sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O livro sobre nada-Manoel de Barros




É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
Tem mais presença em mim o que me falta.
Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário.
Sou muito preparado de conflitos.
Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
O meu amanhecer vai ser de noite.
Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção.
O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo.
Meu avesso é mais visível do que um poste.
Sábio é o que adivinha.
Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições.
A inércia é meu ato principal.
Não saio de dentro de mim nem pra pescar.
Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore.
Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma.
Peixe não tem honras nem horizontes.
Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando não desejo contar nada, faço poesia.
Eu queria ser lido pelas pedras.
As palavras me escondem sem cuidado.
Aonde eu não estou as palavras me acham.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
Uma palavra abriu o roupão pra mim. Ela deseja que eu a seja.
A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
Esta tarefa de cessar é que puxa minhas frases para antes de mim.
Ateu é uma pessoa capaz de provar cientificamente que não é nada. Só se compara aos santos. Os santos querem ser os vermes de Deus.
Melhor para chegar a nada é descobrir a verdade.
O artista é erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
Por pudor sou impuro.
O branco me corrompe.
Não gosto de palavra acostumada.
A minha diferença é sempre menos.
Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria.
Não preciso do fim para chegar.
Do lugar onde estou já fui embora.
Resultado de imagem para manoel de barros 
Manoel Wenceslau Leite de Barros foi um poeta brasileiro do século XX, pertencente, cronologicamente à Geração de 45, mas formalmente ao pós- Modernismo brasileiro, se situando mais próximo das vanguardas Nascimento: 19 de dezembro de 1916, Mato Grosso              Falecimento: 13 de novembro de 2014


quarta-feira, 29 de outubro de 2014

DICAS PARA FORMAÇÃO DE LEITOR


Uma forma de estimular a criança a interagir com a leitura é fazer com que dramatize a história. A criança pode fingir que é um ator e que precisa ensaiar uma peça de teatro na qual será o protagonista.
Assim, antes de começar a ler , ele poderá se divertir muito caracterizando o personagem com um traje especial ou uma maquiagem. Em nossos encontros semanais no clube da leitura da EMEF Professora Marili Dias, as personagens parecem vivas, elas saltam das histórias , desfilam e brincam pela sala de leitura.

O lúdico não está apenas no ato de brincar, está também no ato de ler, no apropriar-se da literatura como forma natural de descobrimento e compreensão do mundo. Atividades de expressão lúdico-criativas atraem a atenção das crianças e podem se constituir em um mecanismo de potencialização da aprendizagem.
No texto, o leitor tem dois papéis: o papel individual e o papel coletivo. Interagir com o seu personagem e ao mesmo tempo interagir com o grupo.“Na verdade, a atividade lúdica é uma forma de o indivíduo relacionar-se com a coletividade e consigo mesmo. ” (Amarilha, 1997: 88)
Sobre a concepção da figura do livro como brinquedo, acredita-se que esta visão só vem a contribuir na formação de um futuro leitor, Cunha (1997: 29) afirma que:

“Objetos, sons, movimentos, espaços, cores, figuras, pessoas, tudo pode virar brinquedo através de um processo de interação em que funcionam como alimentos que nutrem a atividade lúdica, enriquecendo-a.”


Amarilha (1997: 27) afirma que:


“Ao transformar essas imagens em expressão, pela linguagem verbal, entra na composição literária o elemento prazeroso. Esse componente gerador de prazer advém sobretudo da natureza lúdica da linguagem.”



Outro fator importante da atividade lúdica está no fato de que ela prevalece no tempo, e se houve um significado este será lembrado, assim como a história também ficará marcada na lembrança e vida da criança.




quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Lenda do tambor africano

Dizem na Guiné que a primeira viagem à Lua foi feita pelo Macaquinho de nariz branco. Segundo dizem, certo dia, os macaquinhos de nariz branco resolveram fazer uma viagem à Lua a fim de traze-la para a Terra. Após tanto tentar subir, sem nenhum sucesso, um deles, dizem que o menor, teve a idéia de subirem uns por cima dos outros, até que um deles conseguiu chegar à Lua.

Porém, a pilha de macacos desmoronou e todos caíram, menos o menor, que ficou pendurado na Lua. Esta lhe deu a mão e o ajudou a subir. A Lua gostou tanto dele que lhe ofereceu, como regalo, um tamborinho. O macaquinho foi ficando por lá, até que começou a sentir saudades de casa e resolveu pedir à Lua que o deixasse voltar.

A Lua o amarrou ao tamborinho para descê-lo pela corda, pedindo a ele que não tocasse antes de chegar à Terra e, assim que chegasse, tocasse bem forte para que ela cortasse o fio.
O Macaquinho foi descendo feliz da vida, mas na metade do caminho, não resistiu e tocou o tamborinho. Ao ouvir o som do tambor a Lua pensou que o Macaquinho houvesse chegado à Terra e cortou a corda. O Macaquinho caiu e, antes de morrer, ainda pode dizer a uma moça que o encontrou, que aquilo que ele tinha era um tamborinho, que deveria ser entregue aos homens do seu país. A moça foi logo contar a todos sobre o ocorrido.
Vieram pessoas de todo o país e, naquela terra africana, ouviam-se os primeiros sons de tambor.

 
 

domingo, 12 de outubro de 2014

Manuel Bandeira, "O Bicho" (1947)



Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.
                                                 
         

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Recado de Primavera -Rubem Braga


Meu caro Vinicius de Moraes:
Escrevo-lhe aqui de Ipanema para lhe dar uma notícia grave: A Primavera chegou. Você partiu antes. É a primeira Primavera, de 1913 para cá, sem a sua participação. Seu nome virou placa de rua; e nessa rua, que tem seu nome na placa, vi ontem três garotas de Ipanema que usavam minissaias. Parece que a moda voltou nesta Primavera — acho que você aprovaria. O mar anda virado; houve uma Lestada muito forte, depois veio um Sudoeste com chuva e frio. E daqui de minha casa vejo uma vaga de espuma galgar o costão sul da Ilha das Palmas. São violências primaveris.


O sinal mais humilde da chegada da Primavera vi aqui junto de minha varanda. Um tico-tico com uma folhinha seca de capim no bico. Ele está fazendo ninho numa touceira de samambaia, debaixo da pitangueira. Pouco depois vi que se aproximava, muito matreiro, um pássaro-preto, desses que chamam de chopim. Não trazia nada no bico; vinha apenas fiscalizar, saber se o outro já havia arrumado o ninho para ele pôr seus ovos.
Isto é uma história tão antiga que parece que só podia acontecer lá no fundo da roça, talvez no tempo do Império. Pois está acontecendo aqui em Ipanema, em minha casa, poeta. Acontecendo como a Primavera. Estive em Blumenau, onde há moitas de azaléias e manacás em flor; e em cada mocinha loira, uma esperança de Vera Fischer. Agora vou ao Maranhão, reino de Ferreira Gullar, cuja poesia você tanto amava, e que fez 50 anos. O tempo vai passando, poeta. Chega a Primavera nesta Ipanema, toda cheia de sua música e de seus versos. Eu ainda vou ficando um pouco por aqui — a vigiar, em seu nome, as ondas, os tico-ticos e as moças em flor. Adeus.
 
Setembro, 1980
 
Nota: Vinícius faleceu em Julho de 1980.

domingo, 7 de setembro de 2014

A Gaiola de Ouro

 
Todas as manhãs o rei acordava e tomava café da manhã em sua varanda.

A partir de certa ocasião, o rei passou a perceber a presença de um belo e colorido pássaro que parecia esperá-lo, todas as manhãs, para começar o seu canto magistral.

Numa das manhãs, o rei decidiu perguntar ao pássaro se ele desejava possuir uma gaiola. O rei lhe disse que seria uma gaiola enorme e feita de ouro; e que ele ordenaria para que todos os dias ela fosse totalmente limpa, tivesse a água e os alimentos trocados e que, se houvesse sol excessivo, que ela fosse coberta.

O rei ainda ressaltou ao pássaro que, com a gaiola, ele nunca mais teria que buscar seus alimentos ou defender-se das aves maiores, pois ali estaria totalmente protegido e seguro. Além disso, muitas pessoas passariam diariamente pela gaiola e poderiam apreciar o colorido de suas penas e a beleza do seu canto.

O pássaro ficava claramente entusiasmado à medida que o rei descrevia como a vida seria melhor com a gaiola que estava sendo imaginada. Num determinado instante, porém, o rei percebeu que o pássaro virou sua cabeça em direção a uma outra ave, que se encontrava no galho de uma árvore próxima e parecia ter acompanhado toda a conversa, quando o pássaro disse:

¾ “Mamãe, o que a senhora acha? Aceito a proposta do rei?”.

A outra ave sorriu e balançou a cabeça, como que concordando com o que ouvira.

Imediatamente, o pássaro aceitou a proposta do rei e, em dois dias, uma grande gaiola já estava construída, onde o pássaro passou a habitar.

Tudo estava maravilhoso, exatamente como o rei havia descrito!

Passados alguns meses, entretanto, o pássaro passou a ficar ansioso. Na verdade não queria mais ficar ali, limitado àquelas grades. Tinha comida e água a vontade, bem como o carinho dos funcionários, dos visitantes e, em especial, do simpático e afetuoso rei. Porém, decididamente não se encontrava satisfeito e estava aos poucos perdendo a disposição e a alegria de viver, que antes possuía. Em pouco tempo deixou de cantar e já não se alimentava direito.

Passou então a pensar em sair dali de alguma maneira. Ele poderia falar com o rei, mas ficou receoso de que ele se entristecesse e não o permitisse sair. Imaginou contar para sua mãe, que habitualmente pousava em uma árvore próxima, mas ficou com medo da reação dela, que parecia sentir-se orgulhosa pelas benesses que seu filho recebia na gaiola.  Naquela noite, o pássaro ficou muito triste e deprimido. Lágrimas caíam de seus olhinhos e ele caminhava de um lado para o outro da gaiola, mostrando-se inconsolável.

Quando o dia amanheceu, ele estava muito cansado, verdadeiramente esgotado pela terrível noite por que passara. Encostou-se então no canto da gaiola, quando percebeu que algo se moveu atrás dele.

Olhou então para trás e notou que a porta da gaiola estava aberta. Observando-a melhor, logo se deu conta de que nunca houve trava alguma que a impedisse de ser aberta. A sua liberdade, portanto, sempre esteve ali, dependendo somente... Dele mesmo!
 


sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Canaã - O lugar onde vivemos - (Projeto: “Tudo é memória” )



Pra se livrar do aluguel
A coragem recomendou
Um loteamento improvisado
Sem planejamento condizente
Nem autorização dos órgãos competentes

Canaã salvou muita gente
Do perigo eminente
De residir debaixo do viaduto
Ou terminar coberto de luto

Mesmo tendo poucos recursos
Mergulhados num imenso escuro
Cada um comprou um lote
Com sorteio planejado
Nosso bairro foi loteado

Cada dono ao receber
Seu lote demarcado
Iniciou seu trabalho
Pra deixar os terrenos com aparência de quadrado

E com uma pressa muito grande
Trabalhando sem parar
Cada um procurava construir
Cheio de alegria e energia
Sonhava possuir seu lar

E cada dia que passava
Mais construções se espalhavam
As paredes foram se erguendo
Colunas e alicerces
O espaço foi ocupando
E fileiras de casas foram se formando

As ruas foram abertas
Tratores, caminhões e caçambas
Subiam e desciam num trafegar incessante
Pedra cimento, cal e areia
Eram descarregados nas construções

Pedreiros e mais pedreiros
Entravem e saiam do loteamento
Num movimento eletrizante
Com colher de pedreiro e barbante
Que ajudavam os prumos deixar as paredes elegantes

Dificuldades, mais dificuldades
Foram surgindo
Emoções e contradições
Mesmo assim paredes continuaram ser erguidas
E por coberturas embutidas.

A água foi canalizada
A luz foi instalada
Canaã foi iluminada
Moradores foram chegando
E seu bairro habitando
Habitantes bem modestos
Cheios de coragem e honestos

Faltava muito para esta gente
Corajosa e descente
Foram muitos os esforços
Para conscientizar os órgãos competentes
A trazer para região
Serviços de Saúde e condução

Mas este povo valente não desistiu não
Lutou e melhorou a vida e condição
O progresso foi chegando e com ele
Aumentou ainda mais a população
Fazendo necessário mais escolas pra educação

A comunidade lutou, reivindicou e conseguiu
Uma pequena escola para seu bairro
Escola pequena, porém
Bem construída e limpinha
Escola Estadual Jardim Canaã, nossa escola do coração.

Autores:
Professora Moema de Almeida Castro
Alunos – 4ª serie B – Turma  2004
E. E. Jd.Canaã-Diretoria de Ensino Norte1
Rua Cel. José Gladiador, 79 – Morro Doce
São Paulo- SP