sábado, 1 de outubro de 2016

As dores e as delícias da Gestão Democrática- Professora Susete Mendes


Depois de sete meses como Diretora de escola, percebo que a construção de uma gestão democrática, não se faz apenas com minhas boas intenções e boa vontade, uma vez que deve ser discutida, compreendida e exercida, principalmente exercida, pelos estudantes, funcionários, professores, pais e mães de estudantes e ainda por toda comunidade do entorno. O trabalho é árduo e de longo prazo, pois se é verdadeira a afirmação de que para concretizar a gestão democrática, é fundamental a participação de todos os envolvidos no processo educativo, tanto na tomada de decisão, como no compartilhamento do poder; a reflexão, debate e pratica dela, deve ser naturalmente importante para todos. Mas, pergunto-me com frequência - Como afetá-los, sensibilizá-los?

Tenho vivido dias difíceis, pois, em algumas falas e atitudes de estudantes, pais de estudantes, professores e funcionários, percebe-se que muito do que está sendo feito, dito e combinado não tem importância ou significado para eles. Diante de comportamentos de negação as normas de convivência, como desrespeito ao próximo (bullyng, agressões verbais e físicas) e ao patrimônio público (pichação e depredação), muitos pedem ações opressoras, vigilância agressiva, muros altos, portas fechadas e câmeras espalhadas por todo canto da escola, entendendo essas ações como garantia do direito do professor ensinar e do aluno aprender. Quando chamados para o debate em encontros e eventos promovidos pela escola com o fim de resgatar os objetivos educacionais e revitalizar o espaço escolar, ainda poucos comparecem. E mais uma vez, me pergunto - Como envolve-los?

Quero e acredito numa escola sem muros, onde todos, professores, alunos, funcionários, gestores sintam prazer de estar e ficar; onde o respeito mútuo predomine e as atitudes de cooperação, solidariedade sejam praticadas naturalmente, pois, somente num lugar assim, será possível a democratização da educação, possibilitando não só o acesso e permanência de todos no processo educativo, mas também o sucesso escolar, o qual será reflexo de sua qualidade.
É triste que dentre tantas ações, após uma proposta de gestão democrática, nestes sete meses, ainda não tenha visualizado nenhuma que pudesse concretizar uma educação na qual predomine o diálogo e articulação colaborativa entre corpo docente, grupo gestor, funcionários, alunos e comunidade para o alcance dos objetivos educacionais. E mais triste ainda, constatar que no Séc. XXI com o fácil acesso a todo tipo de informações, a escola e a própria sociedade ainda não tenha entendido que o professor não tem mais o papel de “informar”, mas, de “formar” e portanto, faz-se necessário mudança de postura, estratégias de ensino, nas quais, sejam privilegiadas a formação global dos estudantes. É certo que avançamos na atuação dos colegiados, dando voz aos professores, alunos e comunidade, isto identifico como as “delicias” da gestão democrática, mas ainda temos dias nebulosos.


Optei pela transparência nas ações do grupo gestor, a começar pelo uso responsável das verbas públicas recebidas pela escola, pois acredito que a sua existência pressupõe a construção de um espaço público forte e aberto às diversidades de opiniões, contemplando a participação de todos que estão envolvidos com a escola.
Estou enfrentando a conflituosa realidade do corpo docente, o qual ainda está em processo de amadurecimento de uma postura de “reconhecimento da existência de diferenças de identidade e de interesses que convivem no interior da escola e que sustentam, através do debate e do conflito de ideias, o próprio processo democrático” (ARAÚJO, 2000 p. 134).
Pode-se perceber a dura e difícil tarefa que o Gestor tem que enfrentar no seu dia a dia, no sentido de promover e realizar ações educacionais que interfiram nesse quadro negativo e que efetive a educação de qualidade como direito do cidadão. Para mim a Gestão Democrática é uma meta que para ser alcançada deve ser avaliada, reorganizada e aprimorada diariamente, num longo percurso, o qual provavelmente, não poderei percorrer enquanto Diretora, porque em breve, terei de deixar a Direção, mas, talvez possa contribuir como educadora. Enquanto isso, prossigo na tentativa de encontrar respostas para as questões aqui levantadas, como também para outras que virão junto com as respostas.
No ápice das emoções, os trabalhos até aqui realizados me dão muito orgulho, pois sei que propiciei para professores e alunos alegria e esperança para construir uma escola de qualidade, claro que não fiz isso sozinha, estou sendo muito bem assistida pelas Assistentes de Direção e Coordenadoras Pedagógicas, porém sei que isso é só o primeiro passo diante de muitos outros que são e serão necessários para a escola que queremos.

Professora Susete Aparecida Rodrigues Mendes
São Paulo, 01 de outubro de 2016.



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