quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Contos Africanos


Os Griots
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Depois de um bom jantar, com a lua brilhando, as pessoas de uma aldeia na África antiga podem ouvir o som de um tambor, chocalho, e uma voz que gritava: "Vamos ouvir, vamos ouvir!" Esses foram os sons do griot, o contador de histórias.

Quando eles ouviram o chamado, as crianças sabiam que estavam indo para ouvir uma história maravilhosa, com música e dança e música! Talvez hoje a história seria sobre Anansi, a aranha. Todo mundo adorava Anansi. Anansi podia tecer as teias mais bonitas. Ele foi quem ensinou o povo de Gana como tecer o pano de lama bonito. Anansi teve uma boa esposa, filhos fortes, e muitos amigos. Ele entrou em muita confusão, e usou sua inteligência e poder do humor de escapar.

Houve outras histórias que o povo gostava de ouvir mais e mais. Algumas histórias eram sobre a história da tribo. Alguns eram grandes guerras e batalhas. Algumas eram sobre a vida cotidiana. Não havia linguagem escrita na África antiga. Os narradores acompanhavam a história do povo.

Havia geralmente apenas um contador de histórias por aldeia. Se uma vila tentava roubar um contador de histórias de outra aldeia, era motivo de guerra! Os contadores de histórias foram importantes. Os griots não eram as únicas pessoas que podiam contar uma história. Qualquer um poderia gritar: "Vamos ouvir, vamos ouvir!" Mas os griots eram os "oficiais" contadores de histórias. O griot aldeia não tem que trabalhar nos campos. Sua tarefa era contar histórias.

Mil anos mais tarde, novas histórias sobre novos triunfos e novas aventuras ainda estão sendo informados pela aldeia pelos Griots.
Fonte: http://africa.mrdonn.org/fables.html

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Ananse
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Ananse, ou Anansi, é uma lenda africana. Conta um caso interessante, no qual no mundo antigo não havia histórias e por isso viver aqui era muito triste.

Houve um tempo em que na Terra não havia histórias para se contar, pois todas pertenciam a Nyame, o Deus do Céu. Kwaku Ananse, o Homem Aranha, queria comprar as histórias de Nyame, o Deus do Céu, para contar ao povo de sua aldeia, então por isso um dia, ele teceu uma imensa teia de prata que ia do céu até o chão e por ela subiu.

Quando Nyame ouviu Ananse dizer que queria comprar as suas histórias, ele riu muito e falou: - O preço de minhas histórias, Ananse, é que você me traga Osebo, o leopardo de dentes terríveis; Mmboro os marimbondos que picam como fogo e Moatia a fada que nenhum homem viu.

Ele pensava que com isso, faria Ananse desistir da idéia, mas ele apenas respondeu: - Pagarei seu preço com prazer, ainda lhe trago Ianysiá, minha velha mãe, sexta filha de minha avó.

Novamente o Deus do Céu riu muito e falou: - Ora Ananse, como pode um velho fraco como você, tão pequeno, tão pequeno, pagar o meu preço?

Mas Ananse nada respondeu, apenas desceu por sua teia de prata que ia do Céu até o chão para pegar as coisas que Deus exigia. Ele correu por toda a selva até que encontrou Osebo, leopardo de dentes terríveis. - Aha, Ananse! Você chegou na hora certa para ser o meu almoço. - O que tiver de ser será - disse Ananse - Mas primeiro vamos brincar do jogo de amarrar? O leopardo que adorava jogos, logo se interessou: - Como se joga este jogo? - Com cipós, eu amarro você pelo pé com o cipó, depois desamarro, aí, é a sua vez de me amarrar. Ganha quem amarrar e desamarrar mais depressa. - disse Ananse. - Muito bem, rosnou o leopardo que planejava devorar o Homem Aranha assim que o amarrasse.

Ananse, então, amarrou Osebo pelo pé, pelo pé e pelo pé, e quando ele estava bem preso, pendurou-o amarrado a uma árvore dizendo: - Agora Osebo, você está pronto para encontrar Nyame o Deus do Céu.

Aí, Ananse cortou uma folha de bananeira, encheu uma cabaça com água e atravessou o mato alto até a casa de Mmboro. Lá chegando, colocou a folha de bananeira sobre sua cabeça, derramou um pouco de água sobre si, e o resto sobre a casa de Mmboro dizendo: - Está chovendo, chovendo, chovendo, vocês não gostariam de entrar na minha cabaça para que a chuva não estrague suas asas? - Muito obrigado, Muito obrigado!, zumbiram os marimbondos entrando para dentro da cabaça que Ananse tampou rapidamente.

O Homem Aranha, então, pendurou a cabaça na árvore junto a Osebo dizendo: - Agora Mmboro, você está pronto para encontrar Nyame, o Deus do Céu.

Depois, ele esculpiu uma boneca de madeira, cobriu-a de cola da cabeça aos pés, e colocou-a aos pés de um flamboyant onde as fadas costumam dançar. À sua frente, colocou uma tigela de inhame assado, amarrou a ponta de um cipó em sua cabeça, e foi se esconder atrás de um arbusto próximo, segurando a outra ponta do cipó e esperou. Minutos depois chegou Moatia, a fada que nenhum homem viu. Ela veio dançando, dançando, dançando, como só as fadas africanas sabem dançar, até aos pés do flamboyant. Lá, ela avistou a boneca e a tigela de inhame. - Bebê de borracha. Estou com tanta fome, poderia dar-me um pouco de seu inhame?

Ananse puxou a sua ponta do cipó para que parecesse que a boneca dizia sim com a cabeça, a fada, então, comeu tudo, depois agradeceu: - Muito obrigada bebê de borracha.

Mas a boneca nada respondeu, a fada, então, ameaçou: - Bebê de borracha, se você não me responde, eu vou te bater.

E como a boneca continuasse parada, deu-lhe um tapa ficando com sua mão presa na sua bochecha cheia de cola. Mais irritada ainda, a fada ameaçou de novo: - Bebê de borracha, se você não me responde, eu vou lhe dar outro tapa."

E como a boneca continuasse parada, deu-lhe um tapa ficando agora, com as duas mãos presas. Mais irritada ainda, a fada tentou livrar-se com os pés, mas eles também ficaram presos. Ananse então, saiu de trás do arbusto, carregou a fada até a árvore onde estavam Osebo e Mmboro dizendo: - Agora Mmoatia, você está pronta para encontrar Nyame o Deus do Céu.

Aí, ele foi a casa de Ianysiá sua velha mãe, sexta filha de sua avó e disse: - Ianysiá venha comigo vou dá-la a Nyame em troca de suas histórias.

Depois, ele teceu uma imensa teia de prata em volta do leopardo, dos marimbondos e da fada, e uma outra que ia do chão até o Céu e por ela subiu carregando seus tesouros até os pés do trono de Nyame. - Ave Nyame! - disse ele -Aqui está o preço que você pede por suas histórias: Osebo, o leopardo de dentes terríveis, Mmboro, os marimbondos que picam como fogo e Moatia a fada que nenhum homem viu. Ainda lhe trouxe Ianysiá minha velha mãe, sexta filha de minha avó.

Nyame ficou maravilhado, e chamou todos de sua corte dizendo: - O pequeno Ananse, trouxe o preço que peço por minhas histórias, de hoje em diante, e para sempre, elas pertencem a Ananse e serão chamadas de histórias do Homem Aranha! Cantem em seu louvor!

Ananse, maravilhado, desceu por sua teia de prata levando consigo o baú das histórias até o povo de sua aldeia, e quando ele abriu o baú, as histórias se espalharam pelos quatro cantos do mundo vindo chegar até aqui.
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Lenda do tambor africano
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Dizem na Guiné que a primeira viagem à Lua foi feita pelo Macaquinho de nariz branco. Segundo dizem, certo dia, os macaquinhos de nariz branco resolveram fazer uma viagem à Lua a fim de traze-la para a Terra. Após tanto tentar subir, sem nenhum sucesso, um deles, dizem que o menor, teve a idéia de subirem uns por cima dos outros, até que um deles conseguiu chegar à Lua.

Porém, a pilha de macacos desmoronou e todos caíram, menos o menor, que ficou pendurado na Lua. Esta lhe deu a mão e o ajudou a subir. A Lua gostou tanto dele que lhe ofereceu, como regalo, um tamborinho. O macaquinho foi ficando por lá, até que começou a sentir saudades de casa e resolveu pedir à Lua que o deixasse voltar.

A Lua o amarrou ao tamborinho para descê-lo pela corda, pedindo a ele que não tocasse antes de chegar à Terra e, assim que chegasse, tocasse bem forte para que ela cortasse o fio.
O Macaquinho foi descendo feliz da vida, mas na metade do caminho, não resistiu e tocou o tamborinho. Ao ouvir o som do tambor a Lua pensou que o Macaquinho houvesse chegado à Terra e cortou a corda. O Macaquinho caiu e, antes de morrer, ainda pode dizer a uma moça que o encontrou, que aquilo que ele tinha era um tamborinho, que deveria ser entregue aos homens do seu país. A moça foi logo contar a todos sobre o ocorrido.
Vieram pessoas de todo o país e, naquela terra africana, ouviam-se os primeiros sons de tambor.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

CONTAÇÃO DE HISTÓRIA EFI NA EMEF PROFª MARILI DIAS

    O GRUPO," A TURMA DA ANINHA" ,conta histórias na EMEF Professora Marili Dias
A presente apresentação é resultado  de um minicurso direcionado a recém formadas em Pedagogia( Fundação Herminio Ometto-Uniararas - U.E. Morro Doce - São Paulo - SP) interessadas em enriquecer sua prática pedagógica, que teve como foco a importância da contação de histórias no contexto escolar  para o desenvolvimento das crianças como um todo, visando apresentar algumas habilidades e técnicas necessárias a um bom contador de histórias . As educadoras receberam orientação desde escolha da narrativa mais adequada à situação educativa até as diferentes estratégias utilizadas numa boa roda de história.  (PROFESSORA SUSETE MENDES)

“É evidente que a utilização desse recurso como auxiliar da prática pedagógica potencializa o aprendizado e contribui para o desenvolvimento da personalidade dos alunos de maneira significativa” (Professora Priscila Cardoso )

“A experiência  como contadora de histórias, mostrou-me que além dos conhecimentos das diferentes técnicas e escolha das narrativas, um dos principais ingredientes para uma boa contação é contar com nosso coração e contagiar o público com nosso entusiasmo.”(Professora Lilian Mendes)
 
As contadoras são autoras da obra "AS AVENTURAS DE ANINHA"- A casa do João de Barro e seus filhotes -Editora Paginas & letras
 

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Poeminhas para crianças

OU ISTO OU AQUILO
Cecília Meireles

Ou se tem chuva e não se tem sol,
Ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
Ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
Quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
Estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
Ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
E vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
Se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
Qual é melhor: se é isto ou aquilo.


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Para Guardar a Infância
Roseana Murray

Atenção: Compro gavetas,
armários, cômodas e baús.
Preciso guardar minha infância:
os jogos da amarelinha,
os segredos que me contaram
lá no fundo do quintal.

Preciso guardar minhas lembranças:
as viagens que não fiz,
ciranda, cirandinha
e o gosto de aventura
que havia nas manhãs.

Preciso guardar meus talismãs:
o anel que tu me deste,
o amor que tu me tinhas
e as histórias que eu vivi...

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Pontinho de Vista
Pedro Bandeira

Eu sou pequeno, me dizem,
e fico muito zangado.
Tenho de olhar todo mundo
com o queixo levantado.
Mas se formiga falasse,
e me visse lá do chão,
ia dizer com certeza:
"Minha nossa, que grandão!"

sábado, 5 de outubro de 2013

A FADA DA LUZ - (Meyr Vasconcelos)


Um pouco antes de chegar em casa, Carlinhos percebeu que havia algo estranho no ar, o ar parecia carregado de energia negativa.
Abriu a porta com cuidado e entrou. Logo percebeu o motivo. Seus pais o esperavam sentado no sofá com cara de poucos amigos. Mal entrou, seu pai já começou a falar:
– Muito bem! Parece que você nos deve uma explicação, rapazinho! Sua professora nos chamou até a escola para falar do seu desinteresse pelos estudos. Poderia nos explicar o porquê do
seu desinteresse?
Carlinhos sentou-se junto deles e resolveu ser o mais sincero possível.
– Eu não sei, pai: apenas não consigo mais gostar de estudar,
tento prestar atenção, mas a aula sempre parece chata, por mais que eu me esforce, não consigo aprender.
Sua mãe triste comentou com voz de choro:
– Como pode, filho? Você sempre foi um excelente aluno, o melhor da sala e, de repente, você fica assim, desinteressado pelos estudos! Deve haver uma explicação.
– Mãe, simplesmente não sei o que se passa comigo, tento me interessar, me esforço pra lembrar as tarefas que a pede pra fazer em casa, mas, quando me lembro, já é tarde demais e acabo não fazendo. Prometo que vou me esforçar.
Subiu para seu quarto triste e cabisbaixo. Na verdade, não se interessava pela escola e não entendia o porquê. Depois de pensar muito, resolveu descer e jantar. Todos fizeram a refeição em silêncio.
Seu pai foi para a sala assistir ao jornal, enquanto sua mãe foi lavar a louça do jantar.
Carlinhos foi até a praça, sentou-se num banco e ficou observando um grupo de crianças que brincavam de roda, felizes e despreocupadas. Como eram felizes! Ainda não estavam na idade de ir para a escola. Ainda bem, pensou. Tomara que, quando chegar o dia de essas crianças frequentarem a escola, não passem pelo mesmo problema.
Carlinhos sempre gostou tanto de estudar e estava numa situação tão difícil e sem explicação. Voltou para casa e, ao se deitar, viu através da janela aberta uma estrela cadente e fez um pedido.
– Estrela cadente, desejo do fundo do meu coração voltar a ser um garoto estudioso. Pediu com muita fé e depois adormeceu.
De madrugada, acordou com uma voz doce e meiga. Abriu os olhos e viu uma pequena fada que iluminava o quarto todo com sua luz. Carlinhos pensou que talvez estivesse sonhando e, mesmo
assim, perguntou:
– Quem é você? O que faz aqui?
– Meu nome é Fada da Luz e vim para atender ao seu pedido.
Carlinhos ficou muito feliz.
– Que bom! O que você fará?
– Bom, durante cinco dias consecutivos lhe farei perguntas diferentes para as quais esperarei respostas à noite. A primeira pergunta é esta: quem foi Albert Einstein?
– Sei lá! – respondeu Carlinhos.
– Não precisa responder agora, amanhã à noite voltarei para saber a resposta.
Após falar isso, desapareceu. Carlinhos levantou bem cedinho, seus pais já tinha ido
trabalhar. Olhou nos livros da estante da sala e não encontrou nada sobre Albert Einstein. Foi para a escola e, quando lá chegou, foi logo perguntando para o seu professor de Ciências que lhe
respondeu:
– Este gênio do século XX teve uma infância solitária. Gostava de ler e ouvir música, não se identificando com as brincadeiras praticadas pelas outras crianças. Einstein sempre demonstrou grande
habilidade para a compreensão dos conceitos matemáticos. Com 12 anos, aprendeu sozinho geometria euclidiana e, quando se mudou para Milão, em 1894, Einstein fez a leitura de inúmeros livros de
Ciências. Einstein sempre foi crítico dos métodos de ensino das escolas e, apesar de ter fraco resultado escolar, Einstein tinha uma enorme curiosidade em compreender o Universo. Apresentou uma
postura autodidata, afirmando que “preferiria suportar qualquer coisa ou castigo a ter que papaguear as coisas aprendidas, e autoclassificava-se como “livre-pensador fanático”. Por que quer
saber, Carlinhos?
– Por nada, professor; era só curiosidade.
Na madrugada, a fada chegou e perguntou-lhe a resposta.
Carlinhos respondeu com perfeição e entusiasmo.
– Muito bem, agora vamos à próxima pergunta: quem foi Rui Barbosa? Voltarei amanhã novamente.
E desapareceu como da outra vez.
No dia seguinte, Carlinhos encontrou a resposta no livro de escola e descobriu que Rui Barbosa era dotado de uma memória
privilegiada, acrescida de uma curiosidade intelectual insaciável, seus hábitos da leitura e da escrita foram se incorporando à sua vida de tal maneira que mesmo as horas de lazer eram dedicadas aos livros;
anotava e assinalava verbetes e assuntos, fixava ideias e frases, elaborava bibliografias, tudo que lhe interessasse e de que um dia viesse a precisar. Esse hábito, ele o desenvolveu ao longo da vida;
ajudou a exercitar sua memória e duplicou sua capacidade de trabalho. Quanto mais lia, mais impressionado ficava e, à noite, quando a fada apareceu, Carlinhos a esperava acordado e lhe mostrava o resultado da pesquisa. Muito contente, recebeu os parabéns da fada. A próxima pergunta foi sobre Machado de Assis. Pulou cedo no dia seguinte e, depois da aula, voltou até a biblioteca, onde obteve rapidamente a resposta desejada. Descobriu que Joaquim Maria Machado de Assis era um descendente de
escravos, seu pai trabalhava como pintor de paredes e a mãe, portuguesa, morreu quando ele tinha dez anos. Descobriu também que ele não teve educação formal, pois teve que começar trabalhar cedo para ajudar a família. Aprendeu a falar francês com um padeiro, já alemão e inglês aprendeu estudando sozinho. Achou engraçado, porque, assim como ele, o escritor também tinha uma caligrafia ruim que, às vezes, até ele tinha dificuldade de entender o que escrevia. Ficou perplexo ao saber que Machado de Assis era gago e tinha epilepsia. Como das outras vezes, à noite a fada ouviu sobre a pesquisa. E fez a última pergunta:
– Quem foi Carlos Drummond de Andrade?
De manhã, Carlinhos foi até a biblioteca municipal e, depois de algum tempo, encontrou a resposta. Ficou surpreso ao descobrir que este grande escritor, aos 17 anos, tinha sido expulso do Colégio
Anchieta, em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, depois de um desentendimento com o professor de Português. Tinha a mania de picotar papel e tecidos.
Carlinhos aproveitou para pegar emprestados alguns livros na biblioteca, coisa que não fazia há muito tempo. À noite, a fada voltou e, depois de ouvir Carlinhos falar sobre Carlos Drummond de Andrade com entusiasmo que não se via há tempos, despediu-se.
Antes, porém, Carlinhos perguntou-lhe:
– Nossa, como você conseguiu fazer com que eu me interessasse pelos estudos novamente?
– Através destas pesquisas, você deve ter observado que todos tinham algo em comum, a determinação para ter sucesso, revelando acima de tudo sentimentos de medo, depressão e solidão, desinteresse pelas coisas ensinadas de forma comum, mas, e apesar disso, superaram suas dificuldades e conquistaram o mundo! Você só precisava de incentivo. O conhecimento é o pão que alimenta nosso espírito. Estude bastante, dedique-se e será feliz!
Graças à Fada da Luz, Carlinhos estudou muito e se tornou um mestre da Língua Portuguesa. E resolveu escrever um livro sobre um menino que conheceu uma linda fada que iluminou a sua vida.


Meir Almeida Alves Machado nasceu em Ipuã, cidade do interior de São Paulo, no dia 31 de agosto de 1966. Aos 45 anos de idade, publicou seu primeiro livro As aventuras de Samuca e sua turma, pela Biblioteca 24 horas, realizando seu sonho de infância.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Lúcia Já-Vou-Indo – Maria Heloísa Penteado




Lúcia Já-Vou-Indo não sabia andar depressa de maneira nenhuma. Andava devagar, falava devagar, chorava e ria devagarzinho e pensava mais devagar ainda. Muito natural, pois ela era uma lesma.Um dia, Lúcia recebeu um convite para uma festa. Levou o dia inteirinho para ler o bilhete que dizia assim:

"Chispa-Foguinho, a libélula, convida você para uma festa dançante, embaixo do Pé de Maracujá, às oito horas da noite do dia 30 de janeiro. Comes e bebes, muita música, muita alegria, tudo do bom, do melhor e de graça".

Mal acabou de ler, Lúcia já se foi preparando para a festa. Queria se pôr a caminho imediatamente, embora faltasse ainda uma semana.

- Juro que vou chegar na hora! -disse para si mesma. E começou a lembrar as muitas festas que havia perdido por chegar sempre atrasada. Ao aniversário da Maroquinha Cocinela, que era sua vizinha, chegou um dia depois da festa. Ao casamento do grilo João das Pintas com Sarapintada, chegou tão tarde que foi encontrar o casal já com um filhinho.

Nesse instante, o relógio da sala bateu três horas da tarde e Lúcia teve um sobressalto. Pois não é que já perdera duas horas pensando naquelas coisas? E começou a se arrumar afobadamente. Pôs na cabeça uma peruca de cachinhos com um laçarote de fita cor-de-laranja, e com isso perdeu um dia inteirinho.

Encheu uma cesta com brotinhos de alface para ir comendo pelo caminho, e lá se foi mais um dia. Deu corda no relógio para que não parasse na sua ausência e outro dia perdeu. Só faltava fechar a casa e ela perdeu nesse serviço mais um dia. Enfim a molenga se pôs a caminho, tendo exatamente três dias para chegar ao Pé de Maracujá que não era muito longe.

Chegou o dia da festa e ela ainda estava andando. Pelo caminho encontrou muita gente que também ia para lá. Viu dona Içá, com a cinturinha apertada num cinto de fivela de ouro, de braço dado com o marido de camisa listada e boné. Viu Lili Taturana toda besuntada de brilhantina para que seus pelinhos não ficassem arrepiados. Viu Zé Caramujo de cachecol xadrez enrolado no pescoço. Viu as formiguinhas Quem-Quem numa longa fila, comportadas e quietinhas como meninas de orfanato a passeio num domingo.

Viu abelhas, besouros, pernilongos, vespas e mil outros bichinhos. Todos passavam por ela e sumiam ao longe.

- Depressa, Lúcia, assim você não chega! - diziam de passagem.

E ela respondia mastigando devagarzinho um brotinho de alface:

- Já vou indo... Já vou indo... - e se esforçava, pensando que estava andando um bocadinho mais depressa.

Enfim, ela começou a ouvir a orquestra das cigarras. Estou pertinho, pensou. Mais algumas horas e estou lá. E seu entusiasmo era tamanho que até conseguiu, de fato, andar um pouquinho mais depressa.

- Olha a pedra no caminho! - gritou nesse instante João Barata do Mato, que também ia indo para a festa.

Aviso inútil, porque Lúcia Já-Vou-Indo a viu muito bem. Era a Maria Redonda, uma pedra perversa que gostava de pregar peças nos outros.Ficava sempre no meio do caminho, de propósito, para que tropeçassem nela e caíssem. Então ria de se sacudir toda.

Eu vou me desviar dela, pensou a lesminha. Mas a coitada pensava mais devagar ainda do que andava. Por isso não teve tempo de se desviar. Tropeçou e caiu. Mas não se machucou porque caiu muito devagarinho.. tão devagarinho que a pedra nem achou graça.

Lúcia levantou-se, arrumou a peruca que se havia entortado na cabeça e foi buscar a cestinha que havia rolado longe. Nisso, perdeu um dia e mais outro.

Quando chegou ao Pé de Maracujá, não havia mais nem sinal da festa, a tão esperada, comentada e suspirada festa. ­Quem achou graça no caso, foi o Pé de Maracujá. Começou a bater uma folha na outra e a cantar assim:

 

"A Lúcia Já-Vou-Indo Vinha vindo, vinha vindo,

Tropeçou numa pedrinha, Foi caindo, foi caindo!"

 

Mas Lúcia não achou graça nenhuma. Chorou muito o seu chorinho vagaroso de lesma: uma lágrima por hora, um soluço a cada meia hora.

Chorou, chorou, mas seu choro manso não conseguiu acordar a libélula Chispa-Foguinho que dormia cansada da festa. Ela só escutou o chorinho da lesma no outro dia, quando acordou.

- O que será isso? - a libélula disse e foi espiar. Viu a pobre Lúcia chorando, compreendeu tudo e ficou morrendo de pena. Foi buscar uns docinhos que sobraram da festa e ofereceu-os a Lúcia.

Conversou bastante com ela para ver se a consolava, e nada. Lúcia Já-Vou-Indo continuava com o seu choro em câmara lenta e depressa a libélula se cansou. Numa última tentativa, ela disse:

- Sabe, Lúcia, quem vai dar uma festa agora é você. Sendo a festa na sua casa, é impossível você chegar atrasada.

A lesminha ficou pensando naquilo e, como pensava muito devagar, a libélula chamou as irmãs e, ligeiras como foguetinhos, foram à casa de Lúcia, prepararam tudo e distribuíram os convites.

 

Credo! A família da libélula era toda elétrica. Zás-trás e tudo ficou pronto. Só faltava colocar a Lúcia dentro de casa para receber os convidados.

Enquanto isso, Lúcia Já-Vou-Indo, que já tinha acabado de pensar e estava encantada com a idéia, vinha vindo o mais depressa que podia. Talvez, dentro de alguns dias ­se não tropeçasse outra vez na pedra Maria Redonda estivesse em casa.

E a libélula Chispa-Foguinho tinha agora um problema: os convidados já estavam chegando e a festa não podia começar porque a dona da casa estava fora. Como trazer Lúcia o mais depressa possível? ".

Cric!... A libélula deu um estalinho. Já descobrira a solução. Num abrir e fechar de olhos, explicou tudo às irmãs e foram buscar a Lúcia.

Puseram a molenga em cima de uma folha de capim e vieram voando trazendo a folha pelos ares. Danadas como elas só, em dois minutos a lesma estava em casa. Isso, apesar de ter caído da folha três vezes.

Foi assim que ,oh maravilha! Pela primeira vez na vida, Lúcia já vou indo assistiu a uma festa inteirinha, do começo ao fim.

 

 

FONTE: http://mariamachado.blog.com/index.php/2011/02/06/ginastica-historiada/

sábado, 21 de setembro de 2013

LANÇAMENTO LIVRO INFANTIL- "As Aventuras de Aninha"-Ed. Paginas & Letras

LANÇAMENTO LIVRO INFANTIL
“AS AVENTURAS DE ANINHA-  A Casa do João de Barro e seus filhotes”
Coordenado pela professora Susete Mendes, obra infantil produzida coletivamente por alunas do Curso de Pedagogia EAD - Uniararas
Sinopse
O presente trabalho é a expressão escrita de uma das atividades desenvolvida nas aulas que a Professora Susete Mendes vem ministrando, com sua experiência no Curso de Pedagogia EAD. Foi registrado como uma coleção “As aventuras de Aninha”. Este primeiro volume conta a história do João de Barro e seus filhotes.
 

Acompanha o livro, uma sacolinha e fantoche de um dos personagens da história.
Valor R$ 20,00 - pedidos podem ser feito pelo e-mail: suse.mendes@hotmail.com

ou pelo telefone (011) 3912 7714 - Lilian Mendes




 

sábado, 14 de setembro de 2013

Excluídos - FERREIRA GULLAR


DE ALGUM tempo para cá, a parte da sociedade que mora em favelas e bairros pobres é qualificada como "excluída". Ou seja, os moradores da Rocinha e do Vidigal, por exemplo, não vivem ali porque não dispõem de recursos para morar em Ipanema ou Leblon, e sim porque foram excluídos da comunidade dos ricos. E eu, com minha mania de fazer perguntas desagradáveis, indago: mas alguma vez aquele pessoal da Rocinha morou nos bairros de classe média alta e dos milionários? Afora um ou outro que possa ter se arruinado socialmente ou que tenha optado por residir ali, todos os demais foram levados a isso por sua condição econômica ou porque ali nasceram. Então por que considerá-los "excluídos", se nunca estiveram "incluídos"?
No meu pouco entendimento, excluído é quem pertenceu a uma entidade ou a comunidade e dela foi expulso ou impedido de nela continuar. Quem nunca pertenceu às classes remediadas ou abastadas não pode ter sido excluído delas. Mais apropriado seria dizer que nunca foi incluído. Ainda assim, se não me equivoco, incorreríamos em erro. Senão, vejamos: a Rocinha, o Vidigal, o Borel e a favela da Maré fazem parte da cidade do Rio de Janeiro, não fazem? Seria correto afirmar, então, quer seja do ponto de vista urbanístico, quer do demográfico e social, que o Rio são apenas os bairros em que reside a parte mais abastada da população? Se fizermos isso, então, sim, estaremos excluindo parte considerável do território e da gente que constitui a cidade do Rio e que, portanto, pertence a ela.
Consideremos agora a questão de outro ponto de vista. Nos morros e favelas da cidade residem cerca de 1 milhão de pessoas, que têm vida social ativa, pois trabalham, estudam, participam de organizações comunitárias e recreativas. A maioria delas trabalha fora de sua comunidade, no comércio, na indústria, no serviço público, ou desenvolve atividade informal. Logo, participa da vida econômica, cultural e esportiva da cidade. Em que sentido, então, essa gente estaria excluída? Não resta dúvida de que as famílias faveladas, na sua ampla maioria, vivem em condições precárias, tanto no que se refere ao conforto domiciliar quanto à alimentação, às condições de higiene e saneamento, educação, saúde e segurança. Mas não estão excluídas da preocupação dos políticos que, na época das eleições, vão até lá em busca de votos. Há, nessa comunidade, cabos eleitorais, pessoas que atuam em associações de bairro e fazem a ligação com os centros políticos de poder. É certo que a grande maioria dessa gente não participa da vida política, mas isso ocorre também com as demais pessoas, morem onde morarem. Por todas essas razões, somos obrigados a concluir que os pobres e favelados estão incluídos na vida econômica, social e política da sociedade.
No entanto, isso não significa que estejam em pé de igualdade com as pessoas das classes médias e ricas. Não estão e, na sua grande maioria, descendem de gerações de brasileiros que tampouco gozaram dessa igualdade. Muitos descendem de antigos escravos e de brancos pobres que, pela carência de meios e pela desigualdade que rege o processo social, jamais tiveram possibilidade de ascender econômica e socialmente. Eles não foram excluídos simplesmente porque jamais estiveram incluídos entre os mais ou menos privilegiados.
Por que, então, cientistas políticos, sociólogos e jornalistas, entre outros, falam de exclusão social? Por ignorância não será, já que todos eles estão a par do que, bem ou mal, tentei demonstrar aqui. Creio que, consciente ou inconscientemente, procura-se levar a sociedade a pensar que a desigualdade social não é conseqüência de fatores objetivos, do sistema econômico, mas sim resultado da deliberação de pessoas cruéis que empurram os mais fracos para fora da sociedade e os condenam à miséria.
Em vez de admitir que esse sistema, por visar acima de tudo o lucro e ser, por definição, concentrador da riqueza, é que dificulta, ainda que não impeça, a ascensão dos mais pobres, procura-se fazer crer que a desigualdade é fruto de decisões pessoais. Ignora-se que, no sistema capitalista, quem não tem emprego também está incluído nele, como exército de reserva de mão-de-obra, com a função de pressionar o trabalhador e limitar-lhe as reivindicações. A eliminação da miséria beneficia o sistema pois amplia o mercado consumidor. O empresário pode ser, como você ou eu, bom ou mau, generoso ou sovina, mas, como disse Marx, "o capital governa o capitalista". O problema está no sistema, não nas pessoas.

sábado, 7 de setembro de 2013

Recado ao Senhor 903 -Rubem Braga

VIZINHO
 
Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador do prédio, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal - devia ser meia-noite - e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a lei e a polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a leste pelo 1005, a oeste pelo 1001, ao sul pelo Oceano Atlântico, ao norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão, ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada,   e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas - e prometo silêncio.
   Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: "Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou". E o outro respondesse: "Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela".
E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz."
(Rubem Braga. "Para gostar de ler". São Paulo: Ática, 1991)

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Falando Sobre Leitura | Ler, por Luís Fernando Veríssimo


Ler...

Ler é o melhor remédio.
Leia jornal...
Leia outdoor...
Leia letreiros da estação do trem...
Leia os preços do supermercado...
Leia alguém!
Ler é a maior comédia!
Leia etiqueta jeans...
Leia histórias em quadrinhos...
Leia a continha do bar...
Leia a bula do remédio...
Leia a  página do ano passado perdida no canto da pia enrolando chuchus...
Leia a vida!
Leia os olhos, leia as mãos. Os lábios e os desejos das pessoas...
Leia a interação que ocorre ou não entre física, geografia, informática, trabalho, miséria e chateação...
Leia as impossibilidades...
Leia ainda mais as esperanças...
Leia o que lhe der na telha...
...mas leia, e as ideias virão!

terça-feira, 13 de agosto de 2013

DESEJOS" ou "OS VOTOS" - Sérgio Jockymann

Pois, desejo primeiro que você ame e que amando, também seja amado,
E que se não o for, seja breve em esquecer e esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja só, mas que se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos e que, mesmo maus e inconseqüentes, sejam corajosos e fiéis,
E que em pelo menos um deles você possa confiar, que confiando, não duvide de sua confiança.
E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos, nem muitos, nem poucos,
mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas.
E que entre eles haja pelo menos um que seja justo, para que você não se sinta demasiadamente seguro.
Desejo, depois, que você seja útil, mas não insubstituivelmente útil, mas razoavelmente útil.
E que nos maus momentos, quando não restar mais nada, essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante, não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
mas com os que erram muito e irremediavelmente, e que essa tolerância, não se transform em aplauso nem em permissividade,
Para que assim fazendo um bom uso dela, você dê também um exemplo para os outros.
Desejo que você, sendo jovem, não amadureça depressa demais e que, sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E
que, sendo velho, não se dedique a desesperar.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor
E é preciso deixar que eles escorram dentro de nós.
Desejo, por sinal, que você seja triste, mas não o ano todo, nem em um mês e muito menos numa semana,
Mas apenas por um dia. Mas que nesse dia de tristeza, você descubra que o riso diário é bom,
o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra, com o máximo de urgência, acima e a despeito de tudo,
Talvez agora mesmo, mas se for impossível, amanhã de manhã, que existem oprimidos, injustiçados e infelizes,
E que estão à sua volta, porque seu pai aceitou conviver com eles.
E que eles continuarão à volta de seus filhos, se você achar a convivência inevitável.
Desejo ainda que você afague um gato, que alimento um cão e ouça pelo menos um joão-de-barro erguer
triunfante o seu canto matinal;
Porque assim você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente, por mais ridícula que seja, e acompanhe o seu crescimento dia-a-dia,
para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, porque é preciso ser prático.
E que, pelo menos uma vez por ano, você ponha uma porção dele na sua frente e diga:
"Isso é meu". Só para que fique bem claro quem é dono de quem.
Desejo ainda que você seja frugal, não inteiramente frugal,
não obcecadamente frugal, mas apenas usualmente frugal.
Mas que esse frugalismo não impeça você de abusar quando o abuso se impõe.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra, por ele e por você,
Mas que, se morrer, você possa chorar sem se culpar e sofrer sem se lamentar.
Desejo, por fim, que sendo mulher, você tenha um bom homem,
E que sendo homem, tenha uma boa mulher.
E que se amem hoje, amanhã, depois, no dia seguinte, mais uma vez,
E novamente, de agora até o próximo ano acabar,
E que quando estiverem exaustos e sorridentes, ainda tenham amor para recomeçar. 
E se isso só acontecer, não tenho mais nada para desejar.

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IMPORTANTE: esta poesia, de autoria de Sergio Jockymann, publicada em 1980 no Jornal Folha da Tarde, de Porto Alegre-RS, circula na internet como sendo de autoria de Victor Hugo, e assim foi publicada originalmente com o título 'Desejos'. Contactados pelo verdadeiro autor, com muito prazer desfazemos o equívoco, estabelecendo os créditos a quem de direito.