Desde menino, quando vi as primeiras estampas coloridas no colégio (que estavam
muito longe de serem obras de arte), deixei-me encantar por elas a ponto de querer copiá-
las ou fazer alguma coisa parecida.
Não foi diferente minha reação quando li o primeiro conto, o primeiro poema e vi a
primeira peça teatral. Não se tratava de nenhum Shakespeare, de nenhum Sófocles, mas
fiquei encantado com aquilo. Posso deduzir daí que a arte me pareceu tacitamente necessária.
Por que iria eu indagar para que serviria ela, se desde o primeiro momento me tocou,
me deu prazer?
Mas se, pelo contrário, ao ver um quadro ou ao ler um poema, eles me deixassem indiferente,
seria natural que perguntasse para que serviam, por que razão os haviam feito.
Então, se o que estou dizendo tem lógica, devo admitir que quem faz esse tipo de pergunta
o faz por não ser tocado pela obra de arte. E, se é este o caso, cabe perguntar se
a razão dessa incomunicabilidade se deve à pessoa ou à obra. Por exemplo, se você entra
numa sala de exposições e o que vê são alguns fragmentos de carvão colocados no chão
formando círculos ou um pedaço de papelão de dois metros de altura amarrotado tendo
ao lado uma garrafa vazia, pode você manter-se indiferente àquilo e se perguntar o que
levou alguém a fazê-lo. E talvez conclua que aquilo não é arte ou, se é arte, não tem razão
de ser, ao menos para você.
Na verdade, a arte em si não serve para nada. Claro, a arte dos vitrais servia para acentuar
atmosfera mística das igrejas e os afrescos as decoravam como também aos palácios.
Mas não residia nesta função a razão fundamental dessas obras e, sim, na sua capacidade
de deslumbrar e comover as pessoas.
Portanto, se me perguntam para que serve a arte, respondo: para tornar o mundo mais
belo, mais comovente e mais humano.
Onda Jovem. São Paulo, ano 1, n. 3, nov. 2005/fev. 2006.
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