segunda-feira, 27 de julho de 2015

10 livros infantis que abordam os direitos humanos



Apoiando-se na leitura como porta de acesso sugerimos a seguir 10 livros infantis que abordam esses temas de forma sensível e sem artificialismos.
Boa leitura!
1.      Acompanhando meu pincel - Dulari Devi, com texto de Gita Wolf (WMF Martins Fontes, 2014)

Ao percorrer as delicadas e vibrantes ilustrações nas páginas deste livro, o leitor fica conhecendo a história de como a sua autora, a indiana Dulari Devi, se tornou uma artista. Nascida em uma família pobre, de tradição pescadora, ela precisou trabalhar na infância, ajudando a mãe na plantação de arroz, cuidando dos irmãos mais novos em casa, fazendo trabalhos domésticos para os vizinhos. O que mais gostava de fazer, no entanto, era parar no caminho para ver as outras crianças brincarem.
“Às vezes eu tinha vontade de fazer algum trabalho diferente, pois desde pequena era sempre a mesma coisa, todos os dias”, confidenciou em relato oral à editora Gita Wolf, que o reproduziu em texto no livro. Sem nunca ter ido à escola, Dulari não aprendeu a ler ou escrever, mas a vontade de “produzir alguma coisa bonita” a levou a descobrir sua vocação na pintura, especialmente na técnica Mithila, estilo que a tornou uma celebrada artista popular, e que agora usa para retratar lindamente as cenas mais marcantes da sua infância.
2. É tudo família!
Alexandra Maxeiner e Anke Kuhl (L&PM Editores, 2013)

Como um almoço de domingo, em que sempre cabe mais um, este livro abrange a diversidade das formações familiares contemporâneas. Em ritmo de HQ, ilustra algumas possibilidades: há famílias com filhos únicos ou numerosos, famílias com pais separados que podem se dar bem ou não, famílias com padrastos ou madrastas (geralmente diferentes das personagens dos filmes), famílias com pais homossexuais ou viúvos, famílias cujas crianças são criadas pelos avós, pais adotivos ou vivem em um orfanato.
Além dos diferentes tipos de laços familiares, apresentados de forma bem-humorada e sem artificialismos, o livro dá conta também de aspectos afetivos que permeiam essas relações: sentimentos como raiva, tristeza e amor, a rotina frenética de quem tem duas casas, a dor provocada pela perda de um parente querido e até mesmo circunstâncias mais obscuras, como a violência contra crianças: “Existem pais que tratam seus filhos muito mal. Nunca os abraçam ou beijam. Só gritam com eles. Outros até batem nos filhos, embora isto seja proibido!”.
3. Um outro país para Azzi
Sarah Garland (Pulo do Gato, 2012)

A partir do olhar da menina Azzi, este livro retrata uma família do Oriente Médio, que se vê obrigada a fugir quando a guerra começa a afetar sua rotina. “Às vezes, o barulho das metralhadoras nos helicópteros era tão alto que as galinhas ficavam assustadas e paravam de botar ovos”, conta a protagonista, nessa narrativa ricamente ilustrada, revelando sua perspectiva da aproximação do conflito.
Apesar das dificuldades que se impõem na travessia da sua família para um novo país – desde a fome, o frio e a sede que sentiu, passando pela preocupação com o bem-estar dos pais, até a saudade da avó, que permanece no país antigo para cuidar da casa – Azzi encara a situação como uma aventura e acaba descobrindo sentimentos que não conhecia, como a solidariedade e a esperança.
Inspirada por algumas famílias de refugiados da Birmânia e do Butão que encontrou na Nova Zelândia, a autora estudou as memórias daqueles que precisaram fugir ou foram exilados de seus países e pesquisou detalhes com professores e especialistas em leis de imigração e direitos humanos para contar uma história universal de mudança e adaptação.
4. A diaba e sua filha
Marie NDiaye, com ilustrações de Nadja Fejtö (CosacNaify, 2011)

Todos os dias, ao anoitecer, uma diaba de pele escura, olhos brilhantes e roupas muito limpas sai pelas ruas da cidade, batendo de porta em porta, em busca de sua filha perdida. Prestes a ajudá-la, as pessoas reparam que ela tem cascos negros e delicados no lugar dos pés e imediatamente a expulsam de suas casas, apagando as luzes até que se afaste.
Ao narrar esse conto de mistério, antes uma alegoria sobre nossos próprios medos e preconceitos, a autora coloca bem e mal, humanidade e demônios, nós e os outros na mesma página, nos desafiando a buscar qualquer traço de humanidade dentro de nós mesmos.
Como escreveu Mia Couto no prefácio do livro, a franco-senegalesa NDiaye fala da necessidade de classificarmos os outros e os arrumarmos em bons e maus, em anjos e monstros. “Nestas páginas se inscreve, enfim, a facilidade em culparmos e diabolizarmos os que são diferentes e o modo como os sinais de aparência (no caso, os pés de cabra) se erguem como marca de fronteira entre os ‘nossos’ e os ‘do lado de lá’.”
5. Martin e Rosa
Raphaële Frier e Zaü (Pequena Zahar, 2014)

Os ônibus só passavam em frente às casas das pessoas brancas, e negros só podiam se sentar no fundo, isso se nenhum branco quisesse o seu lugar. Restaurantes, banheiros públicos, elevadores e guichês tinham divisões de raças identificadas por tabuletas. Casais mistos também eram proibidos em qualquer lugar.
Muitos já ouviram falar sobre discriminação racial, mas poucos têm memória do quanto ela se impôs ao cotidiano dos negros no sul dos Estados Unidos, no período após a Guerra de Secessão. Para suprir essa lacuna, este livro informativo resgata alguns eventos históricos que marcaram os avanços na luta pelos direitos civis e pela igualdade entre os povos, destacando a trajetória daqueles que foram seus maiores representantes: Rosa Parks e Martin Luther King.
6. Mandela: o africano de todas as cores
Alain Serres e Zaü (Pequena Zahar, 2013)

Quando criança, ele gostava de pastorear carneiros, cortar galhos para arremessar bastão. Brincava com os cabelos brancos do pai e bebia leite recém-tirado das vacas. Um pouco mais velho, participava até tarde das conversas serenas dos adultos sobre os rumos da aldeia e queria estudar para não ter de trabalhar nas minas de ouro como os outros homens da aldeia.
Organizado em ordem cronológica, este livro apresenta a biografia de Rolihlahla, mais conhecido como Nelson Mandela, em uma linguagem poética e acessível para crianças. Em tom intimista, revela o seu percurso na África do Sul, em nome da democracia e igualdade de direitos, destacando o período de quase 30 anos que passou na prisão, até se tornar um dos maiores símbolos de resistência, coragem e paz para a humanidade.
7. Eloísa e os bichos (disponível em ISSUU
Jairo Buitrago e ilustrações de Rafael Yockteng (Pulo do Gato, 2013)

 “Eu não sou daqui. Chegamos numa tarde, quando eu era bem pequena.” Assim começa o relato da protagonista, uma menina que chega a uma nova cidade com seu pai, em busca de uma vida melhor, talvez até fugindo de um passado doloroso. Nesse cenário, tudo o que ela encontra é um mundo estranho, onde as coisas obedecem a regras diferentes.
Ao aliar um texto conciso a ilustrações simbólicas e ricas em detalhes, este livro pousa um olhar terno e renovador sobre questões sociais, como o deslocamento, o respeito à diversidade e a recusa à intolerância. Segundo descrição na revista espanhola “Babar”, este é um daqueles livros aos quais se retorna mais de uma vez, procurando descobrir o segredo da sua grande carga emotiva e humana. “Como é possível dizer tanto em tão poucas páginas e frases tão sucintas?”
8. O mundo no Black Power de Tayó
Kiusam de Oliveira e ilustração de Taisa Borges (Peirópolis, 2013)

A protagonista deste livro é uma menina de 6 anos que, além de brincar e adorar bichos, tem orgulho da sua pele e dos seus olhos negros. Apesar do preconceito das outras crianças, faz questão de enfeitar seu cabelo black power das formas mais criativas. Seu nome, Tayó, originário do idioma africano iorubá, significa “da alegria” e espelha a forma como ela se relaciona com as pessoas a sua volta e com suas raízes.
Vencedor do Prêmio ProAC de Cultura Negra em 2012, este livro traz uma mensagem de valorização das raízes culturais brasileiras. “Hoje, eu olho para Tayó e posso ver minhas sobrinhas, primas, alunas – posso ver a mim mesma – e sentir orgulho. Isso, em termos de identidade, é fundamental, uma vez que as crianças negras não têm modelos positivos nas revistas e programas de televisão como espelho. É um caminho que ainda deve ser construído pelas mídias brasileiras”, afirma a autora.
9. A história de Júlia e sua sombra de menino
Christian Bruel e Anne Galland, com ilustrações de Anne Bozellec (Scipione, 2010)

“Você sempre tem que fazer tudo tão diferente?”, interroga a mãe. Ao que a filha responde: “Eu não sou como todo mundo, mamãe. Eu sou a Júlia!” O título do livro, somado a este diálogo em família, já dá uma ideia dos rumos desta narrativa. Pressionada pelo olhar vigilante dos pais, que não ‘entendem’ o seu comportamento, um dia Júlia acorda e se percebe com uma sombra de menino.
Por aí segue a história, que além do tema da aceitação e da busca pela identidade, aborda as diferentes concepções da infância, as tentativas dos pais em enquadrar os filhos em suas próprias expectativas e a cumplicidade entre as crianças que vivem situações semelhantes. Um clássico da literatura infantil francesa, publicado originalmente em 1976 e traduzido para vários idiomas.
10. O nascimento de Celestine 
Gabrielle Vincent (Editora 34, 2014)

Esta é uma história sobre o afeto e a amizade, que começa no dia em que o solitário urso Ernest encontra a ratinha Celestine abandonada em uma lata de lixo. Descortinam-se, a partir daí, os preconceitos que enfrenta para ficar com ela e os cuidados que dedica ‘ao bebê’ nos momentos mais difíceis.
Um livro-chave da artista belga Gabrielle Vincent (1928-2000) que, com poucas palavras e finos traços de sonho, em tons de sépia, mostra porque esses personagens conquistaram leitores no mundo inteiro. O editor Arnaud de la Croix escreve no posfácio: “[Ernest e Celestine] não são datados, uma vez que tratam do essencial: os sentimentos compartilhados”

Sugestões de:
Cristiane Tavares - jornalista e mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP, coordenadora de um projeto de formação de professores na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo.
Sandra Medrano - pedagoga e mestre em didática da Língua Portuguesa, coordenadora de projetos de formação de professores na Comunidade Educativa CEDAC e no Laboratório de Educação.
Thaís Albieri – editora, bacharel em Letras pela Unicamp-SP, onde fez mestrado e doutorado em Literatura Brasileira.

domingo, 12 de julho de 2015

O AMANHÃ PODE SER PARA SEMPRE

Se hoje o dia foi de desesperança, o amanhã pode ser vida que se renova. Se agora somos dores do passado, o amanhã poderá ser o inicio do futuro, de sonhos que hoje findaram. Se uma floração hoje murchou nas nossas almas, amanhã um mago das cores poderá cuidar em semear as raízes de um novo tempo. O importante é não desacreditar, apesar de todos os desgostos de hoje, que amanhã a vida continua.

Amanhã poderei ser coragem escassa, mas lutarei por todos meus anseios de vitória. Poderei ser pressa desatinada, mas tentarei ser calma que inspira. Buscarei forças para ser audaz, para ser um garimpeiro da felicidade que hoje vacilou seus passos. Prometo que não serei a mentira que maltrata, mas a verdade que anima. Lutarei para ser um campeador audaz. Não ficarei só entre a coragem e o medo. Entre sonhos e pesadelos, mas cuidarei de fantasiar a vida. Serei esforço para ser um amortecedor de todos os infortúnios de hoje.

Prometo que amanhã começa o meu futuro. Serei vento forte, em vez da timidez da brisa, serei vida intensa, em vez da morte. Serei céu sem nuvens, em vez de solo árido, um cantar de orações, em vez de lamentos que não findam. Serei olhos atentos, em vez de barco sem rumo. Serei paz, em vez de rancor. Serei alegria, em vez de dor. Serei um semeador do meu próprio interior. Arrancarei das minhas entranhas o dia de hoje, plantarei nelas as sementes de um amanhã que imagino glorioso, soberbo. Afinal, tudo depende de mim. Eu faço a minha vida, o meu futuro. Serei muitas lembranças, mas não saudades que apavoram.

Decido agora que amanhã não serei o berço do ranço próprio dos inimigos, como são o fogo e a água, o amor e o desamor, a fé e o incrédulo, os mares revoltos e a calmaria das enseadas, a matéria e o espírito, a palavra e o silêncio. Não serei fel, nem inquietudes, serei chuva leve ao amanhecer e sol forte ao entardecer.

Amanhã serei o que quero ser - vida em profusão, o abraço fraterno. Comerei do cardápio que minha alma escreveu e que meu olhar semeou. Se, preciso for, me alimentarei das paredes do meu próprio coração, mas não permitirei que ele se incendeie de egoísmos, de desforras, de rancores.

Se hoje é dia para esquecer, amanhã será memória eterna. A visão azul celeste do infinito. Amanhã não mais serei retalhos. Serei inteiro. Não espalharei pelas ruas meus pedaços, os duros recados da vida, serei a imagem da força, braços estendidos, mãos acariciantes, passos firmes buscando caminhos perdidos na bruma do tempo.

Não serei sofrimento, tormento, desilusão. Quero ser a emoção do amor, da amizade, a cor da fraternidade. Nunca serei amanhã a ambição sem medidas. Rasgarei todos os disfarces que escondem minhas dores. Serei ousado o suficiente para enfrentar todos os estorvos da vida.

Na verdade, amanhã tentarei começar a viver o futuro e, imitando os pássaros, buscarei todos os ventos da liberdade que correm pelo espaço sem fim. Se existe uma oportunidade de sentir outra vez o gosto do mel da felicidade, serei, amanhã, novamente vida em abundância. Amanhã, o meu amanhã poderá ser para sempre e, assim, talvez eu encontre um atalho para sair em definitivo do emaranhado da selva da vida.

sábado, 27 de junho de 2015

Peça infantil- Luís Fernando Veríssimo


 

A professora começa a se arrepender de ter concordado (”você é a única que tem temperamento para isto”) em dirigir a peça quando uma das fadinhas anuncia que precisa fazer xixi. é como um sinal. todas as fadinhas decidem que precisam, urgentemente, fazer xixi.

— está bem, mas só as fadinhas — diz a professora. — e uma de cada vez!         
As fadinhas vão em bando para o banheiro.
— uma de cada vez! uma de cada vez! e você, onde é que pensa que vai?
— ao banheiro.
— não vai, não.
— mas tia…
— em primeiro lugar, o banheiro já está cheio. em segundo lugar, você não é fadinha, é caçador. volte para o seu lugar.
Um pirata chega atrasado e com a notícia de que sua mãe não conseguiu terminar a capa. serve uma toalha?
— não. você vai ser o único de capa branca. é melhor tirar o tapa-olho e ficar de anão. vai ser um pouco engraçado, oito anões, mas tudo bem. por que você está chorando?
— eu não quero ser anão.
— então fica de lavrador.
— posso ficar com o tapa-olho?
— pode. um lavrador de tapa-olho, tudo bem.
— tia, onde é que eu fico?
é uma margarida.
— você fica ali.
A professora se dá conta de que as margaridas estão desorganizadas.
— atenção, margaridas! todas ali. você não. você é coelhinho.
— mas meu nome é margarida.
— não interessa! desculpe, a tia não quis gritar com você. Atenção, coelhinhos. todos comigo. margaridas ali, coelhinhos aqui. lavradores daquele lado, árvores atrás. árvore, tira o dedo do nariz. onde é que estão as fadinhas? que xixi mais demorado!
— eu vou chamar.
— fique onde está, lavrador. uma das margaridas vai chamá-las.
— já vou.

— você não, margarida! você é coelhinho. uma das margaridas. você. vá chamar as fadinhas. piratas, fiquem quietos!
— tia, o que é que eu sou? eu esqueci o que eu sou.
— você é o sol. fica ali que depois a tia… piratas, por favor!
As fadinhas começam a voltar. com problemas. muitas se enredaram nos seus véus e não conseguem arrumá-los. ajudam-se mutuamente mas no seu nervosismo só pioram a confusão.
— borboletas, ajudem aqui! — pede a professora.
mas as borboletas não ouvem. as borboletas estão etéreas. as borboletas fazem poses, fazem esvoaçar seus próprios véus e não ligam para o mundo. a professora, com a ajuda de um coelhinho amigo, de uma árvore e de um camponês, desembaraça os véus das fadinhas.
— piratas, parem. o próximo que der um pontapé vai ser anão.
desastre: quebrou uma ponta da lua.
— como é que você conseguiu isso? — pergunta a professora sorrindo, sentindo que o seu sorriso deve parecer demente.
— foi ela!
a acusada é uma camponesa gorda que gosta de distribuir tapas entre os seus inferiores.
— não tem remédio. tira isso da cabeça e fica com os anões.
— e a minha frase?

A professora tinha esquecido. a lua tem uma fala.
— quem diz a frase da lua é, deixa ver… o relógio.
— quem?
— o relógio. cadê o relógio?
— ele não veio.
— o quê?
— está com caxumba.
— ai, meu deus. sol, você vai ter que falar pela lua. sol, está me ouvindo?
— eu?
— você, sim senhor. você é o sol. você sabe a fala da lua?
— me deu uma dor de barriga.

— essa não é a frase da Lua.
— me deu mesmo, tia. tenho que ir embora.
— está bem, está bem. quem diz a frase da lua é você.
— mas eu sou caçador.
— eu sei que você é caçador! mas diz a frase da lua! eu não quero discussão!
— mas eu não sei a frase da lua.
— piratas, parem!
— piratas, parem! certo?
— eu não estava falando com você. piratas, de uma vez por todas…
A camponesa gorda resolve tomar a justiça nas mãos e dá um croque num pirata. a classe unida avança contra a camponesa, que recua, derrubando uma árvore. as borboletas esvoaçam. os coelhinhos estão em polvorosa. a professora grita:
— parem! parem! a cortina vai abrir. todos a seus lugares. vai começar!
— mas, tia, e a frase da lua?
— “boa-noite, sol”.
— boa-noite.
— eu não estou falando com você!
— eu não sou mais o sol?
— é. mas eu estava dizendo a frase da lua. “boa-noite, sol.”
— boa-noite, sol. boa-noite, sol. não vou esquecer. boa-noite, sol…
— atenção, todo mundo! piratas e anões nos bastidores. quem fizer um barulho antes de entrar em cena, eu esgoelo. coelhinhos nos seus lugares. árvores para trás. fadinhas, aqui. borboletas, esperem a deixa. margaridas, no chão.
Todos se preparam.
— você não, margarida! você é o coelhinho!
abre o pano.


Quando li este texto do Luis Fernando Veríssimo, corri para meu álbum de fotografias e senti... SAUDADE...MUITA SAUDADE DOS MEUS ALUNOS E DE TUDO ISSO..OBRIGADA PELOS BONS TEMPOS!!!!!!
....O IMPORTANTE É QUE EMOÇÕES EU VIVI.... ser professor é isso...VALEU


domingo, 31 de maio de 2015

A mcdonaldização da escola -GENTILI, Pablo; ALENCAR, Francisco.



A mcdonaldização da escola

Este foi o nome atribuído por Pablo Gentili ao processo de transferência  dos princípios que regulam a lógica de funcionamento dos fast foods a espaços institucionais cada vez mais amplos na vida social do capitalismo contemporâneo. Traduz-se numa metáfora que representa a lógica das administrações neoliberais.
Na concepção neoliberal, as instituições escolares devem funcionar como empresas produtoras de serviços educacionais. A interferência estatal não pode questionar o direito de livre escolha que os consumidores de educação devem realizar no mercado escolar. Por isso a rede Mc Donald.s representa um bom modelo organizacional para a modernização escolar. Gentili diz que na visão real, mas não publicizada dos neoliberais, tanto os fast foods como a escola existem para dar conta de duas necessidades fundamentais: comer e ser socializado. E continua: o que unifica o Mc Donald.s e a utopia educacional dos homens de negócios é que, em ambos, a mercadoria oferecida deve ser produzida de forma rápida e de acordo com certas e rigorosas normas de controle da eficiência e produtividade. Se o  sistema escolar tem que se configurar como mercado educacional, as escolas devem então definir estratégias competitivas para atuar em tais mercados conquistando a diversidade existente nas demandas de consumo por educação. Poderíamos ainda questionar porque o mercado educacional precisa ser competitivo. A isso Gentili responderia que assim como as pessoas precisam comer hambúrgueres porque o trabalho o exige, também precisam educar-se porque o conhecimento se transformou na chave de acesso à nova sociedade do saber.
A necessidade de permitir a competição entre as instituições explica a ênfase em mecanismos de desregulamentação, flexibilização da oferta e livre escolha dos consumidores na esfera educacional. E a possibilidade de construção de um mercado escolar competitivo depende da difusão de rigorosos critérios de regulação interna que conduzam o cotidiano da escola, de modo semelhante ao que ocorre nos  fast foods,cuja lógica é a de quem mais produz, mais ganha.
Para Gentili, o processo de mcdonaldização da escola também tem seu efeito no currículo e na formação de professores através do que ele chama de planejamento de cardápios e estratégias neo tecnicistas. Em outras palavras, as políticas de formação docente vão se configurando como pacotes fechados de treinamento planejados de forma centralizada sem participação dos professores. A pedagogia fast food – sistemas de treinamento rápido com poder disciplinador e altamente centralizado em seu planejamento e aplicação - também seria um sintoma dessa nova forma de olhar e gerenciar a escola. Decorre disso que, na visão neoliberal, formar um professor não costuma ser considerada uma tarefa mais complexa do que a de treinar um preparador de hambúrgueres. Em relação ao ideal de progressiva universalização da escola pública, Gentili argumenta que poderíamos suspeitar que os Mc Donald.s tivessem melhor futuro que a escola pública, uma vez que reforma escolar na visão neoliberal se reduz a uma série de critérios empresariais de caráter alienante e excludente. Para encontrar possíveis saídas para essa crise, os neoliberais acreditam que os homens de negócios devem ser consultados.
Gentili finalmente alerta que é nesse contexto que deve ser compreendida a atitude mendicante e cínica dos governantes que solicitam aos empresários que, por exemplo, adotem uma escola; nessas circunstâncias, os padrinhos doariam recursos financeiros e princípios morais baseados na qualidade total e no esforço individual. Entretanto, os neoliberais reconhecem que a crise na educação envolve um conjunto de problemas técnicos e pedagógicos desconhecidos pelos empresários. Assim, sair da crise pressupõe consultar especialistas e técnicos competentes que seriam os peritos em currículo, em formação de professores a distância, especialistas em tomadas de decisão com escassos recursos, sabichões reformadores do Estado, intelectuais competentes em redução de gastos públicos e doutores em eficiência e produtividade; todos retirados de organismos internacionais.

GENTILI, Pablo; ALENCAR, Francisco. Educar para a esperança em tempo de desencanto. Petrópolis: Vozes, 2001

sábado, 23 de maio de 2015

As redes sociais nos transformaram em narcisistas? O que é uma " selfie " ?



O egoísmo é uma reação inevitável em plataformas sociais?

 Existe síndrome " selfie " ?
Auto fotografar-se, o ato de usar um smartphone ou mesmo uma webcam enquanto estamos comendo sushi no restaurante japonês favorito , quando compramos um carro novo, uma roupa nova, tudo é motivo para postar estas fotos na Rede Social.
Junto com os avanços da tecnologia e da ascensão das redes sociais, " selfies " é um auto retrato repetidamente na mesma posição e lançado quase que instantaneamente em seus perfis sociais. A partir dai, a  principal preocupação é quantos "likes" ou como " retweets " receberá a foto em questão . E se , além disso, dedicarmos um ou mais comentários , a popularidade aumenta , mais ainda .
" Selfie " o que você diz sobre suas fotos ?
Se você é fanático em compartilhar seu auto retrato ( selfie ) em redes sociais ou conhece alguém assim , esta informação que lhe interessa , como dizem os especialistas quando isso é feito repetidamente , está expressando certas necessidades ... O que você acha ?
Sob a hashtag (etiqueta) # eu ou #selfie , que muitas vezes acompanha a auto retratos , milhares de pessoas postam suas fotos em redes sociais; somente no Facebook é estimado  circular mais de 240 bilhões, mas por que fazer isso ? Os motivos variam :

  1. Para se divertir.
  2. Para mostrar realizações.
  3. Como mensagem para alguém.
  4. Para compartilhar momentos.
 
 

Uma análise descreve como o uso excessivo de Facebook e Twitter desperta o Narcisismo nos usuários. 
 Embora pareça só  uma moda , especialistas alertam sobre os seus efeitos.
Embora você não deva generalizar especialistas em psicologia alertam que expor excessivamente a vida pessoal, pode suscitar discussões como baixa autoestima, aqueles que procuram aprovação e aceitação dos outros.

Os sociólogos e psiquiatras concordam que as pessoas exibem apenas o que acham bonito exibir, construindo, assim, uma identidade  para a consideração, feedback e validação de outras pessoas.

Sendo assim, podemos considerar  a tendência Selfie como um ato de vaidade que indica narcisismo, ou , a falta de autoestima que resulta na necessidade de auto afirmação e construção de identidade.
Eu, eu, eu " parece ser o mantra de hoje. Será que vamos estar recebendo narcisista na cultura digital? Tirar uma foto de si mesmo , ocasionalmente, pode ser divertido se não levar a sério. No entanto, quando vemos pessoas tirando fotos a cada cinco minutos , em todas as poses e as circunstâncias possíveis para publicá-las em redes sociais e alterar o seu perfil todos os dias ,é algo preocupante...

Será  solidão , insegurança ,  vaidade ?

Bom, antes de postar suas fotos nas grandes redes como Facebook , seria conveniente pensar por que você faz ? , Você considera selfie ? , Você precisa de algum tipo de ajuda?