quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Um homem de consciência



O conto abaixo é de autoria de Monteiro Lobato, integra o livro “Cidades Mortas” e pertence à era pré-modernista da literatura brasileira.
Monteiro Lobato é nome de irrefutável destaque em obras relacionadas ao regionalismo e à denúncia da realidade brasileira. O texto reproduzido nesse post tem como personagem central um homem simples, do meio rural, que se defronta com os problemas ocorridos na região onde vive e não dá valor a si mesmo. Interessante crítica à inversão de valores e ao desprezo à moralidade que costumam ocorrer no Brasil.

Um homem de consciência"

Chamava-se João Teodoro, só. O mais pacato e modesto dos homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um defeito apenas: não dar o mínimo valor a si próprio. Para João Teodoro, a coisa de menos importância no mundo era João Teodoro.
Nunca fora nada na vida, nem admitia a hipótese de vir a ser alguma coisa. E por muito tempo não quis nem sequer o que todos ali queriam: mudar-se para terra melhor.
Mas João Teodoro acompanhava com aperto de coração o deperecimento visível de sua Itaoca.
 - Isto já foi muito melhor, dizia consigo. Já teve três médicos bem bons – agora só um e bem ruinzote. Já teve seis advogados e hoje mal dá serviço para um rábula ordinário como o Tenório. Nem circo de cavalinhos bate mais por aqui. A gente que presta se muda. Fica o restolho. Decididamente, a minha Itaoca está acabando…
João Teodoro entrou a incubar a idéia de também mudar-se, mas para isso necessitava dum fato qualquer que o convencesse de maneira absoluta de que Itaoca não tinha mesmo conserto ou arranjo possível.
 - É isso, deliberou lá por dentro. Quando eu verificar que tudo está perdido, que Itaoca não vale mais nada de nada de nada, então arrumo a trouxa e boto-me fora daqui.
Um dia aconteceu a grande novidade: a nomeação de João Teodoro para delegado. Nosso homem recebeu a notícia como se fosse uma porretada no crânio. Delegado, ele! Ele que não era nada, nunca fora nada, não queria ser nada, não se julgava capaz de nada…
Ser delegado numa cidadezinha daquelas é coisa seríssima. Não há cargo mais importante. É o homem que prende os outros, que solta, que manda dar sovas, que vai à capital falar com o governo. Uma coisa colossal ser delegado – e estava ele, João Teodoro, de-le-ga-do de Itaoca!…
João Teodoro caiu em meditação profunda. Passou a noite em claro, pensando e arrumando as malas. Pela madrugada, botou-as num burro, montou no seu cavalo magro e partiu.
 - Que é isso, João? Para onde se atira tão cedo, assim de armas e bagagens?
 - Vou-me embora, respondeu o retirante. Verifiquei que Itaoca chegou mesmo ao fim.
 - Mas, como? Agora que você está delegado?
 - Justamente por isso. Terra em que João Teodoro chega a delegado, eu não moro. Adeus.
E sumiu.”

4 comentários:

Denilson Pereira Gomes disse...

Muitos o chamariam de covarde. Eu o declaro, homem justo , que conhece seus limites. Não podemos dar garfo para quem está acostumado comer com colher. João Teodoro, por mais que soubesse quais eram as necessidades de Itaoca, sabia também que nada podia fazer, afinal ele, nada era. Nós colocamos um Jéca no poder... virão no que deu ??? um rombo de mais de $$$$$$$ de reais.

Lilian Mendes disse...

O texto de" Um homem de consciência", o próprio nome já diz, ele mesmo se outo denominava que não sabia fazer nada, então porque ficar em Itaoca cidade que já estava se acabando.O pior é que temos vários João Teodoro por ai, o melhor é nem chegar perto deles ,porque pode ser contagioso.

Morena disse...

Oie estou fazendo um trabalho para escola e não sei como responder. Vocês não poderiam me ajudar?
Qual é a gramática em Um homem de consciência de Monteiro Lobato?

Susete Aparecida Rodrigues Mendes disse...

EXEMPLO DE TEXTO SOBRE ELEMENTOS BÁSICOS

Quando a história é curta, como na narração escolar, são imprescindíveis: enredo e personagens. A perspectiva de quem escreve é dada pelo foco narrativo (de1ª ou 3ª pessoa). Os discursos (direto, indireto e indireto livre) representam a fala da personagem. No texto a seguir, "UM HOMEM DE CONSCIÊNCIA", foram apontados os elementos básicos, a estrura narrativa - exposição, desenvolvimento e desfecho-, os vários discursos e o foco narrativo. A onisciência do narrador revela-se no conhecimento íntimo que tem da personagem, desevolvendo-lhe os pensamentos e a apreensões. UM HOMEM DE CONSCIÊNCIA - DE MONTEIRO LOBATO - 1º PARÁGRAFO: Chamava-se João Teodoro, só. O mais pacato e modesto dos homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um defeito apenas: não dar o mínimo valor a si próprio. Para João Teodoro, a coisa de menos importância no mundo era João Teodoro. [Até aqui é exposição]- 2º PARÁGRAFO: Nunca fora nada na vida, nem admira a hipótese de vir a ser alguma coisa. E por muito tempo não quis nem se quer o que todos ali queriam: mudar-se para a terra melhor. [Discurso do narrador] 3ºPARÁGRAFO: Mas João acompanhava com aperto de coração o desaparecimento visível de sua Itaoca. [Discurso do narrador] 4º PARÁGRAFO:- Isso já foi muito melhor, dizia consigo. Já teve três médicos bons - agora só um bem ruinzote. Já teve seis advogados e hoje mal há serviço para um rábula ordinário como o Tenório. Nem circo de cavalinhos bate mais por aqui. A gente que presta se muda. Fica o restolho. Decididamente, a minha Itaoca está se acabando... [Monólogo interior] 5º PARÁGRAFO: João Tenório entrou a incubar a ideia de também mudar-se mas para isso necessitava dum fato qualquer que o convecesse de maneira absoluta de que Itaoca não tinha mesmo conserto ou arranjo possível. [Discurso do narrador] 6º PARÁGRAFO: - É isso deliberou lá por dentro. Quando eu verificar que tudo está perdido, que Itaoca não vale mais nada, de nada de nada, então arrumo a trouxa e boto-me fora daqui [Monólogo interior] 7º PARÁGRAFO: Um dia aconteceu a grande novidade: a nomeação de João Teodoro para delegado. Nosso homem recebeu a notícia como se fosse uma porretada no crânio. Delegado, ele! Ele que nada era, nunca fora nada, não queria ser nada, não se julgava capaz de nada... 8º PARÁGRAFO: Ser delegado numa cidadezinha daquelas é coisa serilíssima. Não há cargo mais importante. É o homem que prende os outros, que solta, que manda dar sovas, que vai à capital falar com o governo. Uma coisa colossal ser delegado - estava ele, João Teodoro, de-le-ga-do de Itaoca!... [Discurso narrador] 9º PARÁGRAFO: João Teodoro caiu em meditação profunda, passou a noite em claro, pensando e arrumando as malas. Pela madrugada botou-as num burro, montou o seu cavalo magro e partiu. [Clímax da história] 10º PARÁGRAFO:-Que isso João? Par onde se atira tão cedo, assim de armas e bagagens? 11º PARÁGRAFO: - Vou-me embora respondeu o retirante.Verifiquei que Itaoca chegou mesmo ao fim. 12º PARÁGRAFO: - Mas, como? Agora que você está delegado? 13º PARÁGRAFO: -Justamente por isso. Terra em que João Teodoro chega a delegado eu não moro. Adeus. [Discurso direto] 14º PARÁGRAFO: E sumiu. [Desfecho]

EXPOSIÇÃO: 1º PARÁGRAFO DESENVOLVIMENTO: do 2º ao 13º PARÁGRAFO DESFECHO: 14º PARÁGRAFO COMPLICAÇÃO: 7º E 8º PARÁGRAFOS CLÍMAX: 9º PARÁGRAFO

A TESSITURA NARRATIVA: a narrativa deve tentar elucidar os acontecimentos, respondendo às seguintes perguntas essenciais:

O QUE? - o(s) fato(s) que determina(m) a história; QUEM? - a personagem(s); - COMO? - o enredo, o modo como se tecem os fatos; ONDE? - o lugar ou lugares da ocorrência; QUANDO? - o momento ou momentos em que se passam os fatos; POR QUÊ? - a causa do acontecimento

Escrito por Prof. Luiz César Frade às 22h28