Depois
de sete meses como Diretora de escola, percebo que a construção de uma gestão
democrática, não se faz apenas com minhas boas intenções e boa vontade, uma vez
que deve ser discutida, compreendida e exercida, principalmente exercida, pelos
estudantes, funcionários, professores, pais e mães de estudantes e ainda por
toda comunidade do entorno. O trabalho é árduo e de longo prazo, pois se é
verdadeira a afirmação de que para concretizar a gestão democrática, é
fundamental a participação de todos os envolvidos no processo educativo, tanto
na tomada de decisão, como no compartilhamento do poder; a reflexão, debate e
pratica dela, deve ser naturalmente importante para todos. Mas, pergunto-me com
frequência - Como afetá-los, sensibilizá-los?
Tenho
vivido dias difíceis, pois, em algumas falas e atitudes de estudantes, pais de
estudantes, professores e funcionários, percebe-se que muito do que está sendo
feito, dito e combinado não tem importância ou significado para eles. Diante de
comportamentos de negação as normas de convivência, como desrespeito ao próximo
(bullyng, agressões verbais e físicas) e ao patrimônio público (pichação e
depredação), muitos pedem ações opressoras, vigilância agressiva, muros altos,
portas fechadas e câmeras espalhadas por todo canto da escola, entendendo essas
ações como garantia do direito do professor ensinar e do aluno aprender. Quando
chamados para o debate em encontros e eventos promovidos pela escola com o fim
de resgatar os objetivos educacionais e revitalizar o espaço escolar, ainda poucos comparecem. E mais uma vez, me pergunto - Como envolve-los?
Quero
e acredito numa escola sem muros, onde todos, professores, alunos,
funcionários, gestores sintam prazer de estar e ficar; onde o respeito mútuo
predomine e as atitudes de cooperação, solidariedade sejam praticadas
naturalmente, pois, somente num lugar assim, será possível a democratização da educação,
possibilitando não só o acesso e permanência de todos no processo educativo, mas
também o sucesso escolar, o qual será reflexo de sua qualidade.
É
triste que dentre tantas ações, após uma proposta de gestão democrática, nestes
sete meses, ainda não tenha visualizado nenhuma que pudesse concretizar uma
educação na qual predomine o diálogo e articulação colaborativa entre corpo
docente, grupo gestor, funcionários, alunos e comunidade para o alcance dos
objetivos educacionais. E mais triste ainda, constatar que no Séc. XXI com o
fácil acesso a todo tipo de informações, a escola e a própria sociedade ainda
não tenha entendido que o professor não tem mais o papel de “informar”, mas, de
“formar” e portanto, faz-se necessário mudança de postura, estratégias de
ensino, nas quais, sejam privilegiadas a formação global dos estudantes. É
certo que avançamos na atuação dos colegiados, dando voz aos professores,
alunos e comunidade, isto identifico como as “delicias” da gestão democrática, mas
ainda temos dias nebulosos.
Optei
pela transparência nas ações do grupo gestor, a começar pelo uso responsável
das verbas públicas recebidas pela escola, pois acredito que a sua existência
pressupõe a construção de um espaço público forte e aberto às diversidades de
opiniões, contemplando a participação de todos que estão envolvidos com a
escola.
Estou
enfrentando a conflituosa realidade do corpo docente, o qual ainda está em
processo de amadurecimento de uma postura de “reconhecimento da
existência de diferenças de identidade e de interesses que convivem no interior
da escola e que sustentam, através do debate e do conflito de ideias, o próprio
processo democrático” (ARAÚJO, 2000 p. 134).
Pode-se
perceber a dura e difícil tarefa que o Gestor tem que enfrentar no seu dia a
dia, no sentido de promover e realizar ações educacionais que interfiram nesse
quadro negativo e que efetive a educação de qualidade como direito do cidadão.
Para mim a Gestão Democrática é uma meta que para ser alcançada deve ser
avaliada, reorganizada e aprimorada diariamente, num longo percurso, o qual
provavelmente, não poderei percorrer enquanto Diretora, porque em breve, terei
de deixar a Direção, mas, talvez possa contribuir como educadora. Enquanto
isso, prossigo na tentativa de encontrar respostas para as questões aqui
levantadas, como também para outras que virão junto com as respostas.
No ápice das emoções, os trabalhos até aqui realizados me dão
muito orgulho, pois sei que propiciei para professores e alunos alegria e
esperança para construir uma escola de qualidade, claro que não fiz isso
sozinha, estou sendo muito bem assistida pelas Assistentes de Direção e
Coordenadoras Pedagógicas, porém sei que isso é só o primeiro passo diante de
muitos outros que são e serão necessários para a escola que queremos.
Professora Susete Aparecida Rodrigues Mendes
São Paulo, 01 de outubro de 2016.