a gente já via o atista, rapaiz o atista forte com os peitão, 2 cinturão de bala, uma ispingarda da grussura dum cano de esgoto, rapai, aí o atista fico assim na porta do avião Ó o nome do atista: Arnô Saijinegue! agora, num é esses arnô saijinegue do sertão,  é Arnô Saijinegue importado, ou é da Chequilováquia, ou é da Bolívia, tá entendendo?
Eu sei que o Arnô Saijinegue ficô na porta do avião aí o chofer do avião olhô pra ele e disse:
acunhe! Pode pulá! ai ele pulô la de cima, pulô la de cima, bateu no telhado, furô a laje,
bateu mermo no jugá onde o atista tava preso com o sbandido, pego os bandido tudo desprevinido, comendo cuzcuz com leite, rapaiz, eu sei que nessa hora, o atista pegô a ispingarda disse:
num sei que lá, num sei que lá, num sei que lá, num sei que lá, num sei que lá, num sei que lá,
ói ele matô tudinho! aí apariceu mais bandido, e foi briga de sê midida a metro!! ele deu um tabefe no cor da orelha dum caba lá chamado Mané Capado, que ele borbuletô uns 2 palmo e caiu no chão feito uma jaca mole aí eve um bandido, rapaiz, que homilhô o atista com uma dedada aonde as costa muda de nome.
Meu cumpadi, esse homi ofendido na região glútea viro uma fera e entre a rapideiz da dedada e a imediatidade do êpa, deu-lhe um berro nas oiça do sujeito que iscurrego na froxura e caiu sentado.
Nessa hora, meu cumpadi, o atista partiu pra cima dele com um gênio de 150 siri dento de uma lata de querosene, deu-le um sopapo no serrote dos dente, que chuveu canino, molar, e incisivo, por 3 dia no sítio Boca Funda.
aí nessa hora, meu cumpadi, o bandido principal saiu num derrapo de velocidade,ai o atistao atista deu-lhe um chuvaréu de bala, meu cumpadi, que a gente teve que se abaxá dento do cinema,aquelas letrinha que passa lá no filme ele derrubo umas 140,e eu ainda peguei umas 4: taqui pra você vê!!!

Por: Gabriel Queiroz
 

 

sexta-feira, 22 de março de 2013

Crônica de um amor anunciado-Martha Medeiros


 Toda pessoa apaixonada é um publicitário em potencial. Não anuncia cigarros, hidratantes ou máquinas de lavar, mas anuncia seu amor, como se vivê-lo em segredo diminuísse sua intensidade.

O hábito começa na escola. O caderno abarrotado de regras gramaticais, fórmulas matemáticas e lições de geografia, e lá, na última página, centenas de corações desenhados com caneta vermelha. Parece aula de ciências, mas é introdução à publicidade. Em breve se estará desenhando corações em árvores, escrevendo atrás da porta do banheiro e grafitando a parede do corredor: Suzana ama João.

A partir de uma certa idade, a veia publicitária vai tornando-se mais discreta. Já não anunciamos nossa paixão em muros e bancos de jardim. Dispensa-se a mídia de massa e parte-se para o telemarketing. Contamos por telefone mesmo, para um público selecionado, as últimas notícias da nossa vida afetiva. Mas alguns não resistem em seguir propagando com alarde o seu amor. Colocam anúncios de verdade no jornal, geralmente nos classificados: Kika, te amo. Beto, volta pra mim. Everaldo, não me deixe por essa loira de farmácia. Joana, foi bom pra você também?
 
O grau máximo de profissionalismo é atingido quando o apaixonado manda colocar sua mensagem num outdoor em frente a casa da pessoa amada. O recado é para ela, mas a cidade inteira fica sabendo que alguém está tentando recuperar seu amor. Em grau menor de assiduidade, há casos em que apaixonados mandam despejar de um helicóptero pétalas de rosas no endereço do namorado, ou gastam uma fortuna para que a fumaça de um avião desenhe as iniciais do casal no céu. A criatividade dos amantes é infinita.

O amor é uma coisa íntima, mas todos nós temos a necessidade de torná-lo público. É a nossa vitória contra a solidão. Assim como as torcidas de futebol comemoram seus títulos com buzinaços, foguetório e cantorias, queremos também alardear nossa conquista pessoal, dividir a alegria de ter alguém que faz nosso coração bater mais forte. É por isso que, mesmo não sendo adepta do estardalhaço, me consterno por aqueles que amam escondido, amam em silêncio, amam clandestinamente. Mesmo que funcione como fetiche, priva o prazer de ter um amor compartilhado.

sábado, 16 de março de 2013

... CUIDADO COM AS LINHAS CRUZADAS ...Luís Fernando Veríssimo

Um telefone toca num fim de tarde, começo de noite . . .

 * Alô?
* Pronto.
Ele: - Voz estranha... Gripada?
Ela: - Faringite.
Ele: - Deve ser o sereno. No mínimo tá saindo todas as noites pra badalar.
Ela: - E se estivesse? Algum problema?
Ele: - Não, imagina! Agora, você é uma mulher livre.
Ela: - E você? Sua voz também está diferente. Faringite?
Ele: - Constipado.
Ela: - Constipado? Você nunca usou esta palavra na vida.
Ele: - A gente aprende.
Ela: - Tá vendo? A separação serviu para alguma coisa.
Ele: - Viver sozinho é bom. A gente cresce.
Ela: - Você sempre viveu sozinho. Até quando casado só fez o que quis.
Ele: - Maldade sua, pois deixei de lado várias coisas quando a gente se casou.
Ela: - Evidente! Só faltava você continuar rebolando nas discotecas com as amigas.
Ele: - Já você não abriu mão de nada. Não deixou de ver novela, passear no shopping,
comprar jóias, conversar ao telefone com as amigas durante horas.

. . . Silêncio . . .

Ela: - Comprar jóias? De onde você tirou essa idéia? A única coisa que comprei
em quinze anos de casamento foi um par de brincos.
Ele: - Quinze anos? Pensei que fosse bem menos.
Ela: - A memória dos homens é um caso de polícia!
Ele: - Mas conversar com as amigas no telefone ...
Ela: - Solidão, meu caro, cansaço ... Trabalhar fora, cuidar das crianças e ainda
preparar o jantar para o HERÓI que chega à noite... Convenhamos, não chega a
ser uma roda-gigante de emoções ...
Ele: - Você nunca reclamou disso.
Ela: - E você me perguntou alguma vez?
Ele: - Lá vem você de novo... As poucas coisas que eu achava que estavam certas...
Isso também era errado!?
Ela: - Evidente, a gente não conversava nunca ...
Ele: - Faltou diálogo, é isso? Na hora, ninguém fala nada. Aparece um impasse e
as mulheres não reclamam. Depois, dizem que Faltou diálogo.
As mulheres são de Marte !
Ela: - E vocês são de Saturno!

. . . Silêncio . . .

Ele: - E aí, como vai a vida?
Ela: - Nunca estive tão bem. Livre para pensar, ninguém pra Me dizer o que devo fazer ...
Ele: - E isso é bom?
Ela: - Pense o que quiser, mas quinze anos de jornada são de enlouquecer qualquer uma.
Ele: - Eu nunca fui autoritário!
Ela: - Também nunca foi compreensivo!
Ele: - Jamais dei a entender que era perfeito. Tenho minhas limitações como qualquer
mortal ...
Ela: - Limitado e omisso como qualquer mortal.
Ele: - Você nunca foi irônica.
Ela: - Isso a gente aprende também.
Ele: - Eu sempre te apoiei.
Ela: - Lógico. Se não me engano foi no segundo mês de casamento que você lavou a
única louça da tua vida. Um apoio inestimável ... Sinceramente, eu não sei o
que faria sem você? Ou você acha que fazer vinte caipirinhas numa tarde para um
bando de marmanjos que assistem ao jogo da Copa do Mundo era realmente
o meu grande objetivo na vida ?
Ele: - Do que você está falando?
Ela: - Ah, não lembra?
Ele: - Ana, eu detesto futebol.
Ela: - Ana!? Esqueceu meu nome também? Alexandre, você ficou louco?
Ele: - Alexandre? Meu nome é Ronaldo!

. . . Silêncio . . .

Ele: - De onde está falando?
Ela: - 2578 9922
Ele: - Não é o 2578 9222?
Ela: - Não.
Ele: - Ah, desculpe, foi engano.

Depois de um tempo ambos caem na gargalhada.

Ele: Quer dizer que você faz uma ótima caipirinha, hein?
Ela: - Modéstia à parte... Mas não gosto, prefiro vinho tinto.
Ele: - Mesmo? Vinho é a minha bebida preferida!
Ela: - E detesta futebol?
Ele: - Deus me livre... 22 caras correndo atrás de uma bola... Acho ridículo!
Ela: - Bem, você me dá licença, mas eu vou preparar o jantar.
Ele: - Que pena... O meu já está pronto. Risoto, minha especialidade!
Ela: - Mentira! É o meu prato predileto...
Ele: - Mesmo! Bem, a porção dá pra dois, e estou abrindo um Chianti também.
Você não gostaria de...
Ela: - Adoraria!

Ele dá o endereço.

sábado, 2 de março de 2013

"O Seminarista" Bernardo Guimarães

O lindo romance de Bernardo Guimarães, "O Seminarista", foi publicado em 1872 e hoje em dia é um grande clássico. Conta a história de Eugênio, que passou a infância com Margarida. Ele era filho de um rico fazendeiro e ela, filha de uma agregada da casa. Quando o pai de Eugênio percebe que um amor nasceu entre os dois, manda o rapaz para um seminário, indiferente aos sentimentos do filho. Pouco tempo depois, com a ajuda dos padres, o pai inventa que Margarida vai se casar e Eugênio, diante da dor, decide pela vida de padre. Muito tempo depois, ele volta para a vila onde nasceu e é chamado para socorrer uma moça muito doente. Era Margarida, que lhe contou toda a verdade


Leia o romance clicando neste link:

domingo, 24 de fevereiro de 2013

O patinho feio- Hans Christian Andersen

Certa vez. . . há muitos anos, num espaçoso terreiro, onde viviam diversas aves, dona patinha muito simpática estava chocando a sua ninhada

Um dia começaram a quebrar. . .crac! crac!

Uma a um, os patinhos iam saindo. . .

Mas, que pena!

Ainda faltava um, que nem sequer havia picado o ovo.

Lá foi dona patinha, novamente para o choco.

E dona pata, voltou ao seu ninho.

Que fazer, a espera de mais um filho, que custava pra nascer.

De repente, partiu-se o ovo!

Mas que patinho feio!!!!

Senhor pato, muito curioso, foi ver a sua ninhada!

Que surpresa!

Mas aquele, não fazia parte de sua ninhada. Senhor pato, ficou muito bravo.

Passada uma semana, lá foi mamãe pata no seu balanço natural para as margens do lago, seguida de seus filhotes em fila.

Ela pulou na água e o mesmo fizeram eles.

Nadaram o dia todo, em giro pelo lago,

levantando pequenas ondas por onde passavam.

Numa manhã ensolarada, mamãe pata saiu com os filhotes para um passeio, quando ouviu outros patos gritarem:

- Mas como é feio aquele patinho!

E o patinho, nem bola dava. Seguia sua mãe e irmãozinhos.

Mas, pobre patinho, nem sua mãe e nem seus irmãozinhos queriam saber dele.

Aproximou-se do lago e, ao ver-se refletido na água,levou um susto!

Que feiúra!

Desconsolado e triste, saiu a procura de alguém, que pudesse ser seu amigo.

Caminhando, encontra uma família de passarinhos e tentou fazer amigos, mas sua alegria durou pouco.

Dona passarinha, não gostou do novo hóspede e enxotou-o do ninho.

Sozinho, continua caminhando, quando de repente, no lago, ele avista um enorme pássaro.

Correu e nadou até ele.

A princípio, parecia ser um bom amigo.

Brincaram bastante, quando de repente, foi atingido pelo pato de madeira, que balançava na água.

Levou tamanho susto que foi parar atrás das folhagens.

Triste, novamente sai nadando.

O tempo ia passando e a rotina era a de sempre.

Com a chegada do outono, as folhas das árvores começaram a ficar amareladas e foram caindo, espalhando-se pelo chão. Foi quando olhando para o céu, viu uma revoada de cisnes brancos.

- Que lindo e como voam!

Olhem só, mas que surpresa!

O que está acontecendo!

Não acreditando, foi olhar a sua imagem refletida no lago.

- Ora essa, que surpresa, eu sou um cisne também!

E nesse instante, feliz e levantando o lindo e belo pescoço, saiu nadando e cantando para junto de sua mãezinha.
 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

O Menino Azul - Cecília Meireles

Já que devemos incentivar as crianças a lerem, o correto é proporcionar-lhes literatura adequada e da melhor qualidade. É o caso deste livro, O Menino Azul, de Cecília Meireles, uma das maiores expressões de nossa poesia.Cecília organizou a primeira biblioteca infantil do país e, como autora, tem um estilo voltado para a simplicidade da forma e marcado pela riqueza das imagens e símbolos.A suavidade de sua poesia encanta tanto a criança como jovens e adultos. Neste livro, o imaginário infantil, tratado com leveza, é a tônica dos versos.Ainda, o sentimento toma cor e forma com as ilustrações de Lúcia Hiratsuka, que busca como a escritora, a simplicidade e a naturalidade presentes na natureza.

 

 

O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
- de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinho
que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.

(Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)

domingo, 10 de fevereiro de 2013

O Pássaro Cativo - Olavo Bilac




Armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.
Dás-lhe então, por esplêndida morada,
A gaiola dourada;
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo:
Porque é que, tendo tudo, há de ficar
O passarinho mudo,
Arrepiado e triste, sem cantar?
É que, crença, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender;
Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:
“Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro
Da selva em que nasci;
Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores,
Sem precisar de ti!
Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola
De haver perdido aquilo que perdi …
Prefiro o ninho humilde, construído
De folhas secas, plácido, e escondido
Entre os galhos das árvores amigas …
Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes? Solta-me covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade:
Não me roubes a minha liberdade …
Quero voar! voar! … “
Estas cousas o pássaro diria,
Se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
Vendo tanta aflição:
E a tua mão tremendo, lhe abriria
A porta da prisão…


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A criança que sorriu ao nascer


Nascimento e infância de Zaratustra

Há muito tempo, nas estepes a perder de vista da Ásia Central perto do Mar de Aral, havia uma pequena vila de casas de adobe, onde vivia a família Spitama. Um dia, no sexto dia da primavera, um menino nasceu naquela família. A sua mãe e seu pai decidiram dar-lhe o nome de Zaratustra. Ao nascer, Zaratustra não chorou, pelo contrário, riu sonoramente. As parteiras, vendo aquilo, admiraram-se, pois nunca tinham visto um bebê rir ao nascer.

Na vila havia um sacerdote que percebeu que aquele menino viria a ser um revolucionário do pensamento humano e o que enfraqueceria o poder dos "donos" das religiões. Ele então decidiu tomar providências e procurou Pourushaspa, o pai de Zaratustra, com a seguinte conversa: "Pourushaspa Spitama, vim avisar-lhe. Seu filho é um mau sinal para a nossa vila porque riu ao nascer, ele tem um demônio. Mate-o ou os deuses destruirão seus cavalos e plantações. Onde já se viu rir ao nascer nesse mundo triste e escuro! Os deuses estão furiosos!".

Pourushaspa não queria ferir seu filho, mas o sacerdote insistiu e impôs uma prova.

Na manhã seguinte Pourushaspa fez uma grande fogueira, e à frente de todos colocou Zaratustra no meio do fogo, mas ele não sofreu dano algum. O sacerdote ficou confuso.

Zaratustra foi levado então para um vale estreito e colocado no caminho de uma boiada de mil cabeças de gado, para ser pisoteado. O primeiro boi da boiada percebeu o menino e ficou parado sobre ele, protegendo-o, enquanto o resto passava ao lado e o bebê não sofreu um só arranhão. O sacerdote logo arquitetou outro plano. O menino Zaratustra foi colocado na toca de uma loba que, ao invés de devorá-lo, cuidou dele até que Dugdav, sua mãe, viesse buscá-lo. Diante de tantos prodígios o sacerdote ficou envergonhado e mudou-se da vila.

Ao crescer, Zaratustra peramburalava pelas estepes indagando-se: "Quem fez o sol e as estrelas do céu? Quem criou as águas e as plantas? E quem faz a lua crescer e minguar? Quem implantou nas pessoas a sua natural bondade e justiça?".

Um dia Zaratustra estava meditando às margens de um rio quando um ser estranho lhe apareceu. Ele era indescritível, tal a sua beleza e brilho. Zaratustra perguntou-lhe quem era ele, ao que teve como resposta: "Sou Vohu Mano, a Boa Mente. Vim lhe buscar". E tomou-lhe a mão, e o levou para um lugar muito bonito, onde sete outros seres os esperavam.

A Boa Mente disse-lhe então: "Zaratustra, se você quiser pode encontrar em você mesmo todas as respostas que tanto busca, e também questões mais interessantes ainda. Ahura Mazda, Deus que tudo cria e sustenta, assim escolheu partilhar a sua divindade com os seres que cria. Agora, sabendo disso, você pode anunciar essa mensagem libertadora a todas as pessoas.”

Zaratustra contestou: "Por que eu? Não sou poderoso e nem tenho recursos!". Os outros seres responderam em coro: "Você tem tudo o que precisa, o que todos igualmente têm: Bons pensamentos, boas palavras e boas ações".

Zaratustra voltou para casa e contou a todos o que lhe acontecera. A sua família aceitou o que ele havia descoberto, mas os sacerdotes o rejeitaram. Eles argumentaram: "Se é assim nada há de especial em nosso serviço, nada valem nossos sacrifícios e perderemos o poder que nos dão os deuses ciumentos e caprichos que servimos. Estamos sem trabalho e passaremos fome!". Decidiram, então, dar cabo da vida de Zaratustra.

Com sua boa mente ele entendeu que tinha que sair dali por uns tempos. Chamou seus vinte e dois companheiros e companheiras de primeira hora e fugiram com tudo o que tinham. Eles viajaram durante várias semanas até chegarem a um lugar cujo governante chamava-se Vishtaspa. Zaratustra procurou Vishtaspa e partilhou com ela a sua descoberta.

Vishtaspa respondeu ao seu apelo com uma recusa: "Por que haveria de crer nesse estranho? Meus deuses são, com certeza, mais poderosos que esse Ahura Mazda!".

Após dois anos tentando convencer Vistaspa, e enfrentando a mais cruel oposição, passando, inclusive, um tempo preso, um acidente com o cavalo de Vishtaspa ajudou a resolver a favor de Zaratustra esse impasse. À beira de morte, o cavalo tornou-se o pivot de todas as atenções. Vistaspa chamou sacerdotes, feiticeiros, médicos e sábios para salvar o seu cavalo. Juntos eles tentaram de tudo, inclusive oferecendo aos deuses dezenas de sacrifícios de outros cavalos. Além disso, brigaram entre si, fizeram intrigas, mas nada aconteceu, o cavalo de Vishtaspa só piorava. Zaratustra, que fora criado num ambiente rural, logo percebeu que ele fora envenenado. Procurando Vishtaspa ele sugeriu um remédio muito usado nesses casos em sua terra. Sem alternativas, embora descrente, Vishtaspa aceitou a ideia de Zaratustra e em dois dias seu cavalo estava de pé, sem sinal do doença.

Todos ficaram pasmos e acharam que Zaratustra tinha operado um milagre. Ele respondeu que havia apenas usado a sua boa mente e os conhecimentos que tinha adquirido em casa. Vishtaspa e sua família ficaram encantados com a honestidade e simplicidade de Zaratustra, e dispuseram-se a ouvi-lo de novo, dessa vez com coração e mentes desarmados. Em pouco tempo não só Vishtaspa e sua família haviam sido iniciados, como também grande parte de seu povo.

Embora Zaratustra pudesse ter usado a ocasião da cura do cavalo de Vishtaspa para arrogar-se poderes sobrenaturais ele preferiu ser sincero, e foi isso o que de fato mostrou a Vishtaspa a sublime beleza e profundidade da mensagem.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Zaratustra