quinta-feira, 21 de abril de 2016

Macaca tuiué inti hu mundéo i pú cuimbisca o pé



A influência do tupi está no vocabulário da fauna. Nome de animais e plantas como jaguar, jacaré, macaco, sagui (pêlo), tapera (casa abandonada), cangueiro (de “Acanga”-cabeça, instrumento de tração para os bois), ipê, piracema, etc, etc, etc. Ao todo, como lembra Raquel F. A. Teixeira, em artigo no livro “A Temática Indígena na escola (MEC, Mari/ Unesco, Brasília, 1995), 70% do vocabulário do português brasileiro sobre animais plantas provém do tupi-guarani que tem vasta influência no nome de cidades e acidentes geográficos no país.
A contribuição do tupi-guarani deu-se também na incorporação de ditados populares no folclore brasileiro. Um deles, muito conhecido, é “Cada macaco no seu galho”. Esse ditado vem da expressão “Macaca tuiué inti hu mundéo i pú cuimbisca o pé” ( Macaco velho não mete mão em cumbuca).
Quando os tupi-guaranis citavam a expressão contavam a seguinte história.
 

Era uma vez um macaquinho guloso soube que havias frutas numa certa cumbuca feita de uma árvore chamada sapucaia. Introduziu a mão no recipiente. Ao tentar tirá-la, a mão ficou presa.

Assustado, o bichinho disparou-se aos pulos pela floresta arrastando a sapucaia e gritando desesperadamente: Ai! Ai! Ai! Cuimbisca hu pscá se pú! Ai! Ai! Ai! Cuimbusca hu pscá se pú! (Ai! Ai! Ai! Cumbuca pegou minha mão).
Os macacos assustaram-se e foram ajudar o macaquinho em apuros. Seguraram o filhote e chamaram o macaco mais velho para aconselhar como retirar a mão do macaquinho da cumbuca. O velho examinou a cumbuca, pegou uma pedra e, em repetidos golpes, quebrou a cumbuca, libertando a mão do macaquinho travesso.
Recuperado do susto, o filhote perguntou ao macaco velho: “Macaca tamuia taá inti ana cuimbisca hu pscá ana i pú? (Vovô, cumbuca já pegou sua mão?) Respondeu o macacão: Macaca tuiué inti hu mundéo i pú cuimbisca o pé (Macaco velho não mete mão em cumbuca).

domingo, 10 de abril de 2016

BALADA DO AMOR ATRAVÉS DAS IDADES Carlos Drummond de Andrade



BALADA DO AMOR ATRAVÉS DAS IDADES
                                                     
 (Carlos Drummond de Andrade)

 





Eu te gosto, você me gosta                  Depois (tempos mais amenos)
desde tempos imemoriais.                     fui cortesão de Versailles,
Eu era grego, você troiana,                  espirituoso e devasso.
troiana mas não Helena.                       Você cismou de ser freira...
Saí do cavalo de pau                           Pulei muro de convento
para matar seu irmão.                          mas complicações políticas
Matei, brigamos, morremos.                   nos levaram a guilhotina.
                                                                         
 Virei soldado romano,                          Hoje sou moço moderno,
 Perseguidor de cristãos.                      remo, pulo, danço, boxo,
 Na porta da catacumba                       tenho dinheiro no banco.
Encontrei-te novamente.                      Você é uma loura notável,
Mas quando vi você nua                       boxa, dança, pula, rema.
Caída na areia do circo                         Seu pai é que não faz gosto.
 E o leão que vinha vindo,                     Mas depois de mil peripécias,
 Dei um pulo desesperado                      eu, herói da Paramount,
e o leão comeu nós dois.                       te abraço, beijo e casamos.

Depois fui pirata mouro                  Poesia e prosa.
Flagelo da Tripolitânia.                   Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1988.
Toquei fogo na fragata
Onde você se escondia
Da fúria do meu bergantim.
Mas quando eu ia te pegar
E te fazer minha escrava,
Você fez o sinal-da-cruz
E rasgou o peito a punhal...
Me suicidei também.

domingo, 3 de abril de 2016

TUDO O QUE ACONTECE


Tudo o que acontece, acontece. Tudo o que, ao acontecer, faz com que outra coisa aconteça, faz com que outra coisa aconteça. Tudo o que, ao acontecer, faz com que ela mesma aconteça de novo, acontece de novo. Isso, contudo, não acontece necessariamente em ordem cronológica.


Douglas Adams