Um pouco antes de chegar em casa, Carlinhos percebeu
que havia algo estranho no ar, o ar parecia carregado de
energia negativa.
Abriu a porta com cuidado e entrou. Logo percebeu o
motivo. Seus pais o esperavam sentado no sofá com cara de poucos
amigos. Mal entrou, seu pai já começou a falar:
– Muito bem! Parece que você nos deve uma explicação, rapazinho! Sua professora nos chamou até a escola para
falar do seu desinteresse pelos estudos. Poderia nos explicar o
porquê do
seu desinteresse?
Carlinhos sentou-se junto deles e resolveu ser o mais
sincero possível.
– Eu não sei, pai: apenas não consigo mais gostar de
estudar,
tento prestar atenção, mas a aula sempre parece chata,
por mais que eu me esforce, não consigo aprender.
Sua mãe triste comentou com voz de choro:
– Como pode, filho? Você sempre foi um excelente aluno,
o melhor da sala e, de repente, você fica assim, desinteressado
pelos estudos! Deve haver uma explicação.
– Mãe, simplesmente não sei o que se passa comigo,
tento me interessar, me esforço pra lembrar as tarefas que a
pede pra fazer em casa, mas, quando me lembro, já é tarde demais
e acabo não fazendo. Prometo que vou me esforçar.
Subiu para seu quarto triste e cabisbaixo. Na verdade,
não se interessava pela escola e não entendia o porquê. Depois
de pensar muito, resolveu descer e jantar. Todos fizeram a
refeição em silêncio.
Seu pai foi para a sala assistir ao jornal, enquanto
sua mãe foi lavar a louça do jantar.
Carlinhos foi até a praça, sentou-se num banco e ficou observando um grupo de crianças que brincavam de roda,
felizes e despreocupadas. Como eram felizes! Ainda não estavam na
idade de ir para a escola. Ainda bem, pensou. Tomara que,
quando chegar o dia de essas crianças frequentarem a escola, não
passem pelo mesmo problema.
Carlinhos sempre gostou tanto de estudar e estava numa situação tão difícil e sem explicação. Voltou para casa
e, ao se deitar, viu através da janela aberta uma estrela
cadente e fez um pedido.
– Estrela cadente, desejo do fundo do meu coração
voltar a ser um garoto estudioso. Pediu com muita fé e depois
adormeceu.
De madrugada, acordou com uma voz doce e meiga. Abriu os olhos e viu uma pequena fada que iluminava o quarto
todo com sua luz. Carlinhos pensou que talvez estivesse sonhando
e, mesmo
assim, perguntou:
– Quem é você? O que faz aqui?
– Meu nome é Fada da Luz e vim para atender ao seu
pedido.
Carlinhos ficou muito feliz.
– Que bom! O que você fará?
– Bom, durante cinco dias consecutivos lhe farei
perguntas diferentes para as quais esperarei respostas à noite. A
primeira pergunta é esta: quem foi Albert Einstein?
– Sei lá! – respondeu Carlinhos.
– Não precisa responder agora, amanhã à noite voltarei
para saber a resposta.
Após falar isso, desapareceu. Carlinhos levantou bem cedinho, seus pais já tinha ido
trabalhar. Olhou nos livros da estante da sala e não
encontrou nada sobre Albert Einstein. Foi para a escola e, quando lá
chegou, foi logo perguntando para o seu professor de Ciências que
lhe
respondeu:
– Este gênio do século XX teve uma infância solitária.
Gostava de ler e ouvir música, não se identificando com as
brincadeiras praticadas pelas outras crianças. Einstein sempre
demonstrou grande
habilidade para a compreensão dos conceitos
matemáticos. Com 12 anos, aprendeu sozinho geometria euclidiana e,
quando se mudou para Milão, em 1894, Einstein fez a leitura de inúmeros
livros de
Ciências. Einstein sempre foi crítico dos métodos de
ensino das escolas e, apesar de ter fraco resultado escolar,
Einstein tinha uma enorme curiosidade em compreender o Universo.
Apresentou uma
postura autodidata, afirmando que “preferiria suportar
qualquer coisa ou castigo a ter que papaguear as coisas
aprendidas, e autoclassificava-se como “livre-pensador fanático”. Por
que quer
saber, Carlinhos?
– Por nada, professor; era só curiosidade.
Na madrugada, a fada chegou e perguntou-lhe a resposta.
Carlinhos respondeu com perfeição e entusiasmo.
– Muito bem, agora vamos à próxima pergunta: quem foi
Rui Barbosa? Voltarei amanhã novamente.
E desapareceu como da outra vez.
No dia seguinte, Carlinhos encontrou a resposta no
livro de escola e descobriu que Rui Barbosa era dotado de uma memória
privilegiada, acrescida de uma curiosidade intelectual
insaciável, seus hábitos da leitura e da escrita foram se incorporando à
sua vida de tal maneira que mesmo as horas de lazer eram dedicadas
aos livros;
anotava e assinalava verbetes e assuntos, fixava ideias
e frases, elaborava bibliografias, tudo que lhe interessasse e de
que um dia viesse a precisar. Esse hábito, ele o desenvolveu ao
longo da vida;
ajudou a exercitar sua memória e duplicou sua
capacidade de trabalho. Quanto mais lia, mais impressionado ficava e,
à noite, quando a fada apareceu, Carlinhos a esperava acordado e
lhe mostrava o resultado da pesquisa. Muito contente,
recebeu os parabéns da fada. A próxima pergunta foi sobre Machado
de Assis. Pulou cedo no dia seguinte e, depois da aula, voltou
até a biblioteca, onde obteve rapidamente a resposta
desejada. Descobriu que Joaquim Maria Machado de Assis era um descendente
de
escravos, seu pai trabalhava como pintor de paredes e a
mãe, portuguesa, morreu quando ele tinha dez anos. Descobriu
também que ele não teve educação formal, pois teve que começar
trabalhar cedo para ajudar a família. Aprendeu a falar francês
com um padeiro, já alemão e inglês aprendeu estudando sozinho. Achou
engraçado, porque, assim como ele, o escritor também tinha uma
caligrafia ruim que, às vezes, até ele tinha dificuldade de
entender o que escrevia. Ficou perplexo ao saber que Machado de Assis
era gago e tinha epilepsia. Como das outras vezes, à noite a fada
ouviu sobre a pesquisa. E fez a última pergunta:
– Quem foi Carlos Drummond de Andrade?
De manhã, Carlinhos foi até a biblioteca municipal e,
depois de algum tempo, encontrou a resposta. Ficou surpreso ao
descobrir que este grande escritor, aos 17 anos, tinha sido
expulso do Colégio
Anchieta, em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, depois
de um desentendimento com o professor de Português. Tinha a
mania de picotar papel e tecidos.
Carlinhos aproveitou para pegar emprestados alguns
livros na biblioteca, coisa que não fazia há muito tempo. À
noite, a fada voltou e, depois de ouvir Carlinhos falar sobre Carlos
Drummond de Andrade com entusiasmo que não se via há tempos,
despediu-se.
Antes, porém, Carlinhos perguntou-lhe:
– Nossa, como você conseguiu fazer com que eu me interessasse pelos estudos novamente?
– Através destas pesquisas, você deve ter observado que
todos tinham algo em comum, a determinação para ter sucesso,
revelando acima de tudo sentimentos de medo, depressão e solidão, desinteresse pelas coisas ensinadas de forma comum,
mas, e apesar disso, superaram suas dificuldades e conquistaram o
mundo! Você só precisava de incentivo. O conhecimento é o pão que
alimenta nosso espírito. Estude bastante, dedique-se e será
feliz!
Graças à Fada da Luz, Carlinhos estudou muito e se
tornou um mestre da Língua Portuguesa. E resolveu escrever um
livro sobre um menino que conheceu uma linda fada que iluminou a
sua vida.
Meir Almeida Alves Machado nasceu em Ipuã, cidade do interior de São Paulo, no dia 31 de agosto de 1966. Aos 45 anos de idade,
publicou seu primeiro livro As aventuras de Samuca e sua turma, pela Biblioteca 24 horas, realizando seu sonho de infância.