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sábado, 13 de dezembro de 2014

ANÚNCIO DE ENTARDECER



Procura-se um sonho.
Ele andou fatiado de medos,
Iludiu-se, imiscuiu-se,
E chegou a flertar com a utopia.

Quem o encontrar,
Diz a ele que o perdoo por tudo.
Que o meu peito, em cicatrizes,
É hoje até mais bonito que antes.

Que aprendi que a força se desdobra
Em indizíveis fraquezas.
E que enquanto ainda chorava de inércia
Meus olhos colheram do sol
A força de desabrochar o meu mundo.

Diz que a solidão me consome os espaços.
E a vizinhança inteira me ouviu a gritar por seu nome.
Diz que sangro a sua ausência
E os seus silêncios me transbordam.
Diz ao meu sonho que ele venceu.
A minh’ alma não se vendeu.



Nara Rúbia Ribeiro
Escritora, advogada e professora universitária.
Escreve poemas e contos.
Administradora da página oficial do escritor moçambicano Mia Couto.
No Facebook:
Escritos de Nara Rúbia Ribeiro

domingo, 12 de outubro de 2014

Manuel Bandeira, "O Bicho" (1947)



Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.
                                                 
         

segunda-feira, 30 de junho de 2014

INSTANTES



"Se eu pudesse viver novamente a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido, na verdade
bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico, correria mais riscos, viajaria mais,
contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas,
nadaria em mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha,
teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveram sensata e produtivamente
cada minuto da sua vida; claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.
Porque se não sabem, disso é feito a vida, só de momentos.
Não percam o agora.
Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e
continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,
contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, como sabem, tenho 85 anos
e sei que estou morrendo."

As mensagens do poema "Instantes" são belíssimas,  foi escrito por Nadine Stair. Outros afirmam que existe uma publicação desse poema na Seleções Reader's Digest de outubro de 1953, do escritor e humorista Don Herold (1889-1966). Acho que, como humorista, ele deve estar rindo no céu, vendo a confusão que seu poema foi capaz de causar nesta Terra.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

RESPOSTA DE UM NEGRO



Mesquinhez, sim é mesquinhez!




falar de negros como se não fora gente,



porque embora com a epiderme negra,



é como o branco que tem alma e sente.





Fala língua! Porque tu és carne



por isso mesmo hás de perecer,



ficando a alma imortal sem cor,



que os nossos olhos não a podem ver.





A pele é negra, sim, esta nós vemos,



porém apenas distingue a raça;



com a pele negra posso ter por dento,



um'alma branca como o é a garça.





Embora negra seja a minha pele,



meu interior é alvo como o lírio,



por isso quando depreciam a um negro,



saio sorrindo sem sofrer martírio.





Sou negro sim, disto me orgulho,



meu sangue é puro, é sangue varonil,



se meu país é grande e valoroso,



se deve ao negro isto que é o BRASIL.





O negro é forte resiste às intempéries,



chuva, sol, sereno, frio, calor,



trabalha sempre sem cansar os braços,



porque o negro trabalha por amor.





Por amor, sim, amor à liberdade



que lhe fora devolvida um dia,



pela Princesa que assinou a LEI,



chamada ÁUREA, a Lei da Alforria.





De Joelson Araújo Matos Itabuna - BA - por correio eletrônico
http://www.mundojovem.pucrs.br/