quarta-feira, 29 de julho de 2015

O Enterrado Vivo, de Carlos Drummond de Andrade


É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.
É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.
É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.
É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.
Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.


Carlos Drummond de Andrade, o melhor poeta mineiro, do mundo. Em suas palavras, o poeta transfigura-se em algo que possa ser eterno, em poesia. Por mais que tente enterrá-lo, sua poesia perdura pra sempre. Somos de fato um mundo? Um mundo que respira, que sofre, que goza, que chora, que ama, que vive? Não acredito que somos egocêntricos, mas temos todas as vivências do mundo dentro de nós mesmos. Resta saber se queremos viver eternamente.

fonte:https://cronicassimples.wordpress.com/tag/o-enterrado-vivo/ 

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