segunda-feira, 9 de junho de 2014

O ENTERRADO VIVO - Carlos Drummond de Andrade








É sempre no passado aquele orgasmo,

é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.



É sempre no meu peito aquela garra.

É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.



É sempre no meu trato o amplo distrato.

Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.



É sempre nos meus pulos o limite.

É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.



Sempre no meu amor a noite rompe.

Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.



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