domingo, 7 de setembro de 2014

A Gaiola de Ouro

 
Todas as manhãs o rei acordava e tomava café da manhã em sua varanda.

A partir de certa ocasião, o rei passou a perceber a presença de um belo e colorido pássaro que parecia esperá-lo, todas as manhãs, para começar o seu canto magistral.

Numa das manhãs, o rei decidiu perguntar ao pássaro se ele desejava possuir uma gaiola. O rei lhe disse que seria uma gaiola enorme e feita de ouro; e que ele ordenaria para que todos os dias ela fosse totalmente limpa, tivesse a água e os alimentos trocados e que, se houvesse sol excessivo, que ela fosse coberta.

O rei ainda ressaltou ao pássaro que, com a gaiola, ele nunca mais teria que buscar seus alimentos ou defender-se das aves maiores, pois ali estaria totalmente protegido e seguro. Além disso, muitas pessoas passariam diariamente pela gaiola e poderiam apreciar o colorido de suas penas e a beleza do seu canto.

O pássaro ficava claramente entusiasmado à medida que o rei descrevia como a vida seria melhor com a gaiola que estava sendo imaginada. Num determinado instante, porém, o rei percebeu que o pássaro virou sua cabeça em direção a uma outra ave, que se encontrava no galho de uma árvore próxima e parecia ter acompanhado toda a conversa, quando o pássaro disse:

¾ “Mamãe, o que a senhora acha? Aceito a proposta do rei?”.

A outra ave sorriu e balançou a cabeça, como que concordando com o que ouvira.

Imediatamente, o pássaro aceitou a proposta do rei e, em dois dias, uma grande gaiola já estava construída, onde o pássaro passou a habitar.

Tudo estava maravilhoso, exatamente como o rei havia descrito!

Passados alguns meses, entretanto, o pássaro passou a ficar ansioso. Na verdade não queria mais ficar ali, limitado àquelas grades. Tinha comida e água a vontade, bem como o carinho dos funcionários, dos visitantes e, em especial, do simpático e afetuoso rei. Porém, decididamente não se encontrava satisfeito e estava aos poucos perdendo a disposição e a alegria de viver, que antes possuía. Em pouco tempo deixou de cantar e já não se alimentava direito.

Passou então a pensar em sair dali de alguma maneira. Ele poderia falar com o rei, mas ficou receoso de que ele se entristecesse e não o permitisse sair. Imaginou contar para sua mãe, que habitualmente pousava em uma árvore próxima, mas ficou com medo da reação dela, que parecia sentir-se orgulhosa pelas benesses que seu filho recebia na gaiola.  Naquela noite, o pássaro ficou muito triste e deprimido. Lágrimas caíam de seus olhinhos e ele caminhava de um lado para o outro da gaiola, mostrando-se inconsolável.

Quando o dia amanheceu, ele estava muito cansado, verdadeiramente esgotado pela terrível noite por que passara. Encostou-se então no canto da gaiola, quando percebeu que algo se moveu atrás dele.

Olhou então para trás e notou que a porta da gaiola estava aberta. Observando-a melhor, logo se deu conta de que nunca houve trava alguma que a impedisse de ser aberta. A sua liberdade, portanto, sempre esteve ali, dependendo somente... Dele mesmo!
 


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