AS CARACTERÍSTICAS DA CRÔNICA


As características abaixo foram citadas por vários autores que tentaram entender a crônica enquanto estilo literário:
• Ligada à vida cotidiana;
• Narrativa informal, familiar, intimista;
• Uso da oralidade na escrita: linguagem coloquial;
• Sensibilidade no contato com a realidade;
• Síntese;
• Uso do fato como meio ou pretexto para o artista exercer seu estilo e criatividade;
• Dose de lirismo;
• Natureza ensaística;
• Leveza;
• Diz coisas sérias por meio de uma aparente conversa fiada;
• Uso do humor;
• Brevidade;
• É um fato moderno: está sujeita à rápida transformação e à fugacidade da vida moderna.

Valéria de Oliveira Alves

A Crônica


A crônica é o único gênero literário produzido essencialmente para ser vinculado na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja nas de um jornal. Quer dizer, ela é feita com uma finalidade utilitária e pré-determinada: agradar aos leitores dentro de um espaço sempre igual e com a mesma localização, criando-se assim, no transcurso dos dias ou das semanas, uma familiaridade entre o escritor e aqueles que o lêem.

Em regra geral, a crônica é um comentário leve e breve sobre algum fato do cotidiano. Algo para ser lido enquanto se toma o café da manhã, na feliz expressão de Fernando Sabino. O comentário pode ser poético ou irônico mas o seu motivo, na maioria dos casos, é o fato miúdo: a notícia em quem ninguém prestou atenção, o acontecimento insignificante, a cena corriqueira. Nessas trivialidades, o cronista surpreende a beleza, a comicidade, os aspectos singulares. O tom, como acentua Antonio Candido é o de "uma conversa aparentemente banal".

O próprio Fernando Sabino tem uma das melhores delimitações de crônica, dizendo que ela "busca o pitoresco ou o irrisório no cotidiano de cada um". Em outro momento, o autor de O homem nu voltou a teorizar sobre o gênero:
Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num incidente doméstico, torno-me simples espectador.
A questão da linguagem
A mistura entre jornalismo e literatura leva o cronista a um freqüente impasse: para se constituir como texto artístico, o seu comentário sobre o cotidiano precisa apresentar uma linguagem que transcenda a da mera informação. Ou seja, precisa de uma linguagem menos denotativa e mais pessoal. Isso não significa elaboração muito sofisticada ou pretensiosa. Significa que o estilo deve dar a impressão de naturalidade e a língua escrita aproximar-se da fala.

Nem sempre o cronista atinge o duplo alvo: fazer literatura e expressar-se com simplicidade. Em função do grande público, é preciso buscar primeiramente a clareza e uma dimensão de oralidade na escrita. Daí porque a crônica seja considerada por muitos críticos um gênero menor: aquela vontade de forma que todo o grande artista possui termina subjugada pela necessidade de ser acessível a todos.

Além disso, o cronista tem prazos para entregar seu material, não podendo nunca deixar seu texto amadurecer. Mesmo assim, algum desses prosadores, que escrevem sob pressão de horários rígidos, são capazes de alcançar uma linguagem literária de singular beleza. Observe-se o fragmento de uma crônica de Rubem Braga:
Foi em sonho que revi longamente a amada; sentada numa velha canoa, na praia, ela me sorria com afeto. Com sincero afeto – pois foi assim que ela me dedicou aquela fotografia com sua letra suave de ginasiana. (...)
Foi em sonho que revi a longamente amada. Havia praia, uma lembrança de chuva na praia, outras lembranças: água em gotas redondas, pingos d´água na sua pele de um moreno suave, o gosto de sua pele beijada devagar... Ou não será gosto, talvez a sensação diferente que dá em nossa boca uma pele de outra, esta mais seca e mais quente, aquele úmida e mansa. Mas de repente é apenas essa ginasiana de pernas ágeis que vem nos trazer o retrato com sua dedicatória de sincero afeto; essa que ficou para sempre impossível sem, entretanto, nos magoar, sombra suave entre morros.
A proximidade com o conto
Nem só de comentários a respeito do dia-a-dia vive a crônica. Com relativa freqüência, ela se aproxima do conto. O gosto pela história curta, pelo diálogo ágil, pela narrativa de final imprevisto e surpreendente e a unidade de ação, tempo e espaço levam vários cronistas à prática mais ou menos disfarçada do conto.

Fernando Sabino e Luís Fernando Veríssimo são expoentes dessa modalidade. Vários dos trabalhos que publicam na imprensa apresentam personagens e situações ficcionais próprias do gênero narrativo. Por exemplo, O homem nu, do primeiro, e a série Comédias da vida privada, do segundo, são mais relatos do que comentários.
Diante de tal embrulho teórico, poderíamos considerar que o conto – ao contrário da crônica-conto – não tem as limitações de linguagem, extensão e profundidade, exigidas pelos jornais. Apresenta, pois, um grau maior de complexidade. Além disso, o conto, em estado puro, visa normalmente ao dramático, enquanto a crônica-conto busca, de forma quase que exclusiva, o humor e a sátira.

No entanto, esta diferenciação só é perceptível aos alunos com a leitura contínua de contos e de crônicas, tornando-se desnecessário o estabelecimento de uma rígida fronteira conceitual entre ambos.

Sugestões de leitura
• "Comédia para se Ler na Escola", Luiz Fernando Veríssimo, Editora Objetiva.

• "Para Gostar de Ler: Crônicas", Vários autores (volumes 5 e 7), Editora Ática.
• "Sobre a Crônica", Ivan Ângelo, Revista Veja São Paulo, 25 de abril de 2007.



Fontes: http://educaterra.terra.com.br/literatura/temadomes/2003/01/20/001.htm
http://www.sitedeliteratura.cjb.net