quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Mal entendido (Orígenes Lessa)

Os dois garotos brincam na praia.Um, branquinho, queimado de sol., os olhos claros, quase negro de tanto tomar sol toda manhã. O outro, negrinho, de família no morro. Os dois descem à praia diariamente. O primeiro, do nono andar de um apartamento de frente, tapetes no chão, lustres de cristal. O outro, de um morro qualquer, barraco de madeira. Os “amigos” se encontram a hora certa, camaradagem de pé na areia igualitária. O primeiro traz uma bela bola. O segundo não tem bola, mas traz jogo. O primeiro é bem nutrido, atestado vivo de que vitamina batida no liquidificador é mesmo bom. O segundo é fino e sujo, os dentes inexplicavelmente claros e fortes... Paulinho chama-se o primeiro, porque o avô foi Paulo e com ele começou a fortuna da família. O outro chama-se Jorge.

Descem os dois todo dia. Quando Paulinho vem acompanhado pelos pais, Jorginho assiste, apenas com o olhar, ao jogo em que a censura familiar não deixa preto se meter. Quando Paulinho vem só com a empregada – e é quase sempre – nem é preciso pedir licença. Jorginho tem lugar seguro, que ele é o artilheiro-mor da vizinhança. E a pelada se prolonga. Por ele, a manhã toda, a tarde toda, a vida toda. Não tem escola, não tem compromisso. Amendoim torrado ele vende à noite. Ao fim de meia hora, a pelada vai-se desfazendo. Parentes e empregados vêm recolher os futuros Garrinchas, os Pelés e Zagalos em formação. Paulinho fica mais tempo. E, quando está só, ele e Jorginho descansam na areia. Inseparáveis na pelada – Paulinho arma o jogo, Jorginho apanha a bola e arremata de maneira inapelável – uma funda rivalidade os separa em tudo mais. Nunca se entendem. Porque Paulinho é importante, e Jorginho é um coitado. Paulinho vai à escola à tarde, de carro. Jorginho vende amendoim à noite. Oito anos, Paulinho. Nove anos, Jorginho. Reconhecendo a superioridade incrível do negro, no bate-bola, reclamando a sua colaboração, garantidora de tentos, Paulinho se vinga depois. E com sua falta de diplomacia, tão própria da idade, faz valer os seus títulos, para humilhar o companheiro.
─ Tua casa tem tapete no chão? A minha tem até no quarto da empregada. Tem lustre de cristal? Jorginho pergunta o que é. Paulinho explica. Jorginho não tem. Nem luz tem.
─ Teu pai tem sítio em Petrópolis?
─ Não – responde sério Jorginho.
─ O meu tem... Teu pai tem usina em Campos? O meu tem. E o teu pai tem iate?
─ Não.
─ O meu tem. E quantos apartamentos o teu pai tem? O meu tem dez. Só em Copacabana. O resto é na Tijuca.
 ─ Tem nenhum – responde Jorginho que baixa os olhos, acaricia o monte de areia que está juntando. ... Paulinho apanha a bola molhada, procura limpá-la dos grãozinhos de areia, pergunta de novo: ─ Teu pai é deputado?
Jorginho nem sabe o que seja aquilo, mas já diz que não, pelas dúvidas. Deve ser coisa importante. ─ Teu pai tem automóvel? Jorginho sorri tristemente, negando.
─ O meu tem – diz novamente em triunfo de garoto bem-nascido. O meu tem , um que ele vai para a cidade, um da mamãe, uma caminhonete pra ir para o sítio e um pra ir pra Petrópolis. Jorginho está completamente esmagado. Paulinho sorri, orgulhoso. E agora nem pergunta mais, só informa: ─ O meu tem 40 ternos de roupa, o teu não tem. O meu tem três casas de campo, o teu não tem. O pai tem dez cavalos de corrida, aposto que o teu não tem. Meu pai é amigo do Governador, o teu não é, pronto! Jorginho sente-se o menor dos moleques do mundo, o menor de todos os mortais.
Mas Paulinho ainda não está satisfeito.
─ O meu pai tem foto no jornal, o teu pai não tem. É quando Jorginho pula vitorioso. Dessa vez tem resposta. Retira do bolsinho do calção rasgado um pedaço amarfanhado de jornal. Exibe-o, peito cheio, orgulho no olhar.
─ Isso não. O meu também tem.
E em tom de desafio, irretorquível:
─ Você pensa que só teu pai que é ladrão?

 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

2º ANIVERSÁRIO -" Clube da Leitura"

Hoje 21 de janeiro de 2013.




Hoje faz 2 anos que criei o Clube de Leitura, estou feliz e satisfeita com os resultados e muito grata aos seguidores, leitores e colaboradores de hoje e de ontem que sem exceção, ajudaram a construir este espaço encantador da leitura.
Neste dia bato palmas para todos que com muito carinho ajudaram-me a compartilhar o prazer da leitura; também agradeço a todos os valorosos leitores, que deixaram aqui sua marca, registrando suas opiniões e sugestões, as quais, sem duvida nenhuma foram imprescindíveis para aprimorar e manter este ponto de encontro cada vez mais atraente. Foi pela preferência de vocês pelo Clube da Leitura, que eu tive a oportunidade de demonstrar o meu profissionalismo, excelência e criatividade.
O aniversário é do Clube da Leitura, mas as palmas são para todos vocês!!!
Professora Susete Mendes

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O amor nunca diz adeus -Amadeu Ribeiro



Romance de estreia de Amadeu Ribeiro aprofunda questionamentos sobre as diferenças sociais e o amor
Sem escolher credo, classe social ou etnia, o amor pode juntar pessoas com vidas totalmente distantes. É sobre esse encontro que Amadeu Ribeiro aborda em seu romance de estreia, 'O Amor nunca diz adeus', lançamento da Editora Vida & Consciência. Vindos de diferentes realidades na cidade de São Paulo, Natália e Yuri terão de ultrapassar as disparidades sociais, ciúmes e truques invejosos para conseguir viver uma intensa paixão. Envolvente, a trama deste romance enlaça os personagens pela temática do amor, demonstrando como a fé e o próprio sentimento superam os mais difíceis problemas.


De família humilde, a espiritualizada Natália vive com sua mãe, a trabalhadora Bete, e a irmã mais nova e também deficiente visual, Violeta. Desempregada e com problemas financeiros, a jovem vê sua vida mudar de rumo quando começa a trabalhar na importante empresa de tecnologia da família Onofre. Ganhando a confiança de Silas, diretor e dono da maior parte das ações da firma, ela conhece toda sua família durante uma reunião. Mas não contando com os planos do destino, Yuri, o único filho comprometido de Silas, se apaixona à primeira vista por Natália. Irmão do meio de Thiago, o mais velho e inseguro dos três, e de Melissa, uma jovem triste que pensa não ser amada pela mãe Brenda, ele não pensa duas vezes e rompe seu noivado para namorar Natália.
Ambiciosa e mimada, a socialite e ex- noiva de Yuri, Soraia, fica desesperada quando se vê trocada. Passando a armar confusões e pretextos preconceituosos para separar o novo casal, ela conta com ajuda de Brenda que, abalada com os problemas no casamento e as traições do marido, não percebe o mal que alimenta ao apoiar a jovem. Ao atingir ambas as famílias, o casal cria laços de relacionamentos entre todos, que apesar de sofrerem influências do passado, passam a perceber como só amor ao próximo pode criar o bem.
Sobre o autor – Amadeu Ribeiro nasceu em dezembro de 1986, na cidade de São Paulo. Formado em Pedagogia e pós-graduado em Docência do Ensino Superior, atualmente leciona na rede pública da capital, na EMEF Professora Marili Dias. Sempre gostou de ler e de escrever, mas só agora resolveu publicar seu primeiro romance, O amor nunca diz adeus, que espera poder contribuir para o aprendizado espiritual da humanidade, fazendo com que as pessoas consigam perceber que podem se tornar ainda melhores. Para ele, “a vida nos traz o amor, que é o caminho essencial para abandonarmos nossos temores e nos voltarmos para o bem, para a felicidade e para a paz”.


quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

CRÔNICA DE AMOR (Arnaldo Jabor)

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera. Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco. Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então? Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome. Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara? Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor? Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados. Não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó! Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

Conselhos de um velho apaixonado - Carlos Drummond de Andrade

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida. Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu. Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d'água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês. Se o 1º e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Algo do céu te mandou um presente divino : O AMOR.
Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e, em troca, receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro. Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida. Se você conseguir, em pensamento, sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado... Se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos emaranhados... Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado para a noite... Se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado... Se você tiver a certeza que vai ver a outra envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela... Se você preferir fechar os olhos, antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua ida. Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro. Às vezes encontram e, por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente. É o livre-arbítrio. Por isso, preste atenção nos sinais. Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o AMOR !!! Ame muito.....muitíssimo...

sábado, 12 de janeiro de 2013

A MARGARIDA ENLATADA- Caio Fernando Abreu


Foi de repente. Nesse de repente, ele ia indo pelo meio do aterro quando viu um canteiro de margaridas. Margarida era um negócio comum: ele via sempre margaridas quando ia para sua indústria, todas as manhãs. Margaridas não o comoviam, porque não o comoviam levezas. Mas exatamente de repente, ele mandou o chofer estacionar e ficou um pouco irritado com a confusão de carros às suas costas. O motorista precisou parar um pouco adiante, e ele teve que caminhar um bom pedaço de asfalto para chegar perto do canteiro. Estavam ali, independentes dele ou de qualquer outra pessoa que gostasse ou não delas: aquelas coisas vagamente redondas, de pétalas compridas e brancas agrupadas em torno dum centro amarelo, granuloso. Margaridas. Apanhou uma e colocou-a no bolso do paletó.

Diga-se em seu favor que, até esse momento, não premeditara absolutamente nada. Levou a margarida no bolso, esqueceu dela, subiu pelo elevador, cumprimentou as secretárias, trancou-se em sua sala. Como todos os dias, tentou fazer todas as coisas que todos os dias fazia. Não conseguiu. Tomou café, acendeu dois cigarros, esqueceu um no cinzeiro do lado direito, outro no cinzeiro do lado esquerdo, acendeu um terceiro, despediu três funcionários e passou uma descompostura na secretária. Foi só ao meio-dia que lembrou da margarida, no bolso do paletó. Estava meio informe e desfolhada, mas era ainda uma margarida. Sem saber exatamente por que, ficou pensando em algumas notícias que havia lido dias antes: o índice de suicídios nos países superdesenvolvidos, o asfalto invadindo as áreas verdes, a solidão, a dor, a poluição, a loucura e aquelas coisas sujas, perigosas e coloridas a que chamavam jovens. De repente, a luz. Brotou. Deu um grito:
—É isso!       
Chamou imediatamente um dos redatores para bolar um slogan e esqueceu de almoçar e telefonou para suas plantações e mandou que preparassem a terra para novo plantio e ordenou a um de seus braços-direitos que comprasse todos os pacotes de sementes encontráveis no mercado depois achou melhor importá-las dos mais variados tamanhos cores e feitios depois voltou atrás e achou melhor especializar-se justamente na mais banal de todas aquela vagamente redonda de pétalas brancas e miolo granuloso e conseguiu organizar em poucos minutos toda uma equipe altamente especializada e contratou novos funcionários e demitiu outros e precisou tomar uma bolinha para suportar o tempo todo o tempo todo tinha consciência da importância do jogo exaustou afundou noite adentro sem atender aos telefonemas da mulher ao lado da equipe batalhando não podia perder tempo quase à meia-noite tudo estava resolvido e a campanha seria lançada no dia seguinte não podia perder tempo comprou duas ou três gráficas para imprimir os cartazes e mandou as fábricas de latas acelerar sua produção precisava de milhões de unidades dentro de quinze dias prazo máximo porque não podia perder tempo e tudo pronto voltou pelo meio do aterro as margaridas fantasmagóricas reluzindo em branco entre o verde do aterro a cabeça quase estourando de prazer e a sensação nítida clara definida de não ter perdido tempo. Dormiu.

II

No dia seguinte, acordou mais cedo do que de costume e mandou o chofer rodar pela cidade. Os cartazes. As ruas cheias de cartazes, as pessoas meio espantadas, desceu, misturou-se com o povo, ouviu os comentários, olhou, olhou. Os cartazes. O fundo negro com uma margarida branca, redonda e amarela, destacada, nítida. Na parte inferior, o slogan:
Ponha uma margarida na sua fossa.
Sorriu. Ninguém entendia direito. Dúvidas. Suposições: um filme underground, uma campanha antitóxicos, um livro de denúncia. Ninguém entendia direito. Mas ele e sua equipe sabiam. Os jornais e revistas das duas semanas seguintes traziam textos, fotos, chamadas:
O índice de poluição dos rios é alarmante.

Não entre nessa.
Ponha uma margarida na sua fossa.
Ou
O asfalto ameaça o homem e as flores.

Cuidado.
Use uma margarida na sua fossa.

Ou
A alegria não é difícil.

Fique atento no seu canto.
Basta uma margarida na sua fossa.
Jingles. Programas de televisão. Horário nobre. Ibope. Procura desvairada de margaridas pelas praças e jardins. Não eram encontradas. Tinham desaparecido misteriosamente dos parques, lojas de flores, jardins particulares. Todos queriam margaridas. E não havia margaridas. As fossas aumentaram consideravelmente. O índice de alcoolismo subiu. A procura de drogas também. As chamadas continuavam.

O índice de suicídios no país aumentou em 50%.
Mantenha distância.

Há uma margarida na porta principal.

Contratos. Compositores. Cibernéticos. Informáticos. Escritores. Artistas plásticos. Comunicadores de massa. Cineastas. Rios de dinheiro corriam pelas folhas de pagamento. Ele sorria. Indo ou vindo pelo meio do aterro, mandava o motorista ligar o rádio e ficava ouvindo notícias sobre o surto de margaridite que assolava o país. Todos continuavam sem entender nada. Mas quinze dias depois: a explosão.

As prateleiras dos supermercados amanheceram repletas do novo produto. As pessoas faziam filas na caixa, nas portas, nas ruas. Compravam, compravam. As aulas foram suspensas. As repartições fecharam. O comércio fechou. Apenas os supermercados funcionavam sem parar. Consumiam. Consumavam. O novo produto:
margaridas cuidadosamente acondicionadas em latas, delicadas latas acrílicas. Margaridas gordas, saudáveis, coradas em sua profunda palidez. Mil utilidades: decoração, alimentação, vestuário, erotismo. Sucesso absoluto. Ele sorria. A barriga aumentava. Indo e vindo pelo aterro, mergulhado em verde, manhã e noite — ele sorria. Sociólogos do mundo inteiro vieram examinar de perto o fenômeno. Líderes feministas. Teóricos marxistas. Porcos chauvinistas. Artistas arrivistas. Milionários em férias. A margarida nacional foi aclamada como a melhor do mundo: mais uma vez a Europa se curvou ante o Brasil.
Em seguida começaram as negociações para exportação: a indústria expandiu-se de maneira incrível. Todos queriam trabalhar com margaridas enlatadas. Ele pontificava. Desquitou-se da mulher para ter casos rumorosos com atrizes em evidência. Conferências. Debates. Entrevistas. Tornou-se uma espécie de guru tropical. Comentava-se em rodinhas esotéricas que seus guias seriam remotos mercadores fenícios. Ele havia tornado feliz o seu país. Ele se sentia bom e útil e declarou uma vez na televisão que se julgava um homem realizado por poder dar amor aos outros. Declarou textualmente que o amor era o seu país. Comentou-se que estaria na sexta ou sétima grandeza. Místicos célebres escreviam ensaios onde o chamavam de mutante, iniciado, profeta da Era de Aquarius. Ele sorria. Indo e vindo. Até que um dia, abrindo uma revista, viu o anúncio:
Margarida já era, amizade.

Saca esta transa:
O barato é avenca.

III
Não demorou muito para que tudo desmoronasse. A margarida foi desmoralizada. Tripudiada. Desprestigiada. Não houve grandes problemas. Para ele, pelo menos. Mesmo os empregados, tiveram apenas o trabalho de mudar de firma, passando-se para a concorrente. O quente era a avenca. Ele já havia assegurado o seu futuro — comprara sítios, apartamentos, fazendas, tinha gordos depósitos bancários na Suíça. Arrasou com napalm as plantações deficitárias e precisou liquidar todo o estoque do produto a preços baixíssimos. Como ninguém comprasse, retirou-o de circulação e incinerou-o.
Só depois da incineração total é que lembrou que havia comprado todas as sementes de todas as margaridas. E que margarida era uma flor extinta. Foi no mesmo dia que pegou a mania de caminhar a pé pelo aterro, as mãos cruzadas atrás, rugas na testa. Uma manhã, bem de repente, uma manhã bem cedo, tão de repente quanto aquela outra, divisou um vulto em meio ao verde. O vulto veio se aproximando. Quando chegou bem perto, ele reconheceu sua ex-esposa.
Ele perguntou:
– Procura margaridas?
Ela respondeu:
– Já era.
Ele perguntou:
– Avencas?
Ela respondeu:
– Falou.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Chegou o Verão! Luís Fernando Veríssimo

Verão também é sinônimo de pouca roupa e muito chifre, pouca cintura
e muita gordura, pouco trabalho e muita micose.

Verão é picolé de Kisuco no palito reciclado, é milho cozido na água
da torneira, é coco verde aberto pra comer a gosminha branca.


Verão é prisão de ventre de uma semana e pé inchado que não entra no
tênis.

Mas o principal ponto do verão é.... A praia!

Ah, como é bela a praia.

Os cachorros fazem cocô e as crianças pegam pra fazer coleção.

Os casais jogam frescobol e acertam a bolinha na cabeça das véias.

Os jovens de jet ski atropelam os surfistas, que por sua vez, miram a
prancha pra abrir a cabeça dos banhistas.

O melhor programa pra quem vai à praia é chegar bem cedo, antes do
sorveteiro, quando o sol ainda está fraco e as famílias estão
chegando.

Muito bonito ver aquelas pessoas carregando vinte cadeiras, três
geladeiras de isopor, cinco guarda-sóis, raquete, frango, farofa,
toalha, bola, balde, chapéu e prancha, acreditando que estão de
férias.

Em menos de cinqüenta minutos, todos já estão instalados, besuntados
e prontos pra enterrar a avó na areia.

E as crianças? Ah, que gracinhas! Os bebês chorando de desidratação,
as crianças pequenas se socando por uma conchinha do mar, os
adolescentes ouvindo walkman enquanto dormem.

As mulheres também têm muita diversão na praia, como buscar o filho
afogado e caminhar vinte quilômetros pra encontrar o outro pé do
chinelo.

Já os homens ficam com as tarefas mais chatas, como furar a areia pra
fincar o cabo do guarda-sol.

É mais fácil achar petróleo do que conseguir fazer o guarda-sol ficar
em pé.

Mas tudo isso não conta, diante da alegria, da felicidade, da
maravilha que é entrar no mar!

Aquela água tão cristalina, que dá pra ver os cardumes de latinha de
cerveja no fundo.

Aquela sensação de boiar na salmoura como um pepino em conserva.

Depois de um belo banho de mar, com o rego cheio de sal e a periquita
cheia de areia, vem àquela vontade de fritar na chapa.

A gente abre a esteira velha, com o cheiro de velório de bode, bota o
chapéu, os óculos escuros e puxa um ronco bacaninha.

Isso é paz, isso é amor, isso é o absurdo do calor!!!!!

Mas, claro, tudo tem seu lado bom.

E à noite o sol vai embora.

Todo mundo volta pra casa tostado e vermelho como mortadela, toma
banho e deixa o sabonete cheio de areia pro próximo.

O shampoo acaba e a gente acaba lavando a cabeça com qualquer coisa,
desde creme de barbear até desinfetante de privada.

As toalhas, com aquele cheirinho de mofo que só a casa da praia
oferece.

Aí, uma bela macarronada pra entupir o bucho e uma dormidinha na rede
pra adquirir um bom torcicolo e ralar as costas queimadas.

O dia termina com uma boa rodada de tranca e uma briga em família.

Todo mundo vai dormir bêbado e emburrado, babando na fronha e
torcendo, pra que na manhã seguinte, faça aquele sol e todo mundo
possa se encontrar no mesmo inferno tropical...


 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

MENSAGEM DE NATAL


Para vocês que conviveram comigo todos os dias
Quero lhes fazer uma poesia
Agradecer-lhe pela amizade

Que só me traz felicidade.
Que o natal seja mais um marco
De todos os dias que vivemos
Tudo que já tivemos.
É mais um natal que festejamos
É mais um ano que chega ao final
É mais um desejo que celebramos
Afinal dividimos mais um natal.
Que seja de paz e alegria
Que seja repleto de harmonia
Que venha o ano abençoado
Que seja um ano iluminado.
Feliz Natal!


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

"Couro de Boi”-Palmeira e Biá


(Conheço um velho ditado que é do tempo do zagais, diz que um pai trata dez filho, dez filho não trata um pai)

 Sentindo o tempo dos anos sem pode mais trabalhar, o velho pião estradeiro com seu filho foi morar, o rapaz era casado e a muie deu de imprica, ou se manda o veio embora se não quiser que eu vá, o rapaz coração duro, com o velhinho foi falar.)


Para o senhor se mudar, meu pai eu vim lhe pedir, hoje aqui da minha casa, o senhor tem que sair.

Leve esse coro de boi, que eu acabei de curtir, pra lhe servir de coberta, aonde o senhor dormir.

O pobre veio calado, pegou o couro e saiu, seu neto de 8 anos, que aquela cena assistiu, correu atrás do avo, seu paletó sacudiu, metade daquele coro, chorando ele pediu.

O velhinho comovido, pra não ve o neto chorando, partiu o coro no meio e pro netinho foi dando.

O menino chegou em casa, seu pai foi lhe perguntando, pra que você quer esse couro, que seu avo ia levando.

Disse o menino ao pai, um dia vou me casar, o senhor vai ficar velho e comigo vem morar, pode ser que aconteça de nós não se combinar, essa metade de couro, vou da pro senhor levar.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

A moça e o Lobisomem - Leticia Pereira Vitor



Em uma noite de Lua cheia aconteceu uma grande festa na cidade.
Nesta festa, tinha muita gente dançando e se divertindo.
Um homem charmoso tirou uma moça bonita para dançar.
Conversaram bastante e, depois do baile, resolveram ir pra casa.
Quando passavam perto da Igreja, o relógio deu 12 badaladas, e esse homem começou virar lobisomem. A moça ficou desesperada e saiu correndo para o cemitério. Chegou lá, ficou olhando pra Lua cheia e fez um pedido:
– Lua cheia, com seu brilho que faz o bem, transforme o lobisomem em homem e nunca mais deixe isso acontecer!
Neste momento, a Lua começou a brilhar, e um brilho forte cobriu o lobisomem, que virou homem novamente e tudo ficou bem.
 
Autora: Letícia Pereira Vitor- Nascida em 3 de novembro de 2002.
 

Texto retirado do livro Kizomba literária na EMEF Profª Marili Dias / [Susete Aparecida Rodrigues Mendes organizadora]. — São Paulo : Páginas & Letras Editora e Gráfica, 2012. Vários autores. página 84


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Poema:"O Sonho" - Clarice Lispector


O sonho

Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passaram por suas vidas.


domingo, 25 de novembro de 2012

Carro fantasma numa fria noite de terror


Podíamos ver a silhueta de um adulto caminhando a beira da estrada com seu braço estirado e a mão entre aberta solicitando carona. Por algum motivo aquele homem estava ali implorando por uma carona que o levaria ao próximo vilarejo, não estava longe mas naquele momento qualquer ajuda seria benvinda.

Era uma noite tenebrosa de chuva fina que penetrava na alma, que o fazia tremer de frio, onde pelo clarão dos relâmpagos esse homem podia ver e sentir a força dos ventos, que chocalhavam os ramos das árvores que quase varriam o solo, era o caos.
Os poucos veículos que passavam negavam-se a parar.Os relâmpagos que riscavam o céu mostravam ainda mais a escuridão das nuvens que transformava aquele anoitecer em uma noite medonha, era o final.

O sujeito perdeu a confiança em si, o medo tomou conta de sua mente para enfrentar a tempestade, seu corpo congelava, seus acenos aos poucos veículos que passavam, transformaram-se em gestos de pânico.

Rezava alto, suplicava a todos os santos, jurou que seria o melhor homem do mundo, beijava sua medalhinha, cruzava os dedos, em pânico fazia promessas desesperadamente.


As árvores sacudiam e dançavam de um lado ao outro. Quando no meio do nada, escuridão total, aparece um veículo sem luzes aproximando-se lentamente, finalmente era a resposta divina.

O veículo caminhava vagarosamente aproximando-se ao seu lado, nem esperou o veículo parar, entrou rapidamente e ao fechar a porta, percebeu que o veículo continuava movendo-se lentamente, olhou ao condutor para agradecer-lhe e não viu ninguém. Sentiu seu coração disparar!

Começou a ouvir a voz divina, mas de tão longe, chegavam a ele em forma de gemidos, grunhidos e murmúrios que se confundiam pelo barulho dos ventos.

Sozinho e em pânico, o veículo sem condutor continuava lentamente o seu trajeto, rezava e olhava a sua frente desesperadamente, quando uma curva se aproximava lentamente.Rezava e rezava, imaginava o pior, sentiu tudo perdido, o veículo continuava caminhando lentamente, de repente antes da curva, entrou um braço pela janela e foi virando o veículo lentamente ao lado correto da estrada. A cena era aterradora e de tão frio, desesperado seus calafrios eram horripilantes. Sem entender nada, suas rezas eram atendidas prontamente como a força dos ventos e relâmpagos, pensava que sua salvação só poderia ser obra divina!

O veículo foi parando a margem da estrada. Aquele homem assustado com o milagre de suas preces, viu uma pequena luz a distância e a sua direita, desceu do veículo, correu como um louco, sem olhar para trás — em direção à aquela luz. Assustado bateu na porta, entrou e em pânico começou a relatar sua história de horror e angustia aos residentes.

Quando entram dois homens cansados e esbaforidos, sujos, molhados, o olham e dizem; aqui está o miserável que entrou em nosso carro enquanto o empurrávamos.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Um homem de consciência



O conto abaixo é de autoria de Monteiro Lobato, integra o livro “Cidades Mortas” e pertence à era pré-modernista da literatura brasileira.
Monteiro Lobato é nome de irrefutável destaque em obras relacionadas ao regionalismo e à denúncia da realidade brasileira. O texto reproduzido nesse post tem como personagem central um homem simples, do meio rural, que se defronta com os problemas ocorridos na região onde vive e não dá valor a si mesmo. Interessante crítica à inversão de valores e ao desprezo à moralidade que costumam ocorrer no Brasil.

Um homem de consciência"

Chamava-se João Teodoro, só. O mais pacato e modesto dos homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um defeito apenas: não dar o mínimo valor a si próprio. Para João Teodoro, a coisa de menos importância no mundo era João Teodoro.
Nunca fora nada na vida, nem admitia a hipótese de vir a ser alguma coisa. E por muito tempo não quis nem sequer o que todos ali queriam: mudar-se para terra melhor.
Mas João Teodoro acompanhava com aperto de coração o deperecimento visível de sua Itaoca.
 - Isto já foi muito melhor, dizia consigo. Já teve três médicos bem bons – agora só um e bem ruinzote. Já teve seis advogados e hoje mal dá serviço para um rábula ordinário como o Tenório. Nem circo de cavalinhos bate mais por aqui. A gente que presta se muda. Fica o restolho. Decididamente, a minha Itaoca está acabando…
João Teodoro entrou a incubar a idéia de também mudar-se, mas para isso necessitava dum fato qualquer que o convencesse de maneira absoluta de que Itaoca não tinha mesmo conserto ou arranjo possível.
 - É isso, deliberou lá por dentro. Quando eu verificar que tudo está perdido, que Itaoca não vale mais nada de nada de nada, então arrumo a trouxa e boto-me fora daqui.
Um dia aconteceu a grande novidade: a nomeação de João Teodoro para delegado. Nosso homem recebeu a notícia como se fosse uma porretada no crânio. Delegado, ele! Ele que não era nada, nunca fora nada, não queria ser nada, não se julgava capaz de nada…
Ser delegado numa cidadezinha daquelas é coisa seríssima. Não há cargo mais importante. É o homem que prende os outros, que solta, que manda dar sovas, que vai à capital falar com o governo. Uma coisa colossal ser delegado – e estava ele, João Teodoro, de-le-ga-do de Itaoca!…
João Teodoro caiu em meditação profunda. Passou a noite em claro, pensando e arrumando as malas. Pela madrugada, botou-as num burro, montou no seu cavalo magro e partiu.
 - Que é isso, João? Para onde se atira tão cedo, assim de armas e bagagens?
 - Vou-me embora, respondeu o retirante. Verifiquei que Itaoca chegou mesmo ao fim.
 - Mas, como? Agora que você está delegado?
 - Justamente por isso. Terra em que João Teodoro chega a delegado, eu não moro. Adeus.
E sumiu.”

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A canção dos homens -(Tolba Phanem)

                                    

                    

“Quando uma mulher, de certa tribo da África,
sabe que está grávida, segue para a selva com outras mulheres
e juntas rezam e meditam até que aparece a “canção da criança”.
 Quando nasce a criança, a comunidade se junta
e lhe cantam a sua canção.
 Logo, quando a criança começa sua educação,
o povo se junta e lhe cantam sua canção.
Quando se torna adulto, a gente se junta novamente e canta.
Quando chega o momento do seu casamento a pessoa escuta a sua canção.
Finalmente, quando sua alma está para ir-se deste mundo,
a família e amigos aproximam-se e,
igual como em seu nascimento,
cantam a sua canção para acompanhá-lo na "viagem".


"Nesta tribo da África há outra ocasião na qual os homens cantam a canção.
Se em algum momento da vida a pessoa comete um crime
ou um ato social aberrante, o levam até o centro do povoado
e a gente da  comunidade forma um círculo ao seu redor.
Então lhe cantam a sua canção".
"A tribo reconhece que a correção para as condutas
anti-sociais não é o castigo;
é o amor e a lembrança de sua verdadeira identidade.
Quando reconhecemos nossa própria canção
já não temos desejos nem necessidade de prejudicar ninguém."


"Teus amigos conhecem a "tua canção"
e a cantam quando a esqueces.
Aqueles que te amam não podem ser enganados pelos erros que cometes ou as escuras imagens que mostras aos demais.
Eles recordam tua beleza quando te sentes feio;
tua totalidade quando estás quebrado;
tua inocência quando te sentes culpado
e teu propósito quando estás confuso.“

(Tolba Phanem)

 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

31 DE OUTUBRO DIA DO SACI

Nós amamos o Saci e no mês de agosto inteiro comemoramos os vários personagens do folclore brasileiro e principalemnte o Saci. Fizemos leitura do  maravilhoso livro "Adormeceu a Margarida ?" de Heloisa Penteado  que tem várias personagens de nosso folclore, destacando-se o saci-pererê .

Respeitamos muito nossa cultura e ensinamos e aprendemos a respeitar as outras também, visto que somos um povo que surgiu de uma grande confluência, formado, a princípio, a partir de uma miscigenação, que foi a mistura de basicamente três “raças”: o índio, o branco e o negro.
O Saci-Pererê é uma lenda do folclore brasileiro e originou-se entre as tribos indígenas do sul do Brasil. Com a influência da mitologia AFRICANA, o saci se transformou em um negrinho que perdeu a perna lutando capoeira, além disso, herdou o pito, uma espécie de cachimbo, e ganhou da mitologia EUROPÉIA
um gorrinho vermelho...

AFINAL ...
...[“cultura” é um processo contínuo que tem capacidade de superar as visões apocalípticas, adaptando-se aos novos tempos, linguagens e formatos da sociedade.]

VIVA O DIA DA SACI!!!