- Vocês não souberam o que aconteceu com o carro dele?
Como nenhum de nós soubesse, pôs-se a contar-nos, excitado:
-
Imaginem que tinha um sujeito se afogando na Praia de Botafogo e vários
carros já haviam parado para ver. Ele parou atrás, junto à calçada.
Então veio outro carro em disparada e bateu de cheio no dele.
- Estragou muito? – perguntou alguém da roda.
-
Espere, não foi tudo: o dele, por sua vez, bateu no da frente. O da
frente atropelou duas moças que iam passando. Elas ficaram feridas
levemente, mas os carros ficaram completamente amassados. O dele, então,
virou sanfona.
- Logo aquele carro, novinho em folha! – disse outro.
- Pois foi isso: ficou em pandarecos.
- Então vai custar um dinheirão para consertar.
- Não tinha seguro? – tornou o primeiro.
-
Ele não, mas o que bateu tem seguro contra terceiros: só que um seguro
de cem mil não dá para cobrir o estrago de jeito nenhum.
- Além do mais, é um inferno tentar receber seguro nessas situações.
- Foi o que ele me disse. E tem os outros dois carros, que naturalmente vão pleitear parte desse seguro também.
- Mas se a culpa foi do outro, tem que pagar tudo.
- Até provar que a culpa foi do outro...
- Não houve perícia?
- Não, parece que não houve perícia.
A
conversa prosseguiu entre comentários em que todos lastimavam a falta
de sorte do amigo. Todos, menos eu, que me limitava a ouvir, pensativo.
- Você não disse nada – observou um deles.
É
verdade, eu não disse nada, continuei calado. Não havia muito que
dizer, além do que já fora dito pelos outros. Mas na realidade gostaria
de saber o que foi que aconteceu com o homem que estava se afogando.
Um comentário:
Espero que alguém tenha o salvado, espero que alguém tenha ao menos tentado....
Rosangela Maria.
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