Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.
Este poema
escrito em 1963 ( ano em que eu nasci), pode ser analisado a partir de
diferentes leituras as quais são influenciadas pelo cotidiano vivenciado por
cada leitor;assim como, pelo olhar crítico e outros conhecimentos daqueles que
tem formação técnica para tal análise. Embora escrito em 1963, mais de cinco décadas, expressa muito
bem a realidade que estamos vivendo, de uma sociedade pobre , com um mercado de
trabalho em crise e uma economia estagnada.
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