A mcdonaldização da escola
Este foi o nome atribuído por Pablo
Gentili ao processo de transferência dos
princípios que regulam a lógica de funcionamento dos fast foods a espaços
institucionais cada vez mais amplos na vida social do capitalismo
contemporâneo. Traduz-se numa metáfora que representa a lógica das
administrações neoliberais.
Na concepção neoliberal, as
instituições escolares devem funcionar como empresas produtoras de serviços
educacionais. A interferência estatal não pode questionar o direito de livre
escolha que os consumidores de educação devem realizar no mercado escolar. Por
isso a rede Mc Donald.s representa um bom modelo organizacional para a
modernização escolar. Gentili diz que na visão real, mas não publicizada dos
neoliberais, tanto os fast foods como a escola existem para dar conta de duas
necessidades fundamentais: comer e ser socializado. E continua: o que unifica o
Mc Donald.s e a utopia educacional dos homens de negócios é que, em ambos, a
mercadoria oferecida deve ser produzida de forma rápida e de acordo com certas
e rigorosas normas de controle da eficiência e produtividade. Se o sistema escolar tem que se configurar como
mercado educacional, as escolas devem então definir estratégias competitivas
para atuar em tais mercados conquistando a diversidade existente nas demandas
de consumo por educação. Poderíamos ainda questionar porque o mercado
educacional precisa ser competitivo. A isso Gentili responderia que assim como
as pessoas precisam comer hambúrgueres porque o trabalho o exige, também
precisam educar-se porque o conhecimento se transformou na chave de acesso à
nova sociedade do saber.
A necessidade de permitir a competição
entre as instituições explica a ênfase em mecanismos de desregulamentação,
flexibilização da oferta e livre escolha dos consumidores na esfera
educacional. E a possibilidade de construção de um mercado escolar competitivo
depende da difusão de rigorosos critérios de regulação interna que conduzam o
cotidiano da escola, de modo semelhante ao que ocorre nos fast foods,cuja lógica é a de quem mais produz,
mais ganha.
Para Gentili, o processo de
mcdonaldização da escola também tem seu efeito no currículo e na formação de
professores através do que ele chama de planejamento de cardápios e estratégias
neo tecnicistas. Em outras palavras, as políticas de formação docente vão se
configurando como pacotes fechados de treinamento planejados de forma
centralizada sem participação dos professores. A pedagogia fast food – sistemas
de treinamento rápido com poder disciplinador e altamente centralizado em seu
planejamento e aplicação - também seria um sintoma dessa nova forma de olhar e
gerenciar a escola. Decorre disso que, na visão neoliberal, formar um professor
não costuma ser considerada uma tarefa mais complexa do que a de treinar um
preparador de hambúrgueres. Em relação ao ideal de progressiva universalização
da escola pública, Gentili argumenta que poderíamos suspeitar que os Mc
Donald.s tivessem melhor futuro que a escola pública, uma vez que reforma
escolar na visão neoliberal se reduz a uma série de critérios empresariais de
caráter alienante e excludente. Para encontrar possíveis saídas para essa
crise, os neoliberais acreditam que os homens de negócios devem ser
consultados.
Gentili finalmente alerta
que é nesse contexto que deve ser compreendida a atitude mendicante e cínica
dos governantes que solicitam aos empresários que, por exemplo, adotem uma
escola; nessas circunstâncias, os padrinhos doariam recursos financeiros e
princípios morais baseados na qualidade total e no esforço individual.
Entretanto, os neoliberais reconhecem que a crise na educação envolve um
conjunto de problemas técnicos e pedagógicos desconhecidos pelos empresários.
Assim, sair da crise pressupõe consultar especialistas e técnicos competentes
que seriam os peritos em currículo, em formação de professores a distância,
especialistas em tomadas de decisão com escassos recursos, sabichões reformadores
do Estado, intelectuais competentes em redução de gastos públicos e doutores em
eficiência e produtividade; todos retirados de organismos internacionais.
GENTILI, Pablo; ALENCAR,
Francisco. Educar para a esperança em tempo de desencanto. Petrópolis:
Vozes, 2001
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