domingo, 18 de dezembro de 2016

UM CONTO DE NATAL-Charles Dickens


Tradução de Alexandre Boide
Incluindo estudo sobre o autor, sua época e sua obra
Ebenezer Scrooge é um homem avarento e solitário.Odeia o Natal e tudo o que ele representa. Ignora familiares, empregadose não sabe o que é compaixão. Mas a aparição de um visitante-fantasma o fará repensar seu comportamento e despertará sentimentos aparentemente adormecidos.
Ambientada numa Londres gelada, às vésperas do esperado 25 de dezembro, Um conto de Natal é uma das mais belas e conhecidas histórias do gênero. Escrita às pressas em 1843 para pagar as dívidas de seu autor, Charles Dickens (1812-1870), foi um sucesso imediato de público e crítica. Por meio dessa sátira social – adaptada diversas vezes ao cinema –, Dickens teve um papel fundamental no resgate do espírito de bondade e solidariedadedas tradições natalinas.
A coleção



A coleção de clássicos em HQ reúne títulos que fazem parte do patrimônio literário mundial. Adaptadas para o universo dos quadrinhos por uma equipe de renomados roteiristas e ilustradores belgas e franceses, as edições oferecem um rico painel sobre o autor e a obra, aliando a tradição dos clássicos à linguagem original dos quadrinhos.
É um coleção espetacular, publicada originalmente pela Editora Glénat com o apoio da UNESCO, órgão cultural da ONU que só chancela projetos de alto valor pedagógico.

domingo, 23 de outubro de 2016

Poema: Não há vagas – Ferreira Gullar

Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.



Este poema escrito em 1963 ( ano em que eu nasci), pode ser analisado a partir de diferentes leituras as quais são influenciadas pelo cotidiano vivenciado por cada leitor;assim como, pelo olhar crítico e outros conhecimentos daqueles que tem formação técnica para tal análise. Embora escrito em 1963, mais de cinco décadas, expressa muito bem a realidade que estamos vivendo, de uma sociedade pobre , com um mercado de trabalho em crise e uma economia estagnada.

sábado, 15 de outubro de 2016

Sugestões de títulos de literatura infantil sobre sexo e sexualidade



Com o avanço da tecnologia, as formas de comunicação também avançaram, e não são só as pessoas adultas que estão cercadas de informações, mas as crianças também.
Na atualidade, em muitas escolas, a temática sexualidade infantil tem sido debatida, mas nem sempre educadores se sentem realmente seguros para direcioná-lo – ainda mais quando se trata de perguntas ou atitudes que exigem uma resposta ou intervenção rápida. Diante do exposto, esta postagem poderá auxiliar pais e professores quanto a isso. Primeiro é preciso criar um canal confiável de diálogo e, para tal, pode ser interessante que pais e professores atuem em conjunto. Em segundo lugar ao falar sobre a sexualidade com a criança procurar utilizar termos corretos, evitando apelidos, palavrões, etc. As respostas às perguntas devem ser feitas em uma linguagem acessível, de forma clara e objetiva, dizendo de forma simplificada exatamente o que a criança deseja saber, sem antecipar dúvidas. Caso não saiba a resposta (ou como responder), seja sincero, e busque o mais rápido possível dar esse retorno, ao invés de fingir que se esqueceu.
Outro material que poderá auxiliar os educadores, pais e responsáveis são as sugestões de títulos de literatura infantil sobre sexo e sexualidade:

DE ONDE VEM OS BEBES – Andrew Andry
SEXO E SEXUALIDADE- 6 A 10 ANOS – Cida Lopes
DE ONDE EU VIM – APRENDENDO SOBRE A SEXUALIDADE – Claire Llewellyn Mike Gordon
O PLANETA EU – CONVERSANDO SOBRE SEXO – Liliana Iacocca
OS MENINOS E AS MENINAS – Brigitte Labbe
O BEBE VEM COM CEGONHA – Patricia Engel Secco
SEXO NÃO É BICHO PAPÃO – Marcos Ribeiro
MAMÃE COMO EU NASCI – Marcos Ribeiro
MAMÃE BOTOU UM OVO – Cole Babete
MENINO BRINCA DE BONECA – Marcos Ribeiro
DE ONDE VIEMOS? – Peter Mayle Ed Nobel

Se eu Fosse Eu – Clarice Lispector


"Quando não sei onde guardei um papel importante e a procura se revela inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase "se eu fosse eu", que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar. Diria melhor, sentir.
E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser levemente locomovida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a serem elas mesmas, e mudavam inteiramente de vida. Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua porque até minha fisionomia teria mudado. Como? Não sei.
Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho, por exemplo, que por certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo o que é meu, e confiaria o futuro ao futuro.
"Se eu fosse eu" parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido. No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teríamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos enfim em pleno a dor do mundo. E a nossa dor, aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais".

(Texto extraído do livro A Descoberta do Mundo, Clarice Lispector, editora Rocco, pg. 156).

sábado, 1 de outubro de 2016

As dores e as delícias da Gestão Democrática- Professora Susete Mendes


Depois de sete meses como Diretora de escola, percebo que a construção de uma gestão democrática, não se faz apenas com minhas boas intenções e boa vontade, uma vez que deve ser discutida, compreendida e exercida, principalmente exercida, pelos estudantes, funcionários, professores, pais e mães de estudantes e ainda por toda comunidade do entorno. O trabalho é árduo e de longo prazo, pois se é verdadeira a afirmação de que para concretizar a gestão democrática, é fundamental a participação de todos os envolvidos no processo educativo, tanto na tomada de decisão, como no compartilhamento do poder; a reflexão, debate e pratica dela, deve ser naturalmente importante para todos. Mas, pergunto-me com frequência - Como afetá-los, sensibilizá-los?

Tenho vivido dias difíceis, pois, em algumas falas e atitudes de estudantes, pais de estudantes, professores e funcionários, percebe-se que muito do que está sendo feito, dito e combinado não tem importância ou significado para eles. Diante de comportamentos de negação as normas de convivência, como desrespeito ao próximo (bullyng, agressões verbais e físicas) e ao patrimônio público (pichação e depredação), muitos pedem ações opressoras, vigilância agressiva, muros altos, portas fechadas e câmeras espalhadas por todo canto da escola, entendendo essas ações como garantia do direito do professor ensinar e do aluno aprender. Quando chamados para o debate em encontros e eventos promovidos pela escola com o fim de resgatar os objetivos educacionais e revitalizar o espaço escolar, ainda poucos comparecem. E mais uma vez, me pergunto - Como envolve-los?

Quero e acredito numa escola sem muros, onde todos, professores, alunos, funcionários, gestores sintam prazer de estar e ficar; onde o respeito mútuo predomine e as atitudes de cooperação, solidariedade sejam praticadas naturalmente, pois, somente num lugar assim, será possível a democratização da educação, possibilitando não só o acesso e permanência de todos no processo educativo, mas também o sucesso escolar, o qual será reflexo de sua qualidade.
É triste que dentre tantas ações, após uma proposta de gestão democrática, nestes sete meses, ainda não tenha visualizado nenhuma que pudesse concretizar uma educação na qual predomine o diálogo e articulação colaborativa entre corpo docente, grupo gestor, funcionários, alunos e comunidade para o alcance dos objetivos educacionais. E mais triste ainda, constatar que no Séc. XXI com o fácil acesso a todo tipo de informações, a escola e a própria sociedade ainda não tenha entendido que o professor não tem mais o papel de “informar”, mas, de “formar” e portanto, faz-se necessário mudança de postura, estratégias de ensino, nas quais, sejam privilegiadas a formação global dos estudantes. É certo que avançamos na atuação dos colegiados, dando voz aos professores, alunos e comunidade, isto identifico como as “delicias” da gestão democrática, mas ainda temos dias nebulosos.


Optei pela transparência nas ações do grupo gestor, a começar pelo uso responsável das verbas públicas recebidas pela escola, pois acredito que a sua existência pressupõe a construção de um espaço público forte e aberto às diversidades de opiniões, contemplando a participação de todos que estão envolvidos com a escola.
Estou enfrentando a conflituosa realidade do corpo docente, o qual ainda está em processo de amadurecimento de uma postura de “reconhecimento da existência de diferenças de identidade e de interesses que convivem no interior da escola e que sustentam, através do debate e do conflito de ideias, o próprio processo democrático” (ARAÚJO, 2000 p. 134).
Pode-se perceber a dura e difícil tarefa que o Gestor tem que enfrentar no seu dia a dia, no sentido de promover e realizar ações educacionais que interfiram nesse quadro negativo e que efetive a educação de qualidade como direito do cidadão. Para mim a Gestão Democrática é uma meta que para ser alcançada deve ser avaliada, reorganizada e aprimorada diariamente, num longo percurso, o qual provavelmente, não poderei percorrer enquanto Diretora, porque em breve, terei de deixar a Direção, mas, talvez possa contribuir como educadora. Enquanto isso, prossigo na tentativa de encontrar respostas para as questões aqui levantadas, como também para outras que virão junto com as respostas.
No ápice das emoções, os trabalhos até aqui realizados me dão muito orgulho, pois sei que propiciei para professores e alunos alegria e esperança para construir uma escola de qualidade, claro que não fiz isso sozinha, estou sendo muito bem assistida pelas Assistentes de Direção e Coordenadoras Pedagógicas, porém sei que isso é só o primeiro passo diante de muitos outros que são e serão necessários para a escola que queremos.

Professora Susete Aparecida Rodrigues Mendes
São Paulo, 01 de outubro de 2016.



TRADUZIR-SE - Ferreira Gullar

Depois dos cinquenta anos, vivendo uma crise existencial, deparei-me com o poema TRADUZIR-SE de Ferreira Gullar e percebi que nós todos, seres humanos estamos mergulhados em redes de significados simbólicos, criados por nós mesmos, os quais acabam nos dando sentimentos de identidade. Sabemos (ou não) contudo, que tais significados nos faz perceber como pessoas que representam papéis determinados pelo avanço impetuoso da modernidade, revelando-se o único caminho para buscarmos sentido para nossas vidas. Neste poema Ferreira Gullar se identifica com todo mundo, é parte integrante da humanidade, conhecida pelos outros e por ele mesmo, outra parte dele é ninguém; isto é, desconhecida, sem identidade, que não se traduz. Na verdade, a crise de identidade é geral para toda sociedade, uma vez que temos que lidar com a exclusão , rejeição , bem como com a insegurança e a incerteza quanto ao futuro.

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?


terça-feira, 20 de setembro de 2016

"Quando vier a primavera" Alberto Caeiro

Quando vier a Primavera, 
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa 



domingo, 18 de setembro de 2016

"Miss Dollar", Machado de Assis




RESUMO: Mendonça, um jovem médico, encontra a cadelinha e ao ver o anúncio resolve devolvê-la à dona. Margarida, viúva ainda moça, é desacreditava do amor, pois seu falecido marido só era interessado em seu dinheiro. Mendonça, que faz amizade com Margarida e com todos da casa, começa a frequentar a residência. Porém, o inevitável acontece: Mendonça se apaixona por Margarida! Uma história muito interessante, uma das mais conhecidas de Machado de Assis. Faz parte do livro Contos Fluminenses.

Adoro este conto de Machado de Assis, para dizer a verdade, sempre fui fã de Machado de Assis. Neste conto em particular Machado de Assis é irônico e logo no início do texto, como, publicado abaixo, o narrador fala acerca da construção da obra, informando ao leitor que seria conveniente a apresentação da personagem Miss Dollar, mas que não o faria, pois encheria a obra de subterfúgios, desviando o leitor do principal da história. Contudo, é justamente isso que o narrador faz, mesmo não apresentando a personagem Miss Dollar, ele escreve de tal forma que o leitor divaga sobre diversas possibilidades de personalidades para Miss Dollar.
Pra quem ainda não conhece, vale a pena conhecer e pra quem já conhece vale a pena reler...enfim, é obra “Machadiana”...sempre valerá a pena ler.

ASSIM COMEÇA O CONTO .....
MISS DOLLAR
Era conveniente ao romance que o leitor ficasse muito tempo sem saber quem era Miss Dollar. Mas por outro lado, sem a apresentação de Miss Dollar, seria o autor obrigado a longas digressões, que encheriam o papel sem adiantar a ação. Não há hesitação possível: vou apresentar-lhes Miss Dollar.
Se o leitor é rapaz e dado ao gênio melancólico, imagina que Miss Dollar é uma inglesa pálida e delgada, escassa de carnes e de sangue, abrindo à flor do rosto dois grandes olhos azuis e sacudindo ao vento umas longas tranças louras. A moça em questão deve ser vaporosa e ideal como uma criação de Shakespeare; deve ser o contraste do roast-beef britânico, com que se alimenta a liberdade do Reino Unido. Uma tal Miss Dollar deve ter o poeta Tennyson de cor e ler Lamartine no original; se souber o português deve deliciar-se com a leitura dos sonetos de Camões ou os Cantos de Gonçalves Dias. O chá e o leite devem ser a alimentação de semelhante criatura, adicionando-se-lhe alguns confeitos e biscoitos para acudir às urgências do estômago. A sua fala deve ser um murmúrio de harpa eólia; o seu amor um desmaio, a sua vida uma contemplação, a sua morte um suspiro.
A figura é poética, mas não é a da heroína do romance.
Suponhamos que o leitor não é dado a estes devaneios e melancolias; nesse caso imagina uma Miss Dollar totalmente diferente da outra. Desta vez será uma robusta americana, vertendo sangue pelas faces, formas arredondadas, olhos vivos e ardentes, mulher feita, refeita e perfeita. Amiga da boa mesa e do bom copo, esta Miss Dollar preferirá um quarto de carneiro a uma página de Longfellow, coisa naturalíssima quando o estômago reclama, e nunca chegará a compreender a poesia do pôr-do-sol. Será uma boa mãe de família segundo a doutrina de alguns padres-mestres da civilização, isto é, fecunda e ignorante.

Já não será do mesmo sentir o leitor que tiver passado a segunda mocidade e vir diante de si uma velhice sem recurso. Para esse, a Miss Dollar verdadeiramente digna de ser contada em algumas páginas, seria uma boa inglesa de cinquenta anos, dotada com algumas mil libras esterlinas, e que, aportando ao Brasil em procura de assunto para escrever um romance, realizasse um romance verdadeiro, casando com o leitor aludido. Uma tal Miss Dollar seria incompleta se não tivesse óculos verdes e um grande cacho de cabelo grisalho em cada fonte. Luvas de renda branca e chapéu de linho em forma de cuia, seriam a última demão deste magnífico tipo de ultramar.
Mais esperto que os outros, acode um leitor dizendo que a heroína do romance não é nem foi inglesa, mas brasileira dos quatro costados, e que o nome de Miss Dollar quer dizer simplesmente que a rapariga é rica.
A descoberta seria excelente, se fosse exata; infelizmente nem esta nem as outras são exatas. A Miss Dollar do romance não é a menina romântica, nem a mulher robusta, nem a velha literata, nem a brasileira rica. Falha desta vez a proverbial perspicácia dos leitores; Miss Dollar é ....