segunda-feira, 16 de julho de 2012

Quem cortou o nó górdio? - Jô Soares

Um professor de História suíço veio ao Brasil para avaliar o nível do nosso ensino. Assim que chegou, pediu para ser levado a uma das melhores escolas públicas de nossa cidade.
Entrou na sala de aula que abrigava a turma mais preparada e dirigiu-se ao melhor aluno da classe:
- Quem cortou o nó górdio?
- Juro que não fui eu, moço. Nem ninguém aqui da sala. Pode ser alguém do colégio, mas colega meu não foi. Ponho a mão no fogo por eles.
Horrorizado, o suíço contou o ocorrido para a professora:
- Imagine a senhora que eu perguntei àquele jovem quem foi que cortou o nó górdio e ele me respondeu que não foi ele. Garantiu também que não foi nenhum menino que conheça.
A professora retrucou:
- Bom, se ele disse que não foi ele, o senhor pode acreditar. Esse rapaz, além de muito estudioso, é incapaz de uma mentira.
Assombrado, o professor suíço entrou no gabinete da diretora do colégio:
- Francamente, não sei o que se está passando. Perguntei ao melhor aluno da turma mais preparada quem tinha cortado o nó górdio; ele me assegurou que não foi ele nem nenhum dos seus amigos. Contei o episódio para a professora e ela corroborou a versão do aluno!
A diretora, indignada com o fato, adiantou:
- Meu caro senhor, se a professora confirmou, é porque é verdade. Ela conhece muito bem os seus alunos e é uma pessoa da maior idoneidade. Há anos que trabalha no nosso estabelecimento. O jovem em questão tem muito caráter. Se tivesse sido ele, confessaria na hora. Se fosse o Juquinha, um ruivinho sardento, eu nem diria nada, porque ele é muito mentiroso.
Pasmo, o professor de História suíço deixou o educandário e foi procurar o político que o havia convidado para vir ao Brasil. Depois de ouvir atentamente o relato do estrangeiro, ele explicou:
- Meu querido professor, o senhor não está na Suíça. Aqui, o nível de ignorância e despreparo ainda é muito grande. Nós temos de começar tudo praticamente do zero. Está vendo as dificuldades que enfrentamos? Mas não quero que o senhor volte ao seu país levando uma má impressão. Se alguém cortou mesmo esse tal de nó górdio, e dá para consertar, diga logo de quanto foi o prejuízo eu pago do meu próprio bolso.
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GlossárioGÓRDIO - Rei da Frígia, antiga Ásia Menor.

NÓ GÓRDIO - Nó que é impossível de ser desatado.

CORTAR O NÓ GÓRDIO - Resolver uma grande dificuldade com rapidez e ou violência.

(Segundo a lenda, o nó górdio prendia o timão ao jugo da carreta do rei Górdio, da Frígia e quem o desatasse seria o senhor da Ásia. Alexandre Magno, diante do nó, por volta de 330 A.C., cortou-o com sua espada e invadiu a Ásia.)
(Jô Soares, Revista Veja)

15 comentários:

Suintila V. Pedreira disse...

Longe de atingir nossos professores, essa pequena "fabula" do Jô Soares ilustra muito bem a nossa tão badalada "geração Y". São ótimos em fazer buscas no Google, mas peça a um deles para explicar o significado do que procuraram, que verão absurdos do tipo ilustrado acima!

POSL Silvia Piza disse...

Triste, mas real!
Infelizmente essa é a triste realidade do Brasil.
Além das escolas não terem suporte suficiente para a educação, à formação do professor caminha para uma defasagem cada vez pior.

Anônimo disse...

o que se deixa ignorante não é a falta da capacidade de saber, mas a falta de vontade de querer aprender.

Anônimo disse...

Parabéns pelo blog. É uma ótima forma de compartilhar idéias e trabalhar com os alunos.

Cristiane Rittes

elaine - uniararas disse...

O que falta é a capacidade de ouvir,refletir e pesquisar o professor precisa se concentrar mais para poder ensinar e discutir com sabedoria!

Anônimo disse...

Olá Pof. Suse, não acho que se deva desmerecer, a capacidade do aluno, nem tão pouco dos professores do Brasil, por desconhecerem este fato histórico ocorrido à 330 anos A.C. Este prof. da Suiça, deveria se atualizar mais em suas perguntas.
Bjs...

Gláucia disse...

Sinceramente, isso "ilustra" o modelo de educação em que baseamos a formação dos nossos alunos: a de incentivá-los dar sempre respostas prontas, acabadas, inquestionáveis e supostamente verdadeiras. Ou seja, a não questionar o que não se sabe, a buscar, a buscar a aprender, a pesquisar e a relacionar ideias.

Susete Aparecida Rodrigues Mendes disse...

Olá anônimo,agradeço sua contribuição, a partir de sua reflexão sobre o assunto o que eu posso lhe dizer é o seguinte:O texto nos leva a uma reflexão mais profunda para entendermos a problematica da educação brasileira,é preciso mais do que uma interpretação"simplória", desculpe-me, não é a pergunta em si de 330 anos A.C e nem o educador suíço que o texto valoriza, mas a reflexão filosófica que aponta os problemas relacionados à base social que a educação deve atender. No cenário da educação brasileira é óbvio os problemas de concepção e de metodologia na execução das políticas educacionais no Brasil, assim como, a má formação de professores e consequentemente o ensino de péssima qualidade que acaba refletindo no jovem com formação escolar prejudicada.Infelizmente enquanto a educação brasileira reproduzir práticas escolares como mera transmissão de informações, nós não contribuiremos para a solução dos problemas da sociedade e com certeza o "nó górdio "da educação brasileira, não será desatado.

Rosa Olinda disse...

OI Suse, que bom!!! estamos aprendendo nas ferias rs...pois é se fizessem está pergunta para minha pessoa eu também ficaria de saia justa rs...quem cortou o nó górdio? rs...EDUCAÇÃO é conhecimento é fundamental na vida do aluno. Mas precisamos conhecer a nossa historia!!! tão fragmentada! e que muitos não conhecem. E aqueles que conhecem ignoram, deixando a educação a desejar, Não conhecemos totalmente a historia D.C RS...nó górdio A.C caramba Pro está foi de lascar rs...valeu pela aula. bjos

Dany disse...

Olá Amiga!!

Realmente a questão da formação docente é um processo que depende muito, também, das políticas públicas educacionais e da vontade de nossos políticos em "levantar" o Brasil... Além de outras coisas...

Denise disse...

Faltou a clássica pergunta, o que é isso?O QUE É UM NÓ GÓRDIO? pois na verdade ninguém sabia do que se tratava e nem assumiu que não sabia, apenas tentou se eximir da responsabilidade...

Dedilça Dias Chagas disse...

Estamos vivendo nos últimos tempos crises constantes de uma educação equivocada. As pessoas têm vergonha de revelar sua ignorância em determinados fatos, por isso acabam cometendo graves erros. Erram por não admitir sua ignorância e solucioná-la e erram por defenderem atitudes equivocadas dos outros. Seria interessante se não fingíssemos um conhecimento que não adquirimos. Os professores estão aí para nos ensinarmos, mas é necessário termos humildade para aprendermos e também vontade de descobrir ou entender o novo.

Susete Aparecida Rodrigues Mendes disse...

Denise e Dedilça,
O comentário de vocês me levou a pensar sobre a humildade e por humildade entendo a personalidade que assume seus deveres, obrigações, erros, culpas e limitações sem resistência.
Assim sendo, concordo com vocês; muitas vezes o "medo" ou "vergonha" de dizer: "não sei o que é isso", "nunca ouvi falar sobre isso", acaba gerando graves falhas na assimilição e circulação do conhecimento.

Um raio de sol... disse...

É por isso que se mandam as crianças à escola: não tanto para que aprendam alguma coisa, mas para que se habituem a estar calmas e sentadas e a cumprir escrupulosamente o que se lhes ordena, de modo que depois não pensem mesmo que têm de pôr em prática as suas ideias.Immanuel Kant

EU disse...

Não sei se estarei certa em meu comentário, mas acredito que:Primeiramente o Professora não é um ser que tudo sabe, ele deveria dizer que não sabia o que significaria o tal "nó" e responder que não conhece tal assunto;Mas isso não significa que ela não sabe de nada.