Depois dos
cinquenta anos, vivendo uma crise existencial, deparei-me com o poema TRADUZIR-SE de
Ferreira Gullar e percebi que nós todos, seres humanos estamos mergulhados em
redes de significados simbólicos, criados por nós mesmos, os quais acabam nos
dando sentimentos de identidade. Sabemos (ou não) contudo, que tais
significados nos faz perceber como pessoas que representam papéis determinados pelo
avanço impetuoso da modernidade, revelando-se o único caminho para buscarmos
sentido para nossas vidas. Neste poema Ferreira Gullar se
identifica com todo mundo, é parte integrante da humanidade, conhecida pelos
outros e por ele mesmo, outra parte dele é ninguém; isto é, desconhecida, sem
identidade, que não se traduz.
Na verdade, a crise de identidade é geral para toda sociedade, uma vez que
temos que lidar com a exclusão , rejeição , bem como com a
insegurança e a incerteza quanto ao futuro.
TRADUZIR-SE
Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?
Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?
Nenhum comentário:
Postar um comentário