sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Pus o meu sonho num navio -Cecília Meireles

 
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
depois abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas
.

Um comentário:

João Pedro de Sousa disse...

...Considero que este poema tem uma carga emocional muito forte: é a confissão de
alguém que desistiu dos seus sonhos, da vida que gostaria de ter, para ter uma vida mais calma. Sim, porque o sonho é algo doloroso, que exige trabalho, esforço, dedicação e luta e, por vezes, nem todas as pessoas aguentam.
É um poema muito especial, porque toca aquela sensação de fraqueza que muitas vezes nos faz desistir dos nossos sonhos, ainda que temporariamente. E quantos seres que sonham, nunca sentiram a tentação de desistir, só porque é mais fácil?